domingo, 28 de fevereiro de 2010

E Deus acabará por morrer

Se deixarmos de rezar por muito tempo, Deus acabará por "morrer", não em Si Mesmo, porque é substancialmente Vivo, Eterno e Imortal, mas no coração do homem. Deus "morreu" como uma planta ressequida que não foi regada.

Abandonada a fonte da vida, chega-se rapidamente a um ateísmo vital. Aqueles que chegam a esta situação, talvez não tenham proposto formalmente o problema intelectual da existência de Deus. Continuam a sustentar, talvez sentindo também, que a "hipótese" Deus é sempre válida, mas ajeitaram-se a viver como se Deus não existisse. Quer dizer, Deus já não é a Realidade próxima, concreta, arrebatadora. Já não é aquela Força Pascal que os tira dos recônditos dos seus egoísmos, para os lançar num pérpetuo "exôdo" para um mundo de Liberdade, Humildade, Amor, Comprometimento. Sobretudo, eis o sinal inequívoco da agonia de Deus: o Senhor já não desperta Alegria no coração!


Ignacio Larrañaga, em "Mostra-me o Teu Rosto"

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Ser criança

Salvar-se, segundo Jesus, é fazer-se progressivamente criança. A criança é um ser essencialmente pobre e confiado, confiado porque sabe que à sua debilidade corresponde o poder de alguém; numa palavra, a sua pobreza é riqueza.

Por si, a criança não é forte, nem virtuosa, nem segura. Mas é como o girassol que todas as manhãs se abre para o sol; dele espera tudo, dele recebe tudo: calor, luz, força, vida.


Ignacio Larrañaga, em "Mostra-me o Teu Rosto"

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Tempo

Não podemos escolher um tempo para viver. O que devemos fazer é viver da melhor forma no tempo que nos foi dado.


Gandalf, na versão cinematográfica de O Senhor dos Anéis

Dar da sua pobreza

Jesus, levantando os olhos, viu os ricos deitarem as suas ofertas no cofre; viu também uma pobre viúva lançar ali dois leptos; e disse: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos; porque todos aqueles deram daquilo que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha para o seu sustento. (Lucas 21:1-4)

Dar, não da minha riqueza mas da minha pobreza, como a viúva de Jerusalém que deu a sua última moeda, esse é o grande desafio do Evangelho. Quando avalio criticamente a minha vida descubro que a minha generosidade surge sempre num contexto de abastança. Dou algum do meu dinheiro, algum do meu tempo, parte da minha energia e alguns dos meus pensamentos sobre Deus aos outros, mas guardo sempre para mim dinheiro, tempo, energia e pensamentos suficientes para a minha própria segurança. Assim nunca dou verdadeiramente a Deus a possibilidade de me demonstrar o Seu Amor sem limites.


Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak"

Segue o teu chamamento mais profundo

Quando descobrires dentro de ti alguma coisa que é um dom de Deus deves apoderar-te dela e não deixar que te seja retirada. Por vezes as pessoas que não conhecem o teu coração nem se aperceberão da importância de algo que faz parte do teu ser mais profundo, precioso tanto aos teus olhos como aos de Deus. Talvez não te conheçam suficientemente bem para corresponder às tuas carências genuínas. É nesta altura que deves escutar o teu coração e seguir o teu chamamento mais profundo.

Uma parte de ti cede facilmente às exigências alheias. Assim que alguém questiona os teus motivos começas a duvidar de ti próprio. Acabas por concordar com o outro antes de teres consultado o teu próprio coração. Assim vais-te tornando cada vez mais passivo e assumes simplesmente que os outros é que sabem. Neste caso deves escutar com atenção o teu ser mais profundo. «Centrar-te» e «regressares a ti próprio» são expressões que indicam possuíres uma base interior sólida, a partir da qual podes falar e agir - sem desculpas - de forma humilde mas convincente.


Henri Nouwem em "A voz íntima do amor"

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Morte, e algumas reflexões acerca dela

Ai vai mais um do Gondim na Série Sagrado, com direito até a Carpe Diem, rs.



A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

Lições que nascem da dor

Eu e João corremos juntos um dia. Como tinha 25 anos de idade e era magro, não precisava esforçar-se para manter o meu ritmo. De repente, falou-me que se sentia deprimido. Perguntei-lhe se identificava uma causa para sua depressão. “Medo de fracassar”, retrucou, sem hesitação. Pelo restante do percurso, procurei mostrar que Deus ama sem cobrar desempenhos e que, mesmo nunca alcançando êxito, continuamos queridos; falei que Deus não desiste dos malsucedidos. Porém, duas semanas depois, chorei: João se suicidou.

Sua morte me abateu. Eu o amava. João temia o futuro e, por mais que se esforçasse, não conseguia reverter seu pessimismo. Meus conselhos, orações e cuidado de outros cristãos não ajudaram. Nada, absolutamente nada, reverteu sua morbidez, e ele se puniu com a mais desastrosa decisão – castigando todos nós.

Angústia e depressão fazem parte da nossa existência. Vários personagens históricos e bíblicos tentaram fugir para cavernas escuras em momentos semelhantes; abatidos, mal cogitavam achar forças que lhes devolvessem esperança. Essa apatia não lhes tirava apenas o sono. Acordados, tinham de conviver com um pessimismo infinitamente triste.

Nessa tragédia, aprendi que a maioria das pessoas não teme morrer, mas se apavora em não saber viver. A inevitabilidade da morte não as assusta; elas só querem evitar a insignificância, que é a noção de que existimos, mas sumiremos sem importância. Milan Kundera afirmou: “Todo mundo tem dificuldade de aceitar o fato de que desaparecerá, desconhecido e despercebido, num universo indiferente”. Isso explica porque algumas pessoas se esforçam tanto para realizar alguma coisa extraordinária – até comete algum crime. Elas querem é ser valorizadas em vida e lembradas depois de mortas.

