terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Um pouco de Bonhoeffer

"Eu creio que devemos amar a Deus nesta vida e em tudo que Ele nos outorga de bem, de maneira que com confiança estejamos prontos a ir ao Seu encontro - mas também só quando chegar a hora - com o mesmo amor e a mesma alegria. Para expressá-lo mais claramente, que um homem que se acha nos braços da amada esposa sinta saudade do além, é sem gosto e menos ainda vontade de Deus. Devemos achar e amar a Deus exatamente naquilo que Ele nos dá no momento. Se aprover a Deus conceder-nos uma felicidade intensa e terrena, não queiramos ser mais divinos e mais piedosos que Ele e minar essa felicidade com pensamentos arrogantes e provocações resultantes de uma fantasia religiosa fanatizada que jamais se satisfaz com o que Deus concede. Aquele que achar a Deus sua felicidade terrena e lhe agradecer, também não deixará de oferecer horas nas quais se há de lembrar de que o terreno é sempre passageiro e que é bom acostumar-se o coração à ideia da eternidade. Afinal também chegará o hora em que todos poderemos dizer sinceramente: "quisera que estivesse já em casa..." Mas tudo isso tem seu tempo próprio,e continua sendo o principal que se mantenha passo com Deus e não pretender ir adiante dEle por alguns passos, nem tampouco se deve ficar para trás."


Dietrich Bonhoeffer em Resistência e Submissão

Uma pipa e o vento

O vento passou e deixou arrepio 
Mas não digo que, Ele é passado, 
Pois, da pele, me lembra cada fio
Que sua presença ainda se faz sentir.
Sou como pipa, guiado pelo vento
Com outras, fico colorindo o céu
Se não voar, a pipa deve virar réu,
Já que o papel da pipa é voar
E esse Sopro, esse Vento cálido,
Enche a terra com hálito de vida
Tolo, sem graça, é quem duvida
Morto, pois só respira o nada
Às vezes, quero amarrar o Vento,
Pois me angustia o parar de ventar
Todo tipo de cerimônia eu tento
Inútil, Ele "sopra onde quer"
Doce vento, bondoso e livre
Tenha piedade dessa pobre pipa
Guia-me, fazer-me voar Contigo
E da queda eterna me livre.



Flávio Américo

When You Called My Name

"Quando Você chamou meu nome
Eu não sabia o quão longe ia o chamado
Quando Você chamou meu nome
Eu não sabia o que aquela palavra realmente significava
Quando me lembro do Seu chamado
Sinto-me tão pequeno
Senhor, o que você viu
Quando me chamou?
Começo a perder o ânimo
E então acontece de novo
Sou erguido do desespero
Pelas orações de alguém
Erguido do desespero
Pelas orações de alguém..."


When You Called My Name, Newsboys

Could It Be

No fluxo e refluxo da vida
Ao vagarmos pelos anos
Nos é dito para ouvir uma voz
Que não podemos ouvir com os nossos ouvidos
Dizem para viver por algo
Que você não pode ver com seus olhos
Existe realmente alguma finalidade
Para este exercício tolo?

Poderia ser que Você torna a Sua presença conhecida
Tão frequentemente por meio de Sua ausência?
Poderia ser que as perguntas nos dizem mais
Do que as respostas jamais dirão?
Poderia ser que Você realmente preferiria morrer
Do que viver sem nós?
Poderia ser que a única resposta que significa alguma coisa
Seja Você?

Em nossas palavras e em nosso silêncio
Em nosso orgulho e em nossa vergonha
Para o gênio e o estudioso
Para o tolo e insano
Para aqueles que se importam em buscá-lo
Para aqueles que nunca o farão
Você é a única resposta, mesmo assim

É uma pergunta que não posso responder
Uma resposta que você não pode expressar
Que o homem gentil de dores
Seja a fonte da felicidade
Você nunca resolverá o mistério
Deste homem magnético
Por que você deve acreditar para entender

Poderia ser que Você torna a Sua presença conhecida
Tão frequentemente por meio de Sua ausência?
Poderia ser que as perguntas nos dizem mais
Do que as respostas jamais dirão?
Poderia ser que Você realmente preferiria morrer
Do que viver sem nós?
Poderia ser que a única resposta que significa alguma coisa
Seja Você?


