segunda-feira, 30 de julho de 2012

Não goste da minha teologia, goste de mim! *


Há algumas semanas estava navegando pela net e uma entrevista me saltou aos olhos, seu título era: “Não ligo se gostam da música, quero que gostem de mim”. Essa frase foi dita por um cara bem famoso da nossa história recente, o músico mineiro Rogério Flausino da Banda Jota Quest.


Não tenho o hábito de ficar pensando muito no que leio em sites de notícia, afinal, toda hora que olho surge uma tonelada de novas informações, mas... essa entrevista me deixou pensativo, pois há muito tempo não lia algo tão simples e significativo pra falar de nosso próprio tempo! Não sei se o Flausino parou pra pensar nisso, mas acredito que boa parte do sucesso de sua banda tem a ver com essa pequena frase.

Deixa eu me explicar melhor. Tem algum tempo que tenho tentado entender minha geração, em como ser relevante para ela, como fazer algo significativo e, sei lá, como conseguir passar uma mensagem pra quem está perto de mim! Estudando a história de nosso pensamento ocidental percebi um negócio que muitas vezes tem sido negligenciado por nós, cristãos. E, negligenciar isso, tem nos feito perder muitas oportunidades de transmitir a mensagem do Evangelho.

Durante muito tempo, as coisas que dizem respeito ao mundo religioso estiveram no centro da vida das pessoas; palavras como Deus e Igreja estavam em alta. Nessa época, as lideranças religiosas tinham muito poder pra influenciar a sociedade, moldando suas opiniões sobre o que era verdade e como a vida deveria ser vivida.

Mas aí começaram a vir questionamentos de vários lados, e, aos poucos, as verdades ligadas à fé começaram a ser substituídas por verdades ligadas à ciência. Esse período, conhecido como modernidade, teve seu ápice com o pensador francês Auguste Comte. Ele era um dos defensores de que a ciência levaria a humanidade a um nível mais elevado em todos os aspectos da vida.

Porém, aconteceu algo que não estava no plano dos pensadores da modernidade: a ciência chegou ao lugar de destaque pelo qual eles tanto lutaram. Contudo, as pessoas continuaram a cometer atrocidades. Nos últimos 100 anos, por exemplo, tivemos duas Grandes Guerras, o Holocausto, ameaça de guerra nuclear e diversas outras coisas que não precisam ser lembradas.

Tudo isso gerou, nas últimas décadas, uma sociedade que tem muita dificuldade em acreditar em sistemas que se afirmam como absolutos. E, se eu não acredito 100% nem na fé, nem na ciência, no que vou acreditar?! Esse é o dilema da nossa geração! Nesse contexto, a verdade começou a ser relativizada, pois “cada um tem sua verdade”.

Talvez você esteja se perguntando, mas o que isso tem a ver comigo? Em que saber essas coisas me ajuda na minha vida como cristão ou cristã? Eu te respondo: pode ajudar em muita coisa!

Pois tenho percebido que, de forma geral, as igrejas, os cristãos, têm investido muito tempo em falar sobre o que é a verdade, de como ela se articula etc. Isso é muito bom, mas... acredito que isso não toca no coração da maioria das pessoas de nossa época. Então, o que fazer?!

Pra responder a essa pergunta, recorro ao Evangelho de João 14.6 que diz: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. Nesse texto, e em muitos outros, vejo um Jesus que ensina aos primeiros discípulos uma fé que está presente na vida, no caminho que eles percorriam pelas poeirentas ruas da Palestina do séc. I.

Jesus está vivo! E Ele nos convida a partilharmos a Verdade que um dia nos alcançou com todas as pessoas que estão ao nosso redor. Vivamos no Caminho de Jesus, que gera a verdadeira Vida! Nossa geração está mais preocupada com nossa vida do que com nossas ideias. Um dia, pessoas seguiram ideias; hoje, pessoas seguem pessoas!

Em Cristo,


BIO: Sou Lucas Andrade Ribeiro, natural de Ipatinga/MG. Formado em Filosofia pela Unicamp e atualmente estudo Teologia na Fateo/Metodista.


* Texto publicado originalmente em http://www.juvemetodista.com.br

sábado, 28 de julho de 2012

O Tempo e a Jabuticaba


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.

Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas.

As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. 

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.

Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.

Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”,onde “tiramos fatos a limpo”.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 
“as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.


Rubem Alves

sábado, 21 de julho de 2012

Escolhendo amigos


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. 
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. 
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. 
Deles não quero resposta, quero meu avesso. 
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. 
Para isso, só sendo louco. 
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. 
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. 
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. 
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. 
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. 
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. 
Não quero amigos adultos nem chatos. 
Quero-os metade infância e outra metade velhice! 
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. 
Tenho amigos para saber quem eu sou. 
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril."


Oscar Wilde

terça-feira, 10 de julho de 2012

Um Deus que sofre


O relacionamento entre Deus e a pessoa – raça humana, baseado no paradigma salvação e danação – ir para o céu ou para o inferno, pode ser interpretado pelo menos de duas maneiras. A maneira mais tradicional foi bem caricaturada pelo meu amigo Ricardo Gondim em sua “metáfora da festa”, que apresenta um Deus furioso dizendo à raça humana algo mais ou menos assim: “Vocês estragaram a minha festa, e eu vou estragar a festa de vocês. Sairei atrás de vocês com um chicote em punho, ferindo de morte todos os que se rebelaram contra mim e mostrarei quem tem a autoridade e o poder no mundo. Pouparei alguns poucos para dar ao universo um vislumbre de minha misericórdia, bondade e graça, e não terei piedade do restante da raça, que amargará no inferno, por toda a eternidade, a escolha errada que fez ao abandonar a minha festa”.