Meses depois, me contaram que João se angustiava com o desejo de agradar a seu pai, dizendo para si mesmo que nunca conseguiria satisfazê-lo. Ainda criança, jogava tênis olhando para a arquibancada, na esperança de ganhar um sorriso de aprovação. Ele se formou em engenharia, envergonhado por não alcançar nota máxima em todas as matérias. Assim, ao projetar sua vida futura sofria imaginando não galgar os píncaros da glória e riqueza.

Preocupa-me que o mundo religioso venha ressaltando apenas as exigências rigorosas de uma divindade muito complicada de ser agradada. A maioria dos crentes brasileiros não concordaria com Gilberto Gil quando canta: “Se eu quiser falar com Deus/ Tenho que aceitar a dor/Tenho que comer o pão/Que o diabo amassou/Tenho que virar um cão/ Tenho que lamber o chão”. Contudo, o comportamento da maioria confirma o conteúdo dessa música. Existe uma espiritualidade que se difunde e que oprime as pessoas com fardo excessivo. São igrejas que não deixam ninguém esquecer suas dívidas com uma lei duríssima. Nessas religiões, culpam-se as inadequações humanas pelos revezes da vida, e todo contratempo é visto como fruto de pecado u de eventuais “brechas” por onde o diabo entra.

As pessoas lotam essas igrejas com o desejo de agradar a um Deus complicadíssimo. Desse modo, se esperam afetos ou compaixão da parte dele. Se alguém almeja “conquistar” o amor divino, precisará sempre fazer sacrifício.

As pessoas não precisam desse tipo de religião, elas carecem de uma mensagem diferente. Oxalá, mais pregadores anunciem: “Deus não desistirá de amar, mesmo quando seus filhos não merecem Seu amor é leal. Nada diminuirá seu compromisso de oferecer o melhor de si para que seus filhos cresçam”. Na parábola do Pródigo, o pai disse ao filho mais velho: “Tudo o que tenho é seu”. Essa frase precisa ressoar na mente de todos os cristãos, pois, nela está a promessa bíblica de que somos co-herdeiros com Cristo. Ninguém é estimado por cumprir mandamentos ou alcançar níveis excelentes de santidade. Deus ama de graça.

Chorei com a morte do João, mas aprendi a mais linda verdade: Deus quer bem aos seus filhos sem esperar desempenho. Ele não abandona os malogrados. E já que ninguém precisa fazer jus ao seu amor, todos podem festejar seu amor e se colocar no fantástico projeto de ser transformado na imagem de Jesus Cristo.

Eu e João corremos juntos um dia. Como tinha 25 anos de idade e era magro, não precisava esforçar-se para manter o meu ritmo. De repente, falou-me que se sentia deprimido. Perguntei-lhe se identificava uma causa para sua depressão. “Medo de fracassar”, retrucou, sem hesitação. Pelo restante do percurso, procurei mostrar que Deus ama sem cobrar desempenhos e que, mesmo nunca alcançando êxito, continuamos queridos; falei que Deus não desiste dos malsucedidos. Porém, duas semanas depois, chorei: João se suicidou.

Sua morte me abateu. Eu o amava. João temia o futuro e, por mais que se esforçasse, não conseguia reverter seu pessimismo. Meus conselhos, orações e cuidado de outros cristãos não ajudaram. Nada, absolutamente nada, reverteu sua morbidez, e ele se puniu com a mais desastrosa decisão – castigando todos nós.

Angústia e depressão fazem parte da nossa existência. Vários personagens históricos e bíblicos tentaram fugir para cavernas escuras em momentos semelhantes; abatidos, mal cogitavam achar forças que lhes devolvessem esperança. Essa apatia não lhes tirava apenas o sono. Acordados, tinham de conviver com um pessimismo infinitamente triste.

Nessa tragédia, aprendi que a maioria das pessoas não teme morrer, mas se apavora em não saber viver. A inevitabilidade da morte não as assusta; elas só querem evitar a insignificância, que é a noção de que existimos, mas sumiremos sem importância. Milan Kundera afirmou: “Todo mundo tem dificuldade de aceitar o fato de que desaparecerá, desconhecido e despercebido, num universo indiferente”. Isso explica porque algumas pessoas se esforçam tanto para realizar alguma coisa extraordinária – até comete algum crime. Elas querem é ser valorizadas em vida e lembradas depois de mortas.

Meses depois, me contaram que João se angustiava com o desejo de agradar a seu pai, dizendo para si mesmo que nunca conseguiria satisfazê-lo. Ainda criança, jogava tênis olhando para a arquibancada, na esperança de ganhar um sorriso de aprovação. Ele se formou em engenharia, envergonhado por não alcançar nota máxima em todas as matérias. Assim, ao projetar sua vida futura sofria imaginando não galgar os píncaros da glória e riqueza.

Preocupa-me que o mundo religioso venha ressaltando apenas as exigências rigorosas de uma divindade muito complicada de ser agradada. A maioria dos crentes brasileiros não concordaria com Gilberto Gil quando canta: “Se eu quiser falar com Deus/ Tenho que aceitar a dor/Tenho que comer o pão/Que o diabo amassou/Tenho que virar um cão/ Tenho que lamber o chão”. Contudo, o comportamento da maioria confirma o conteúdo dessa música. Existe uma espiritualidade que se difunde e que oprime as pessoas com fardo excessivo. São igrejas que não deixam ninguém esquecer suas dívidas com uma lei duríssima. Nessas religiões, culpam-se as inadequações humanas pelos revezes da vida, e todo contratempo é visto como fruto de pecado u de eventuais “brechas” por onde o diabo entra.