Michael Card, Could It Be

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Os "se(s)" das Bodas de Caná

Foi num casamento em Caná, um lugar da Galiléia, que devia ser muito parecida com as favelas de hoje, que Jesus fez o primeiro milagre registrado, e, cujo único propósito foi fazer um casal feliz. E, para isso, muitas lacunas tiveram de ser preenchidas, lacunas que chamo de os “ses” do casamento em Caná.

E se no casamento em Caná…
Jesus não tivesse sido convidado?

A vida transcorreria, mas restrita ao plano (a), sem lugar para alternativas, porque a lei da impossibilidade só pode ser vencida pelo milagre!

E se no casamento em Caná…
Jesus nao tivesse aceito ao convite?

A festa teria acabado mais cedo e em tom de frustração.

Jesus ter aceito o convite foi o que tornou a festa especial, porque onde Jesus está tudo pode recomeçar, e é a vida e não a morte que passa a dar a palavra final. Que bom que Jesus aceita convite para ir a casamentos, mesmo que já tenham sido celebrados, ele vai, e a alegria é retomada. Que bom que há convites que Jesus aceita! Aliás, a gente só deveria participar de situações e locais, em que Jesus pudesse ser convidado a participar.

E se no casamento em Caná…
Maria não fosse até Jesus?

Jesus, provavelmente, só o saberia quando todos o soubessem e, ainda que interferisse, não poderia fazer muito em relação ao vexame a que os noivos seriam expostos. O ato de Maria poupou os noivos da provável exposição pública, intercessão tem de ser assim, para abençoar e não para expor.

E se no casamento em Caná…
Jesus não fosse movido pela graça?

Ainda não era o tempo de Jesus se expor ao seu povo, e nem era tempo de Maria ver o seu sacrifício explicado. Mas Jesus levou em conta a angústia dos noivos, e o que Jesus não podia fazer por meio da lei o pode por meio da graça. Tudo deve ser levado a Jesus, porque ele conta com as infindas possibilidades da graça.

E se no casamento em Caná…
Jesus nao achasse festa importante?

Jesus fez um milagre para a festa não acabar, e para poupar os noivos do vexame; ainda bem que o bem estar dos noivos era precioso para o Cristo, ainda bem que a glória do Deus passa pela realização humana, porque o bom criador se alegra com a alegria de suas criaturas.

E se no casamento em Caná…
Maria não fosse respeitada pelos vizinhos?

José, pai adotivo de Jesus cuidou muito bem de Maria, de modo que ao invés de permanecer sob o estigma de pecadora, por ter engravidado antes do casamento, ainda que por milagre de Deus, tornou-se respeitada pelos vizinhos, o que lhe deu autoridade para orientar os garçons. Que papel admirável José desempenhou! A gente protege alguém quando faz a sua dignidade ser preservada.

E se no casamento em Caná…
Maria não soubesse de Jesus?

Maria só pode dizer o que disse aos garçons, 1º porque sabia do poder dado a Jesus, talvez, já o tivesse visto em ação, e, também, porque sabia do amor de Jesus pelas pessoas. Saber do Cristo é saber de suas possibilidades por causa da bondade de seu caráter. por isso vale a pena orar!

E se no casamento em Caná… 
Os garçons não atendessem a Jesus?

A obediência dos garçons ofereceu a matéria prima para o milagre. O que Jesus lhes pediu era sem sentido, as pessoas já tinham lavado as mãos para comer, não havia mais necessidade de água. Eles, certamente, não compreendiam a razão para encher as talhas, mas Jesus sabia que milagre estava realizando. Atender a Jesus é sempre participar de um milagre, para além da nossa compreensão.

E se no casamento em Caná…
Jesus não tivesse agido como salvador?

Jesus poderia ter feito qualquer gesto para transformar a água em vinho, mas não o fez, se o fizesse teria exposto aos noivos, mas Jesus não veio para esmagar a cana quebrada, mas para restaurá-la. O importante para Jesus não era que as pessoas soubessem do seu poder, mas que os noivos soubessem do seu amor – colocou os noivos antes do ministério, ele estava ali para beneficiá-los, não para beneficiar-se de sua situação e carência; e assim devem ser os seu seguidores: gente que faz tudo para salvar, curar, abençoar e proteger o outro.

E se no casamento em Caná…
O mestre sala nao tivesse feito o comentário sobre o vinho?

