sexta-feira, 21 de junho de 2013

A arte de abrir mão

"Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial."


Rubem Alves

Sobre Protestos e Alternativas

Protesto não deve ser apenas a política da denúncia. Ao contrário, deve mostrar o caminho para a transformação pessoal e social. O poder do protesto não está em sua raiva, mas em seu convite. A prova do protesto é se ele aponta e abre o caminho para mudança ou simplesmente denuncia o estado atual. Quando o protesto é algo tanto instrutivo como construtivo na sociedade, ele torna-se algo com o qual é preciso lidar, e não apenas algo que deve ser meramente contido.(...)

Nós nunca devemos ficar satisfeitos com o mero protesto ou reclamação sobre as coisas que acreditamos estarem erradas. Pelo contrário, devemos fazer o trabalho mais difícil, mais criativo e, em última instância, mais profético, de encontrar e oferecer alternativas (...).

A mudança clara do protesto às alternativas poderia alterar o quadro político do debate. Protesto e manifestantes são facilmente anulados. Ainda que a tradição nobre e necessária de protesto cidadão deve, naturalmente, continuar, ela deve sempre apontar na direção de conectar concretamente alternativas políticas viáveis que realmente podem resolver os problemas diante de nós. Oferecer prognósticos promissores é o que há de melhor em nossas tradições de dissidência e protesto. Dizer "sim", e não apenas "não", dá aos líderes políticos algo para considerado e debatido, e não apenas algo para deter. E alternativas oferecem aos cidadãos algo para defender e não apenas algo para se opor. A alternativa política traz mais energia e possibilidades para o debate público do que a oposição política pode por si só. Ser "a favor de" é simplesmente melhor do que apenas ser "contra". E isso, em última análise, será mais bem sucedido.


Jim Wallis, cristão ativista político e autor de muitos livros, dentre eles God's Politics (A Política de Deus) e The Great Awakening: Reviving Faith and Politics in a Post-Religious Right America (O Grande Avivamento: Revivendo Fé e Política na América Pós-Direita Religiosa).

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Um pouco de James K.A. Smith

"Nada é tão importante para nossa caminhada com o Senhor, como bons amigos. Penso que Deus nos dá bons amigos como sacramentos - meios de graça concedidos a nós como indicadores da presença de Deus e canais para nossa santificação… Nada dá continuidade a Encarnação como a amizade cristã."

"Como qualquer aspecto do discipulado cristão, a peregrinação da fé nunca deve ser um assunto privado e solitário."

"Nada é mais importante para o discipulado e a maturidade teológica do que bons amigos." 


James K.A. Smith em Letters to a Young Calvinist

terça-feira, 4 de junho de 2013

Palavra de Grande Inquisidor


“De tudo o que Dostoievski escreveu em Os Irmãos Karamazov o que mais me impressionou foi o incidente do “Grande Inquisidor”. É assim: Jesus havia voltado à terra e andava incógnito entre as pessoas Todos o reconheciam e sentiam o seu poder, mas ninguém se atrevia a pronunciar o seu nome. Não era necessário. De longe o Grande Inquisidor o observa no meio da multidão e ordena que ele seja preso e trazido à sua presença.. Então, diante do prisioneiro silencioso, ele profere a sua acusação.
“Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível. Em lugar de pacificar a consciência humana, de uma vez por todas, mediante sólidos princípios, Tu lhe ofereceste o que há de mais estranho, de mais enigmático, de mais indeterminado, tudo o que ultrapassava as forças humanas: a liberdade. Agiste, pois, como se não amasses os homens... Em vez de Te apoderares da liberdade humana, Tu a multiplicaste, e assim fazendo, envenenaste com tormentos a vida do homem, para toda a eternidade...”

O Grande Inquisidor estava certo.Ele conhecia o coração dos homens. Os homens dizem amar a liberdade, mas, de posse dela, são tomados por um grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade dá medo. Os homens são pássaros que amam o vôo, mas têm medo dos abismos. Por isso abandonam o vôo e se trancam em gaiolas.”

“Somos assim:sonhamos o vôo mas tememos a altura . Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde onde as certezas moram.

É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas estivessem abertas. A verdade é oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas aos vôos. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam...”

“Deus dá a nostalgia pelo vôo.

As religiões constroem gaiolas”

“Os hereges são aqueles que odeiam as gaiolas e abrem as suas portas para que o Pássaro Encantado voe livre. Esse pecado, abrir as portas das gaiolas para que o Pássaro voe livre, não tem perdão. O seu destino é a fogueira. Palavra do Grande Inquisidor”


Rubem Alves

Correio Popular

22/05/05
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