As pessoas lotam essas igrejas com o desejo de agradar a um Deus complicadíssimo. Desse modo, se esperam afetos ou compaixão da parte dele. Se alguém almeja “conquistar” o amor divino, precisará sempre fazer sacrifício.

As pessoas não precisam desse tipo de religião, elas carecem de uma mensagem diferente. Oxalá, mais pregadores anunciem: “Deus não desistirá de amar, mesmo quando seus filhos não merecem Seu amor é leal. Nada diminuirá seu compromisso de oferecer o melhor de si para que seus filhos cresçam”. Na parábola do Pródigo, o pai disse ao filho mais velho: “Tudo o que tenho é seu”. Essa frase precisa ressoar na mente de todos os cristãos, pois, nela está a promessa bíblica de que somos co-herdeiros com Cristo. Ninguém é estimado por cumprir mandamentos ou alcançar níveis excelentes de santidade. Deus ama de graça.

Chorei com a morte do João, mas aprendi a mais linda verdade: Deus quer bem aos seus filhos sem esperar desempenho. Ele não abandona os malogrados. E já que ninguém precisa fazer jus ao seu amor, todos podem festejar seu amor e se colocar no fantástico projeto de ser transformado na imagem de Jesus Cristo.


Ricardo Gondim

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Aprender do sofrimento

O sofrimento é a grande escola do aprendizado humano. Contém verdade, a frase atribuída a Hegel:”o ser humano aprende da história que não aprende nada da história, mas aprende tudo do sofrimento”. Prefiro a formulação de Santo Agostinho em suas Confissões:” o ser humano aprende do sofrimento mas muito mais do amor”.

O amor fati (o amor à realidade crua e nua) dos antigos e retomado por Freud se impõe nos dias atuais em que a humanidade se vê assolada por grave crise de sentido, subjacente à crise econômico-financeira. Devemos reaprender a amar de forma desinteressada e incondicional a Terra, todos os seres, especialmente os humanos, os que sofrem, respeitá-los em sua diferença e em suas limitações. O amor é uma força cósmica que “move o céu e as estrelas” no dizer de Dante. Só quem ama, transforma e cria.

Os grandes se reúnem, estão confusos e não sabem exatamente o que fazer. É que amam mais o dinheiro que a vida. Se amor houvesse, aprovariam o que está sendo proposto: uma “Declaração Universal do Bem Comum da Humanidade”, base para uma “Nova Ordem Global e Multilateral” contemplando toda a humanidade, a Terra incluída. Mas não. Perplexos, preferem repetir fundamentalmente, as fórmulas que não deram certo. Caberia, entretanto, perguntar: que capacidade possuem 20 governos de decidir em nome de 172? Onde estão os títulos de sua legitimidade? Apenas porque são os mais fortes?

Mesmo assim vejo que se podem tirar algumas lições, úteis para as próximas crises que estão se anunciando.

A primeira dela é que os governantes, para além de suas diferenças, podem se unir face a um perigo global. Mesmo que suas soluções não representem uma saída sustentável da crise, o fato de estarem juntos é significativo, pois dentro de pouco enfrentaremos uma crise muito pior: da insustentabilidade da Terra e dos efeitos perversos do aquecimento global. Este trará consigo a crise da água e da insegurança alimentar de milhões e milhões de pessoas. Tal situação forçará uma união dos povos e dos governos, maior do que essa dos G-20 em Londres, caso queiram sobreviver. Se grande será o perigo, maior será a chance de salvação, dizia um poeta alemão, mas desde que ocorra esta união. A solução virá somente de uma política mundial assentada na cooperação, na solidariedade, na responsabilidade global e no cuidado para com a Terra viva.

A segunda lição é que não podemos mais prolongar o fundamentalismo do mercado, o pensamento único que arrogantemente anunciava não haver alternativas à ordem vigente, como se a história tivesse sido engessada a seu favor e destruído o princípio esperança. Nem podemos mais confiar na mera razão funcional, desvinculada da razão sensível e cordial, base do mundo das excelências e dos valores infinitos (Milton Santos, nosso grande geógrafo) como o amor, a cooperação, o respeito, a justiça e outros. Desta vez, ou elaboramos uma alternativa, vale dizer, um novo paradigma civilizatório, com outro modo de produção, respeitador dos ritmos da natureza e um novo padrão de consumo solidário e frugal ou então teremos que aceitar o risco do desaparecimento de nossa espécie e de uma grave lesão da biosfera. A Terra pode continuar sem nós. Nós não podemos viver sem a Terra.

A terceira lição é constatar que a economia, feita eixo estruturador de toda a vida social, se torna hostil à vida e ao desenvolvimento integral dos povos. Ela deve ser reconduzida à sua verdadeira natureza, a de garantir a base material para a vida e para a sociedade.

Vivemos tempos de grandes decisões que representam rupturas instauradores do novo. Bem notava Keynes:”a dificuldade não estriba tanto na formulação de novas idéias mas no sacudir as velhas”. As velhas se desmoralizaram. Só nos resta confiar nas novas. Nelas está um futuro melhor.


Leonardo Boff

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Liberdade de expressão

Ai vai mais um!!!



A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

Gondim, série Sagrado e liberdade

Recomendo os outros videos dessa serie que passa na tv futura e rede globo, e que agora conta com a presença do pr Ricardo Gondim.