Talvez, mesmo que viéssemos a saber do milagre, não saberíamos da sua intensidade, demonstrada pela qualidade do vinho – que nos dá conta de que Jesus vai muito além de nossa capacidade de pedir ou de pensar – essa é a função do testemunho – transmitir o resultado do amor de Deus.

Que bom que João, o evangelista registrou esse milagre, para sabermos quantas pessoas e trabalho o Deus mobilizou para, tão somente, fazer um casal feliz. Joao está certo: Deus é amor.


Ariovaldo Ramos
(Grifos por Ricardo A. da Silva)

domingo, 24 de novembro de 2013

Sobre a Trindade

"A subsistência e as operações das três pessoas do Ser Divino são assinaladas por certa ordem definida. Há uma certa ordem na Trindade ontológica. Quanto à subsistência pessoal o Pai é a primeira pessoa, o Filho é a segunda, e o Espírito Santo é a terceira. Mal se precisa dizer que esta ordem não pertence a nenhuma prioridade de tempo ou de dignidade essencial, mas somente à ordem de derivação lógica. O Pai não é gerado por nenhuma das outras duas pessoas, nem delas procede; o Filho é eternamente gerado pelo Pai, e o Espírito procede do Pai e do Filho desde a eternidade. A geração e a processão ocorrem dentro do Ser Divino, e implicam certa subordinação quanto ao modo da subsistência pessoal, não porém subordinação no que se refere à posse da essência divina. Esta Trindade ontológica e sua ordem inerente constitui a base metafísica da Trindade econômica. Portanto, nada mais natural que a ordem existente na Trindade essencial se reflita nas opera ad extra (obras externas ao ser essencial) que se atribuem mais particularmente a cada uma das pessoas. A Escritura indica claramente esta ordem nas chamadas praepositiones distinctionales, ek, dia, e en, utilizadas para expressar a idéia de que todas as coisas provêm do Pai, mediante o Filho, e no Espírito Santo.

A igreja confessa que a Trindade é um ministério que transcende a compreensão do homem. A Trindade é um mistério, não somente no sentido bíblico de que se trata de uma verdade anteriormente oculta e depois revelada, mas também no sentido de que o homem não pode compreendê-la e não pode torná-la inteligível. É inteligível em algumas de suas relações e de seus modos de manifestação, mas é ininteligível em sua natureza essencial. Os numerosos esforços feitos para explicar o mistério foram especulativos, e não teológicos. Invariavelmente redundaram no desenvolvimento de conceitos triteístas ou modalistas de Deus, na negação ou da unidade da essência divina ou da realidade das distinções pessoais dentro da essência. A real dificuldade está na relação em que as pessoas da Divindade estão com a essência divina e uma com as outras; e esta é uma dificuldade que a igreja não é capaz de remover, podendo apenas tentar reduzi-la a suas apropriadas proporções mediante uma apropriada definição de termos. Ela jamais tentou explicar o mistério da Trindade, mas procurou somente formular a doutrina de modo que fossem evitados os erros que a ameaçam."



Berkhoff

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Menos ortodoxia e mais ortopraxia

É inútil insistir em arrazoamentos teológicos e filosóficos, se na prática não forem revertidos em mudanças visíveis e reais. No final, de que serve o muito conhecimento se minhas atitudes e reações para com meus semelhantes distam impressionantemente dos meus livros favoritos, do meu discurso eloquente, da beleza e bondade ideal da minha pregação? Não quero obviamente desmerecer o tesouro intelectual aglomerado por grandes famosos e também por aqueles não tão famosos estudiosos e pensadores ao longo da história, apenas me espanto com o paradoxo que muitas vezes encontro entre o muito saber e o pouco fazer. E às vezes me encanto com a bondade, humildade, generosidade, sabedoria e mansidão que algumas pessoas tão simples oferecem no trato com àqueles ao seu redor. Chego a me perguntar de que vale tanto conhecimento, tanto senso crítico, se aos poucos me percebo cada vez mais intolerante, insensível e distante do meu próximo, e, quem sabe, de Deus? Se a graça que tanto estudo e prego não se manifestar em pequenas atitudes práticas em favor daqueles que me estão mais próximos, dificilmente deixarei um legado capaz de impactar e mudar suas vidas. Às vezes sinto saudade da simplicidade sincera que me permitia amar o meu irmão, livre dos obstáculos do preconceito e do intelectualismo sofisticado e vazio. O Evangelho de Cristo é prático, é simples. Sua Graça é palpável... São nas pequenas atitudes cotidianas de Graça e amor, e não em discussões sobre a “teologia mais correta”, que glorificamos o nome de Cristo na Terra. Platão que me perdoe, mas cansei do “mundo das ideias”. Que Deus me ajude a viver a simplicidade do Seu Evangelho a cada dia, que a minha busca pelo conhecimento seja acompanhada pela busca de mudança de atitude e de coração, que o meu falar não se distancie do meu agir, e que o amor supere o muito saber. Dá-me Graça Deus para que assim seja em mim. Menos ortodoxia e mais "ortopraxia", por favor!