Essa descrição tradicional, que chamo de “paradigma moral”, compreende o pecado como um ato de desobediência que desperta a ira de Deus. Mas há outra maneira de perceber a relação entre Deus e a pessoa humana, que chamo “paradigma ontológico”. A metáfora do corpo pode ajudar. Imagine que Deus e a raça humana são uma unidade em que Cristo é o/a cabeça e a raça humana é o corpo. Imagine também que cada membro do corpo tem um cérebro, e que, portanto, a harmonia do corpo depende do alinhamento de todos os pequenos cérebros (dos membros) com o grande cérebro (do/da cabeça). Caso o cérebro do braço direito se rebele e comece a esbofetear o rosto, isso seria uma rebelião moral. Mas se o cérebro do braço direito reivindicasse ser amputado do corpo para viver de maneira autônoma, isso seria uma rebelião ontológica: uma pretensão de viver como ser auto suficiente, à parte do corpo, rompendo a unidade original do corpo e gerando, então, dois seres. O grande cérebro diria ao braço: “Você não conseguirá sobreviver, você não tem vida em si mesmo, sua vida depende de estar no corpo”. Mas o braço insistente, se amputaria do corpo e ao debater-se no chão, com energia residual, imaginaria ainda estar vivo, mesmo separado do corpo. Até que morresse. Nessa metáfora (quase grotesca, desculpe), Deus não estaria ocupado em punir, destruir ou condenar o braço rebelde, mas faria todo o possível para reimplantar o braço no corpo.

A “metáfora da festa”, mais popular, é bem simbolizada no famoso sermão de Jonathan Edwards, no movimento puritano da Inglaterra do século XVI, entitulado: “Pecadores nas mãos de um Deus irado”.

Alguém precisa oferecer outro sermão, que bem poderia receber como título: “Pecadores nas mãos de um Deus ferido de amor”. Nele estaria um Deus que sofre ao perceber suas criaturas se rebelando contra o amor, a verdade, a compaixão, a justiça e a solidariedade, por exemplo, e ferindo-se umas às outras. Deus seria apresentado, nas palavras de Jesus, como Aquele que “não apagará o pavio que fumega; não esmagará a cana trilhada”. Os pecadores seriam expostos não ao Deus que tem nas mãos um chicote e espuma o ódio transbordando de sua boca, mas um Deus com lágrimas nos olhos, caminhando entre os homens com laços de amor, sussurrando nas praças: “Com amor eterno eu te amo e com misercórdia te chamo”.


Ed Rene Kivitz

sábado, 7 de julho de 2012

Para que todos necessitassem de cada um...


"Deus podia muito bem ter feito os seres humanos de tal maneira que cada um tivesse tudo, mas preferiu dar diferentes dons a diferentes pessoas para que todos necessitassem de cada um."

S. Catarina de Sena

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Não sois deuses, homens é que sois


A partir do momento em que você tem um “eu”, surge a possibilidade de colocá-lo em primeiro lugar, de querer ser o centro – de querer, na verdade, ser Deus. Foi esse o pecado de Satanás; e esse também o pecado que ele ensinou à raça humana. Algumas pessoas pensam que a queda do homem está relacionada ao sexo, mas isso é um erro. (O livro de Gênesis na verdade sugere que a depravação da nossa natureza sexual foi resultado da queda, e não sua causa). O que Satanás colocou na cabeça dos nossos ancestrais mais remotos foi a ideia de que eles poderiam ser “como deuses” – que poderiam depender de si mesmos como se tivessem sido seus próprios criadores. “Sejam seus próprios mestres”, dizia ele, “Inventem o tipo de felicidade que vocês desejam para si mesmos, fora de Deus”. E foi dessa tentativa desesperada que surgiu praticamente tudo o que se relaciona ao que chamamos de história humana: dinheiro, pobreza, ambições, guerras, prostituição, classes, impérios, escravidão. A longa e terrível história do homem à procura de algo diferente de Deus para lhe trazer felicidade.


[C. S. Lewis, Mero Cristianismo. São Paulo: Martins Fontes, 2005]

Uma mudança de coração

‎"A resposta de Jesus para nossas vidas cheias de preocupação é bem diferente. Ele pede de nós que substituamos nosso ponto de gravidade, relocalizemos o centro de nossa atenção, que mudemos as nossas prioridades. Jesus quer que deixemos as "muitas coisas" para a "única coisa necessária". É importante que compreendamos que Jesus não quer de forma alguma que deixemos nosso mundo de muitas facetas. Antes, quer que vivamos nele, mas firmemente arraigados no centro de todas as coisas. Jesus não fala sobre uma mudança de atividades, uma mudança de contatos, ou até uma mudança de ritmo. Ele fala sobre uma mudança de coração". 




Henri Nouwen

domingo, 1 de julho de 2012

Há Momentos


Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.


Clarice Lispector

A CANCÃO


Enquanto os teus olhos ainda estão cerrados sobre os mistérios noturnos da alma
E o dia não abriu as suas pálpebras,
Nasce a canção dentro de ti como um rumor de águas,
Nasce a canção como um vento despertando as folhagens...
Não vem de súbito, vem de longe e de muito tempo.
Mas - agora - estás desperto na cidade e não sabes,
Entre tantos rumores e motores,
Como é que tens de súbito esta serenidade
De quem recebesse uma hóstia em pleno inferno.
Deve ser de versos que leste e e nem te lembras,
De telas, de estatuas que viste,
De um sorriso esquecido...
E destas sementes de beleza
E que
- as vezes -
No chão do rumoroso desertos em que pisas,
Brota o milagre da canção!


Mario Quintana
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