A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

Quando o Céu casa com a Terra

Observando o processo de mundialização, entendido como nova etapa da humanidade e da Terra, no qual culturas, tradições e povos os mais diversos se encontram pela primeira vez, tomamos consciência de que podemos ser humanos de muitas maneiras diferentes e que se pode encontrar a Última Realidade, a mais íntima e profunda, seguindo muitos caminhos. Pensar que há uma única janela pela qual se pode vislumbrar a paisagem divina é a ilusão dos cristãos do Ocidente. É também o seu erro. Hoje o atual Papa vive repetindo a sentença medieval, superada pelo Vaticano II, de que “fora da Igreja não há salvação”. Para ele, ela é a única religião verdadeira e as outras são tamsomente braços estendidos ao céu mas sem a certeza de que Deus acolha esta súplica. Pensar assim é ter pouca fé e imaginar que Deus tem o tamanho da nossa cabeça. Quem não encontrou pessoas profundamente piedosas de outras religiões, nas quais se percebe claramente a presença de Deus? Não reconhecer tal realidade é, na verdade, pecar contra o Espírito Santo que está sempre alimentando a dimensão espiritual ao largo dos tempos históricos.

Nas minhas muitas viagens, nos encontros com culturas diferentes e com pessoas religiosas de todo tipo, me dei conta da necessidade que todos temos de aprender uns dos outros e da profunda capacidade de veneração da qual os mais diferentes povos dão convincente testemunho.

Há alguns anos, dei palestras em muitas cidades da Suécia sobre ecologia e espiritualidade. Numa ocasião me levaram quase ao pólo norte onde vivem os samis (esquimós). Eles não gostam de encontrar estrangeiros. Mas sabendo que era um teólogo da libertação, quiseram conhecer esta raridade. Vieram três líderes indígenas. O mais velho logo me perguntou:”Os índios do Brasil casam o Céu com a Terra ou não”? Eu logo entendi a intenção e respondi de pronto:”Lógico que casam, pois deste casamento nascem todas as coisas”. Ao que ele, feliz, retrucou:”então são ainda índios e não são como nossos irmãos de Oslo que já não acreditam no Céu”. E dai seguiu-se um dialogo profundo sobre o sentido de unidade entre Deus, o mundo, o homem, a mulher, os animais, a terra, o sol e a vida.

Experiência semelhante vivi em 2008 na Guatemala quando participei de uma belíssima celebração com sacerdotes maias junto o lago Atitlan. Havia também sacerdotisas. Tudo se realizava ao redor do fogo sagrado. Começaram invocando as energias das montanhas, das águas, das florestas, do sol e da mãe Terra. Durante a cerimônia, uma sacerdotisa se avizinhou de mim e disse:”você está muito cansado e deve ainda trabalhar bastante”. Efetivamente, por vinte dias percorri, de carro, vários paises participando de eventos e dando muitas palestras. E então ela com seu polegar pressionou meu peito, na altura do coração, com tal força a ponto de quase me quebrar uma costela. Tempos depois, retornou a mim e disse:”você tem um joelho machucado”. Eu lhe perguntei: “como sabe”? E ela respondeu: “eu o senti pela força da Mãe Terra”. Com efeito, ao desembarcar na praia, retorci o joelho que inchou. Levou-me junto ao fogo sagrado e por trinta a quarenta vezes passou a mão do fogo ao joelho até que esse desinchasse totalmente. Antes de terminar a celebração que durou cerca de três horas, retornou a mim e disse:”está ainda cansado”. E novamente pressionou fortemente o polegar sobre meu peito. Senti estranho ardor e de repente estava relaxado e tranqüilo como nunca antes.

São sacerdotes-xamãs que entram em contacto com as energias do universo e ajudam as pessoas no seu bem viver.

Certa vez perguntei ao Dalai Lama:”Qual é a melhor religião”? E ele com um sorriso entre sábio e malicioso respondeu:”É aquela que te faz melhor”. Perplexo continuei: “o que é fazer-me melhor”? E ele:”aquela que te faz mais compassivo, mais humano e mais aberto ao Todo esta é a melhor”. Sábia resposta que guardo com reverência até os dias de hoje.


Leonardo Boff

Teologia

Teologia como a palavra sugere é o discurso sobre Deus e de todas as coisas vistas à luz de Deus. Constitui uma singularidade de nossa espécie que, num momento da evolução de milhões de anos, tenha surgido a consciência de Deus. Com essa palavra - Deus - se expressa um valor supremo, um sentido derradeiro do universo e da vida e uma Fonte originária de onde provêm todos os seres.

Esse Deus sempre habita o universo e acompanha os seres humanos. Os textos sagradas das religiões e das tradições espirituais testemunham a permanente atuação de Deus no mundo. Ele sempre atua favorecendo a vida, defendendo o fraco, oferecendo perdão ao caido e prometendo a eternidade da vida em comunhão com Ele.

Pertence à fé dos cristãos afirmar que Deus se acercou da existência humana e se fez Ele mesmo Deus em Jesus de Nazaré. Assim a promessa de união benaventurada com Ele se antecipa e será a destinação de todos os seres e da inteira criação.

Entre as muitas funções da teologia, hoje em dia, duas são mais urgentes: como a teologia colabora na libertação dos oprimidos que são nossos cristos crucificados hoje e como a teologia ajuda a preservar a memória de Deus para que não se perca o sentido e a sacralidade da vida humana, ameaçada por uma cultura da superficialidade, do consumo e do entretenimento. Devemos unir sempre fé com justiça donde nasce a perspectiva de libertação e importa manter a chama da lamparina sagrada sempre acesa, donde se alimenta a esperança humana de um futuro bom para a Terra e a humanidade.


Leonardo Boff

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Pecar é omitir-se

Este é o momento em que o mais desatento dos leitores desta série deverá ser capaz de me acusar de parcialidade, porque terá percebido que estou falando o tempo todo em espírito subversivo, em comunidade inclusiva e mudar o mundo, e não reservei qualquer espaço ou qualquer ênfase para falar de pecado ou de condenação (que é sua consorte) ou de salvação (que é o seu algoz).

Quem me acompanhou até aqui poderá ter a impressão de que a boa nova que encontro nos evangelhos e neste livro de Atos apregoa menos uma religião a ser adotada (ou uma salvação a ser apropriada) do que um movimento revolucionário, com conotações vagamente hippies, cuja imoderada ambição é derrubar preconceitos, desarmar impérios e corrigir desigualdades ancestrais tendo um sonho por capacete e uma flor por espada.