Thalita Ubiali

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Nossa missão

Quanto mais leio as Escrituras mais me convenço do fato de que o princípio ético por excelência do cristianismo é tratar o próximo à luz da antropologia bíblica. Nenhum sistema de pensamento jamais exaltou a vida humana como o evangelho. O homem mais confuso, inculto, fétido, traz as características do ser infinito-pessoal que o criou. Que responsabilidade crer assim, uma vez que isso pode nos levar a dar a vida pelo que consideramos tão valioso. Que incoerência dizer que isso é verdade e não se importar com o estado de privação, exclusão e vulnerabilidade de milhões de miseráveis. 

Todo cristão deveria enxergar o invisível, esse número incontável de homens e mulheres pobres cuja vida ignoramos. Todo garçom, sapateiro, lixeiro, porteiro de prédio, lavadeira, gari, trocador de ônibus, deveria através do contato conosco redescobrir a origem divina do seu ser.

Essa é a missão da igreja.


Antonio Carlos Costa

A essência do Evangelho

O amor é a essência do Evangelho, o segredo da pregação viva e eficaz e o poder mágico da eloquência. O objetivo da pregação é reivindicar o coração do ser humano para Deus, e nada, a não ser o amor, pode desvendar as avenidas misteriosas que conduzem ao coração. Se não sentirmos um amor ardente e uma profunda compaixão pela humanidade, estejamos certos de que o dom da eloquência cristã nos foi negado. É impossível resistir ao amor.


D.L. Moody

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Finitude

"Porque somos seres finitos, temos a tendência de perceber o infinito à luz de nossas próprias limitações"

John MacArthur

Esperança e suas filhas

"A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las."

Santo Agostinho

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A arte de abrir mão

"Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial."


Rubem Alves

Sobre Protestos e Alternativas

Protesto não deve ser apenas a política da denúncia. Ao contrário, deve mostrar o caminho para a transformação pessoal e social. O poder do protesto não está em sua raiva, mas em seu convite. A prova do protesto é se ele aponta e abre o caminho para mudança ou simplesmente denuncia o estado atual. Quando o protesto é algo tanto instrutivo como construtivo na sociedade, ele torna-se algo com o qual é preciso lidar, e não apenas algo que deve ser meramente contido.(...)

Nós nunca devemos ficar satisfeitos com o mero protesto ou reclamação sobre as coisas que acreditamos estarem erradas. Pelo contrário, devemos fazer o trabalho mais difícil, mais criativo e, em última instância, mais profético, de encontrar e oferecer alternativas (...).

A mudança clara do protesto às alternativas poderia alterar o quadro político do debate. Protesto e manifestantes são facilmente anulados. Ainda que a tradição nobre e necessária de protesto cidadão deve, naturalmente, continuar, ela deve sempre apontar na direção de conectar concretamente alternativas políticas viáveis que realmente podem resolver os problemas diante de nós. Oferecer prognósticos promissores é o que há de melhor em nossas tradições de dissidência e protesto. Dizer "sim", e não apenas "não", dá aos líderes políticos algo para considerado e debatido, e não apenas algo para deter. E alternativas oferecem aos cidadãos algo para defender e não apenas algo para se opor. A alternativa política traz mais energia e possibilidades para o debate público do que a oposição política pode por si só. Ser "a favor de" é simplesmente melhor do que apenas ser "contra". E isso, em última análise, será mais bem sucedido.


Jim Wallis, cristão ativista político e autor de muitos livros, dentre eles God's Politics (A Política de Deus) e The Great Awakening: Reviving Faith and Politics in a Post-Religious Right America (O Grande Avivamento: Revivendo Fé e Política na América Pós-Direita Religiosa).