Meu leitor poderá pensar que vejo o cristianismo deste primeiro século como uma conspiração radical e pacífica, soprada do céu mas com consequências muito práticas e exigentes neste nosso mundo; um movimento humanitário e humanizador cuja marca mais visível e consistente era a promoção de toda sorte de inusitada reforma social, tendo em vista a criação de uma nova e radicalmente inclusiva estirpe de comunidade, pelo uso indiscriminado e intransigente da (sempre perigosa) ferramenta da paz e do amor. Poderá concluir que é mais ou menos isso que, na minha visão, Jesus entendia por reino de Deus.

E pensando assim não estará muito longe da verdade.

Porém mesmo quem se mostrou capaz de concordar comigo que para Lucas arrepender-se é mudar o mundo pela via da inclusão social (e não, como costumamos pensar, “abandonar o pecado” em qualquer sentido convencional) pode não resistir à indelicadeza de me lembrar que o batismo, tanto no livro de Atos quanto no evangelho do mesmo autor, é declaradamente administrado “tendo em vista a absolvição dos pecados”.

É precisamente o que Pedro acaba de dizer em sua resposta exemplar aos romeiros do Pentecostes (Atos 2:38), e é assim que Lucas descreve o batismo administrado por João durante o seu ministério (Lucas 1:77, 3:3). Não há como escapar que, para o autor de Lucas-Atos, o batismo (quer entendido como mergulho na água, na comunidade dos discípulos ou no espírito de Jesus), possibilitava por si mesmo o resgate ou absolvição dos pecados – ou estava, pelo menos, irreparavelmente associado a esse indulto.

Como que para reforçar essa vitória final sobre a transgressão e o ingresso num novo modo de vida (movimento duplo que, afinal de contas, consiste na leitura usual que fazemos do batismo), Pedro conclui sua resposta exemplar com essa mesma ênfase no pecado: “salvai-vos desta geração perversa” (v. 40).

Não estarei então, com essa história de paz e amor e de reforma social, sendo culpado de dourar a pílula e de minimizar as ênfases dos apóstolos na necessidade de uma nova vida de pureza não apenas social mas pessoal (ou, para chutar o pau da barraca, já que é nisso que estamos sempre pensando, pureza sexual)? Leia +


Paulo Brabo

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Um exercício de liderança

O exercício da liderança é um privilégio e uma responsabilidade de poucos. Usando nossa linguagem teológica, as "pessoas dons" (Efésios 4: 11) são sempre em número muito menor do que as "pessoas com dons" (Efésios 4: 12).

As pessoas dons são responsáveis pela eficácia (fazer as coisas certas) e a eficiência (fazer as coisas da maneira certa) da organização. Quando você tem um problema de liderança, você tem um problema de líderes, e não de liderados. Espera-se, portanto, que os líderes sejam líderes, isto é, tenham no mínimo, uma visão clara do futuro para onde conduzem seus liderados, uma sensibilidade aguçada para que este futuro seja fruto dos sonhos e anseios dos liderados e um senso de responsabilidade para com a organização/organismo, pois os líderes não são servos dos liderados, mas servos da visão comum. Servir os liderados é a maneira como os líderes servem à visão, e não sua finalidade essencial.

Diante destas responsabilidades, acredito que ninguém será capaz de exercer satisfatoriamente a função de liderança, sem o desenvolvimento de pelo menos três capacidades.

A capacidade de conviver com a solidão. Líderes são líderes porque enxergam, percebem, sentem, sabem, estão dispostos a sacrifícios, possuem paixão diferenciados em relação aos liderados. Um líder na média dos seus liderados é um liderado que está no lugar errado, a saber, ocupando a posição de líder. Águias não voam em bandos.

A capacidade de tomar decisões impopulares. John Kennedy disse que o segredo do fracasso é "tentar agradar todo mundo". O líder deve sempre tentar construir consenso, mas deve ter coragem para tomar decisões e assumir responsabilidades. Caso contrário, será um "facilitador de discussões", e não um líder de fato.

A capacidade de conviver com críticas. Como se diz no popular, "nem Jesus Cristo agradou todo mundo". Nesse caso, uma vez que o líder se posiciona, assumindo sua responsabilidade de levar todo mundo rumo ao bem comum, certamente contrariará interesses particulares, e conseqüentemente será alvo de palavras duras e imerecidas. Sempre.

Eis as razões porque o exercício da liderança não é para qualquer um.


Ed Rene Kivitz

A vida é questão de fé

Dâmocles invejava Dionísio, governador de Siracusa, a cidade mais rica da Sicília do século 4. Acreditava que Dionísio era um bem-aventurado, que possuía tudo quanto um homem pode desejar. Até que foi convidado por Dioníso para trocar de lugar com ele por um dia. No banquete noturno, Dâmocles percebeu que havia sobre sua cabeça uma espada que pendia do teto, sustentada apenas por um fio da crina de um cavalo. Imediatamente perdeu todo o interesse naquele lugar de honra. Devolveu o trono ao seu legítimo dono e nunca mais invejou sua posição.

O mito da espada de Dâmocles é geralmente usado para demonstrar a condição vulnerável dos que ocupam o poder. Mas pode também ser usado para demonstrar a morte que a todos espreita. Fala da efemeridade da condição humana. A espada de Dâmocles representa a insegurança e a vulnerabilidade, e aponta para a angústia que carregamos no peito em virtude da consciência de finitude.

A miserabilidade do ser humano está no fato de que não somente é finito, como todas as demais criaturas, mas também, e principalmente, consciente da inexorabilidade de seu fim. Paradoxalmente, entretanto, essa angústia diante da morte é também a salvação do humano. Tire a imortalidade do homem e ele cai de quatro, dizia Nelson Rodrigues.

A consciência da finitude nos angustia justamente porque somos habitados por um senso de eternidade. Esse paradoxo é descrito de maneira magnífica por Álvaro de Campos, pseudônimo de Fernando Pessoa, em seu poema Tabacaria: “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

A palavra “espiritualidade” expressa esse encontro entre o finito e o infinito nas profundezas do ser humano. A espiritualidade é a experiência da busca e/ou encontro do sentido último da existência e, de certa maneira, o encontro com a realidade sagrada ou divina. A espiritualidade implica o anseio de transcendência. O teólogo existencialista Paul Tillich sustenta que “Deus é a resposta à pergunta implícita na finitude do homem”. Confrontado com a sua limitação, a inevitabilidade seu fim, a marcha lenta em direção à morte, o ser humano começa a se perguntar pela eternidade, pelo sagrado, pelo transcendente, pelo que está além das contingências da vida e das circunstâncias que causam dor e sofrimento. Debilitado pela fraqueza do corpo, assolado pelo sofrimento e pela dor, ameaçado pelas tragédias e catástrofes, esmagado sob o peso da sombra da morte, o ser humano começa a buscar a Deus. Nessa busca motivada pela angústia o ser humano se descobre e se percebe um ser espiritual.

A angústia da morte é o casulo que o ser humano rompe para desabrochar para a vida. Ao tomar consciência de sua limitação, finitude e morte, o ser humano se abre para Deus, e no encontro com Deus está a vida. A morte é certa. E a vida é questão de fé.


Ed Rene Kivitz

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Magnifico

Ai vai!!!



Magnífico

Nasci, eu nasci para estar com você neste espaço e tempo
Depois disso, e só depois, ainda não tenho uma idéia, apenas sinto
Esta loucura pode deixar um coração negro e azul

Só o amor, só o amor pode deixar essa marca
Mas só o amor, só o amor pode curar essa cicatriz

Nasci, eu nasci para cantar para você
Eu não tive uma escolha

Mas para engrandecer você
E cantar qualquer canção que você queira
Eu dou de volta a você minha voz
Do útero meu primeiro choro, foi um alegre barulho

Só o amor, só o amor pode deixar essa marca
Mas só o amor, só o amor pode curar essa cicatriz

Justificado, até morrermos você e eu glorificaremos
O Magnífico, Magnífico

Só o amor, só o amor pode deixar essa marca
Mas só o amor, só o amor une os nossos corações

Justificado, até morrermos você e eu glorificaremos
O Magnífico, Magnífico, Magnífico


Uma dica de Thiago Medanha,
A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Deus faz mal a vida?

Recentemente esteve entre nós o renomado biólogo darwinista Richard Dawkins afirmando que Deus faz mal à saúde humana e que “Deus é um delírio”, título, aliás, de seu livro. Quase simultaneamente saiu um outro livro de um renomado filósofo e teólogo anglicano Keith Ward que, sem pretende-lo, deu uma resposta a Dawkings. Seu livro se intitula: Deus, um guia para os perplexos (Difel 2009).

Ward depois de percorrer mais de três mil anos de reflexões sobre Deus, tranquilamente, com o humor inglês que o caracteriza, poderia escrever: Dawkins, um delírio.

A questão fundamental que seu livro suscita é: o que os humanos querem dizer quando falam “Deus”? Por que as culturas, desde sempre, colocam o tema Deus?

Ward começa com a mitologia grega, cujo panteão é repleto de deuses e deusas. Mas adere à interpretação inaugurada por C.G. Jung e por Campbel segundo a qual no panteismo não temos a ver com a multiplicidade de divindades mas com múltiplas formas de presença divina na natureza e na vida humana. As divindades não são seres subsistentes, mas representam energias poderosas e criativas para as quais nos faltam as palavras adequadas para descrevê-las. Então se usam nomes divinos e mitos.

Ward passa pelos grandes representantes do pensamento ocidental, sem esquecer seus paralelos orientais, que detidamente se enfrentaram com a problemática de Deus. Mostra a grande ruptura que ocorreu entre o pensamento clássico greco-cristão para qual Deus representava a eternidade, a imutação e a pura transcendência e entre o pensamento moderno que entende a realidade como mutação e evolução, carregada de virtualidades apontando para várias direções.

A figura de Hegel é especialmente estudada porque foi ele que introduziu Deus na história, ou melhor fez da história a forma como Deus se mostra (tese), se autonega (antítese), entrando nos avatares da condição temporal e retorna sobre si mesmo carregando toda a riqueza de sua passagem pela evolução (síntese). Sua essência como Espírito absoluto é ser dinamismo, mutação, liberdade e criação. Vê no próprio conceito cristão da Trindade, a dialética divina da história: o poder auto-afirmativo que se mostra como Pai, a sabedoria que se revela como Filho e o amor unitivo que se concretiza como Espírito Santo.

Ward mostra as implicações lingüísticas e filosóficas que a temática de Deus encerra. Vão desde o discurso raso do fiel que identifica imagem de Deus com Deus mesmo, passando pelo discurso analógico dos teólogos para os quais os conceitos são meras analogias e não descrições do ser divino até o silêncio reverente que sabe ser impossível dizer qualquer coisa objetiva sobre Deus. Famosa é a frase de um dos maiores teólogos cristãos, o Pseudo-Dionísio Aeropagita (século VI): “Se Deus existe como as coisas existem, então Deus não existe”. É a linguagem dos místicos seja dos muçulmanos como os sufis, seja da sabedoria dos taoistas, seja dos místicos cristãos que afirmam que sobre Deus dizemos mais mentiras que verdades. Por isso, vale a advertência do filósofo Ludwig Wittgenstein:”Sobre coisas que não podemos falar, devemos calar”. É o que as religiões e igrejas menos fazem.