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Um pouco de James K.A. Smith

"Nada é tão importante para nossa caminhada com o Senhor, como bons amigos. Penso que Deus nos dá bons amigos como sacramentos - meios de graça concedidos a nós como indicadores da presença de Deus e canais para nossa santificação… Nada dá continuidade a Encarnação como a amizade cristã."

"Como qualquer aspecto do discipulado cristão, a peregrinação da fé nunca deve ser um assunto privado e solitário."

"Nada é mais importante para o discipulado e a maturidade teológica do que bons amigos." 


James K.A. Smith em Letters to a Young Calvinist

terça-feira, 4 de junho de 2013

Palavra de Grande Inquisidor


“De tudo o que Dostoievski escreveu em Os Irmãos Karamazov o que mais me impressionou foi o incidente do “Grande Inquisidor”. É assim: Jesus havia voltado à terra e andava incógnito entre as pessoas Todos o reconheciam e sentiam o seu poder, mas ninguém se atrevia a pronunciar o seu nome. Não era necessário. De longe o Grande Inquisidor o observa no meio da multidão e ordena que ele seja preso e trazido à sua presença.. Então, diante do prisioneiro silencioso, ele profere a sua acusação.
“Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível. Em lugar de pacificar a consciência humana, de uma vez por todas, mediante sólidos princípios, Tu lhe ofereceste o que há de mais estranho, de mais enigmático, de mais indeterminado, tudo o que ultrapassava as forças humanas: a liberdade. Agiste, pois, como se não amasses os homens... Em vez de Te apoderares da liberdade humana, Tu a multiplicaste, e assim fazendo, envenenaste com tormentos a vida do homem, para toda a eternidade...”

O Grande Inquisidor estava certo.Ele conhecia o coração dos homens. Os homens dizem amar a liberdade, mas, de posse dela, são tomados por um grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade dá medo. Os homens são pássaros que amam o vôo, mas têm medo dos abismos. Por isso abandonam o vôo e se trancam em gaiolas.”

“Somos assim:sonhamos o vôo mas tememos a altura . Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde onde as certezas moram.

É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas estivessem abertas. A verdade é oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas aos vôos. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam...”

“Deus dá a nostalgia pelo vôo.

As religiões constroem gaiolas”

“Os hereges são aqueles que odeiam as gaiolas e abrem as suas portas para que o Pássaro Encantado voe livre. Esse pecado, abrir as portas das gaiolas para que o Pássaro voe livre, não tem perdão. O seu destino é a fogueira. Palavra do Grande Inquisidor”


Rubem Alves

Correio Popular

22/05/05

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Biblia...


"Os cristãos se alimentam das Escrituras. As sagradas escrituras abastecem a comunidade santa como o alimento nutre o corpo humano. Os cristãos não se limitam a aprender, estudar ou usar as Escrituras; nós a assimilamos, introduzimos em nossa vida de tal forma que elas se metabolizam em atos de amor."


Eugene Peterson, em "Maravilhosa Bíblia"


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Um Apólogo


Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora?  A senhora não é alfinete, é agulha.  Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa!  Porque coso.  Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você?  Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.  Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?  Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?  Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!


Machado de Assis 
Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Um pouco de Lewis

"Os cristãos pensam que Deus inventou e criou o universo como um homem que pinta um quadro ou compõe uma música. Um pintor não é o que ele pinta e nem vai morrer se o quadro for destruído. Quando dizemos que ele "infundiu sua alma na pintura", só queremos dizer que a beleza e o fascínio que o quadro desperta vieram da mente dele. A habilidade dele não está presente na tela da mesma forma que está presente em sua cabeça ou mesmo em suas mãos." (C.S. Lewis - Cristianismo Puro e Simples)

sábado, 9 de março de 2013

Sobre oração

"As vezes minha oração se resume a olhos que sorriem, noutras são olhos vestidos d'água."


Ricardo Augusto da Silva

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

De Todas as Tribos, Povos e Raças


“Aclamem a Deus, povos de toda a terra!” Salmo 66.1

Esta semana tive a oportunidade de, mais uma vez, vivenciar algo que sempre me toca: a percepção da grandiosidade do amor de Deus, que se expressa nas mais diversas culturas, povos e nações.