Mas nem por isso deixamos de permanentemente colocar o tema de Deus. Seguindo a tradição pragmática inglesa Ward enfatiza que ao invés de perguntar o que a palavra “Deus” representa, deveríamos perguntar “como a palavra Deus é usada”? Ela está na boca e nas atitudes dos que oram, cantam e meditam. Esta é uma forma de se relacionar com o Inefável e a partir dele com o mundo. A conseqüência prática é que ocupar-se com Deus libera o eu do desespero e da ilusão e lhe possibilita atingir certa integração que gera a felicidade.

Como se depreende, pensar Deus não é nunca um mero exercício intelectual. É pensar a forma mais adequada de vivermos como seres humanos, compreendermos melhor o mundo e conectar-nos com aquela Energia soberana e boa que tudo pervade e penetra nas profundezas de cada um.

Finalmente, crer em Deus é crer na bondade fundamental do ser, é crer que vale a pena viver e desfrutar da alegria de passar por esse pequeno planeta no qual habitam seres que sentem o pulsar da Realidade Suprema feita de amor, compaixão e último aconchego. Deus é a maior viagem, o melhor delírio jamais experimentado.


Leonardo Boff

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Eu estou farto

Acabei de ler uma asquerosa crítica à Senadora Marina Silva. Faltam dados, falta seriedade, falta responsabilidade!

A crítica foi publicada num site que se propõe ser arauto de mídia séria! Mas, de fato, é porta-voz do que era chamado, no tempo em que as ideologias estavam na pauta, de extrema direita.

Parece que ainda há quem tenha saudade do tempo em que se torturava a quem quisesse, quando quisesse.

Gente para quem a palavra democracia não significa nada.

Recentemente, um artigo publicado nessa mídia me citou, acusando-me de esquerdista, pró-aborto e de pró-gayzismo. E já fui questionado quanto a isto.

Não sou pró-aborto, mas, também, não sou a favor desse estado de coisas, onde a mulher é usada e abusada, onde a orientação sexual não chega aos pobres, onde o Estado se omite e faz vistas grossas ao estado de violência a qual o jovem e, principalmente, a moça está submetida, pela alienação das drogas e dos bailes funks, que sustentam o machismo que faz da mulher o mais abjeto objeto. E não sou contra a mulher vítima de estupro, e cuja gravidez lhe seja fatal, ser assistida na interrupção de sua gravidez.

Não sou pró-gayzismo, seja lá o que isso signifique, mas sou a favor dos direitos civis. Sou contra a tentativa do movimento gay de reescrever a Bíblia, mas, também, sou contra privar os homossexuais do usufruto do património de construção conjunta. Sou contra o impedimento de ajudar a um homossexual que o queira deixar de ser, como sou contra a hostilização de um ser humano porque ele ter se declarado homossexual.

A palavra esquerdista não faz mais sentido, nos dias correntes. Eu sou progressista! Sou a favor da reforma agrária, do acesso universal à educação, à moradia, à saúde, ao transporte urbano, à alimentação adequada. Sou a favor da distribuição de renda, da erradicação da pobreza, da sustentação do meioambiente e da democracia.

Sabe de uma coisa? Eu não sei quanto a você, mas eu estou farto dessa gente que se acha dona da verdade, e que, em nome do que acham ser a verdade, vivem a matar pessoas.

Farto dessa gente que se apossou de Deus, como se Deus fosse um objeto que se possa ter e manipular.

Essa gente que não considera como semelhante quem não concorda com eles!

Recentemente, também, uma série de e-mails anônimos foram disparados me caluniando, tentando me vender como um pecador dissimulado, para dizer o mínimo.

Estou farto desses covardes, sem caráter que, por detrás do anonimato, vivem a tentar destruir a vida dos outros.

Estou farto dos que dão ouvidos a eles, fazendo valer a calúnia e a difamação.

Estou farto dessa gente que anima suas rodas de amigos falando mal dos outros, zombando da desgraça alheia.

Farto dessa gente que vê fantasma em todo o lugar, que está sempre procurando alguém para atacar e para destruir.

Estou farto dessa gente que não sabe o que é debate intelectual, que toma tudo como pessoal, porque se vê como a medida para a verdade.

Farto dessa gente que em vez de pregar o Evangelho, fica checando se os outros o estão.

Checando se o outro crê “certo”.

Estou tão farto disto, tanto quanto, dos que estão invocando Deus para obter dinheiro para os seus negócios, travestidos de ministérios,de igreja ou de denominação.

Dos que lutam pelo poder denominacional, transformando o Odre em algo mais importante do que o Vinho.

Também, me fartei dessa gente que quer destruir tudo, confundindo a igreja local com a deturpação da denominação, confundindo o povo com os seus maus líderes e que se tornam líderes tão maus quanto os que condenaram, e que saem pelo mundo atacando os pastores e as estruturas com a mesma fúria dos que as estão usando para benefício próprio.

Estou farto desses apóstolos que venderam que tinham de ser apóstolos para derrubar as potestades nas cidades, as mesmas que foram destronadas na Cruz de Cristo!

Estou farto dos que não usam o título de apóstolos, mas agem do mesmo jeito!

Estou farto dos liberais, que rasgam a Bíblia e saem a zombar de quem crê.

Estou farto desses ecuménicos que dizem celebrar a fé, de modo indistinto, mas não conseguem estender a mão para o irmão pentecostal.

Mas jamais me fartarei da Igreja:

A Igreja é a comunidade da fé! É a nossa casa!

A Igreja é lugar de perdão e de reconciliação.

O que é oferecido a todos nós, inclusive para os que agem como se não o precisassem, é a oportunidade de se arrepender.

A fé cristã não prega a impecabilidade, prega o arrependimento!