Na última sexta-feira, fiquei algumas horas conversando com duas simpáticas seminaristas norte-americanas que são intercambistas na universidade em que estudo. E, no último domingo, minha igreja recebeu a visita de dois pastores bolivianos que estão fazendo um curso na cidade de São Paulo. Nestas duas oportunidades, o mesmo pensamento veio ao meu coração: meu Deus, como o Senhor é grande; como o seu amor não tem fronteiras!

Não sei se você já parou pra pensar nisso mas, neste momento, ao redor do mundo, milhões, talvez bilhões de pessoas, estão adorando a Deus enquanto você lê este texto. Quantas pessoas estão orando, lendo a Bíblia, ajudando seu próximo, cultuando... Isso me lembra uma antiga música do Guilherme Kerr, que eu convido você a ouvir, caso possa, enquanto continua a leitura dessa reflexão: De Todas as Tribos.

Esta canção é um convite à adoração e nos lembra que em todas as tribos, povos e raças existem pessoas que buscam a Deus e são nossos irmãos e irmãs na fé em Cristo Jesus, nosso Senhor e Salvador.

Nosso livro sagrado, a Bíblia, foi originalmente escrito apenas em três línguas: hebraico, aramaico e grego. Porém, nos dias atuais, eu nem me arrisco a contar quantas línguas são usadas para cultuar a Deus. Isso é manifestação, aos meus olhos, da grandiosidade da benevolência divina que se alegra em se manifestar às mais diversas culturas da Terra.

Frente a tão maravilhosa manifestação da graça, que atravessa toda e qualquer barreira étnica e social, respondo e chamo você a responder ao convite que esta música nos faz, em sua última estrofe:


"E a nós só nos cabe tudo dedicar
Oferta suave ao Senhor
Dons e talentos queremos consagrar
E a vida no Teu altar pra Teu louvor."


Quero ser um missionário em minha terra, ou em qualquer terra; que Deus me chamar a contribuir na missão que Ele mesmo tem feito. Quero ser parceiro de Deus em Seu propósito de salvar o mundo. Quero participar da Missio Dei. Quero consagrar meus dons, talentos, tempo e juventude para que Seu Santo Nome seja glorificado em todos os continentes. Talvez não seja Seu propósito me levar para muito longe de onde nasci, mas, mesmo não podendo ir a todos os povos, posso orar por todos eles, pedindo que nunca lhes falte pessoas com coragem, dedicação e amor para levarem até eles, através de vidas consagradas, o evangelho.

Hoje ainda não posso ver a concretização das palavras do apóstolo Paulo aos filipenses: “ao nome de Jesus se dobrará todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda a língua confessará que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Fl 2.10,11), mas, a cada momento em que tenho a oportunidade de cultuar a Deus, compartilhar a fé e um pouco da vida com pessoas de outros lugares do mundo, lembro-me de que, um dia, todos ainda conhecerão a Jesus.

Até a próxima, na alegria e confiança de que Cristo Jesus está sempre aqui!

Lucas Ribeiro

LUCAS ANDRADE RIBEIRO

Nasci e cresci em Ipatinga/MG. Fiz filosofia na Unicamp; e, hoje, sou seminarista na FaTeo, mestrando em Ciências da Religião e atuo na Metodista do Ipiranga.





                                        JuveMetodista BLOG

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Feliz olhar novo


O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história.
O grande lance é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e o AGORA.
Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais…
Mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia?
Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho? Quero viver bem.
O ano que passou foi um ano cheio.
Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal.
Às vezes se espera demais das pessoas. Normal.
A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor machucou. Normal.
O próximo ano não vai ser diferente.
Muda o século, o milênio muda, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?
O que eu desejo para todos nós é sabedoria!
E que todos saibamos transformar tudo em uma boa experiência!
Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida. Não pode ser responsável por um dia ruim…
Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passe-o para a categoria três, a dos colegas. Ou mude de classe, transforme-o em conhecido. Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.
O nosso desejo não se realizou? Beleza, não estava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de um lance que eu adoro: CUIDADO COM SEUS DESEJOS, ELES PODEM SE TORNAR REALIDADE).
Chorar de dor, de solidão, de tristeza faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso. Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes.
Desejo para todo mundo esse olhar especial.
O próximo ano pode ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro.
O próximo ano pode ser o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular… ou…
Pode ser puro orgulho!
Depende de mim, de você!
Pode ser.
E que seja!!!Feliz olhar novo!!!


Carlos Drummond de Andrade
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