A fé cristã prega que o amor é demonstrado no perdão e no serviço!

A gente deve continuar a lutar pela Igreja! Leia +


Ariovaldo Ramos

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Soberania divina, um texto do Gondim

"Deus tem tudo sob seu controle? Sim e não! A ambigüidade não é minha, mas do texto bíblico. A Bíblia, ao contário do que preconizam os fundamentalistas, não é homogênea. Existem sim textos, principalmente no Antigo Testamento, em que Deus é apresentado em total controle de cada mínimo detalhe de vidas e de acontecimentos históricos. Contudo, outras passagens mostram claramente que sua vontade não é sempre cumprida.

Está escrito em Lucas 7.30 que os indivíduos possuem liberdade de dar as costas ao conselho ou propósito (grego, boulê) de Deus: “Mas os fariseus e os peritos da lei rejeitaram o propósito (boulê) de Deus para eles, não sendo batizados por João”.

Também está escrito em Lucas 13.34 que a vontade (grego, thelô) de Deus pode ser frustrada. O lamento de Jesus sobre Jerusalém é emblemático: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram!”.

Se a sua vontade pode ser frustrada por um fariseu, também pode por um estuprador. Portanto, o estupro seguido de morte da mocinha pobre não era da vontade de Deus! A favela não é da vontade de Deus. A criança que morre de diarréia no alto da Amazônia não é da vontade de Deus. O dinheiro da corrupção depositado na Suíça não é da vontade de Deus. E se nada disso é da sua vontade, o malvado não cumpre qualque propósito, mas expressa rebelião contra o Senhor. Deus não está no controle da chacina, do genocídio, do campo de concentração, porque se estivesse viveríamos no céu, no Paraíso, menos na terra.

Pensar em soberania como um preceito teológico desconectado da vida, mas em sintonia com textos pinçados criteriosamente para fazer valer a doutrina, parece ortodoxo, mas transforma Deus em parceiro de facínoras. Os calnivistas dormem bem com esse tipo de lógica. Eu não.

Esses pontos são suficientes para que os inimigos que ganhei com o Tsunami da Ásia se enfurecessem com o Terremoto do Haiti. Não, não ofereço todas as respostas para a morte estúpida e desnecessária de mais de cem mil almas. Contudo, assim como o pensamento do judaísmo mudou com Auschwitz, espero que a minha ortodoxia cristã seja outra depois de Porto Príncipe. Continuo disposto a provocar novas inquietações e a suscitar novas perguntas. Se não conseguir esclarecer coisa alguma, pelo menos vou me despedindo das respostas simplistas de outrora. Para mim, isso será suficiente." Leia +


Ricardo Gondim

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Arrepender-se é mudar o mundo

O arco da narrativa de Lucas, que se alça no evangelho que traz o seu nome e se fecha graciosamente no livro de Atos, é sustentado por um bom número de conceitos-chave, motivos centrais que [re]aparecem em momentos estratégicos e amarram dessa forma a sua estrutura. São temas como batismo, arrependimento, salvação, plano divino e a relação entre a rejeição e a expansão da mensagem da boa nova.

Dentre esses, o menos importante não será a noção de metanoia/arrependimento. A raiz grega para “arrependimento” aparece 25 vezes no trajeto de Lucas-Atos, número que representa mais de 45% de todas as ocorrências da palavra no Novo Testamento. Mais importante do que observar essas cifras, no entanto, será notar que os demais autores do Novo Testamento, quando usam a palavra, não se dão ao trabalho de defini-la ou de fornecer para ela quaisquer verdadeiros pontos de referência. Lucas é o único autor neotestamentário a apresentar chaves numerosas e inequívocas para que seu leitor entenda a natureza do arrependimento, “Frutos dignos de arrependimento”, isto é, atitudes que evidenciem a nossa mudança de mentalidade.conforme anunciado por Jesus e por seu precursor, bem como as implicações da idéia para a comunidade cristã e para a sociedade como um todo.

Para o autor de Lucas e Atos o arrependimento é uma forma muito peculiar e prenhe de consequências de mudança de mentalidade. Sua idéia de arrependimento tem, na realidade, pouca relação com a arapuca cheia de implicações teológicas com que tentamos aprisionar a palavra.

Muito embora no evangelho de Lucas João Batista dê início ao seu serviço público apregoando o “batismo de arrependimento tendo em vista a remissão de pecados” (Lucas 3:3), nesta narrativa arrepender-se não é o mesmo que “abraçar o perdão”, nem é o mesmo que “abandonar uma vida de pecado” (pelo menos não no sentido seletivo que costumamos atribuir a perdão e pecado).

Muito embora João Batista deixe muito claro (Lucas 3:8) que o apego à tradição religiosa não tem poder para poupar quem quer que seja da ira vindoura (“nem comecem a dizer em si mesmos: ‘Nosso pai é Abraão’”), para Lucas arrepender-se também não é mero recurso para se evitar a punição divina.

Tanto “abandonar o pecado” quanto “evitar a punição”, idéias através das quais estamos habituados a interpretar o termo arrependimento, tem uma natureza negativa: enfatizam o que não deve ser feito e aquilo que pode ser evitado. Na narrativa de Lucas-Atos, o arrependimento é sempre coisa a ser lida numa lente positiva: diz respeito, invariavelmente, ao que deve ser, a partir daquele momento e para sempre, colocado em prática.

Para Lucas, a mensagem do arrependimento não anuncia coisa alguma a respeito do que Deus está fazendo; ela anuncia tudo a respeito do que você deve fazer. Para Lucas, as implicações do arrependimento não são teológicas, mas práticas. Para Lucas, arrepender-se é um modo de abraçar a salvação pelo método de salvar os outros.

Isso fica evidente desde o primeiro momento em que a idéia é apresentada pelo autor, no terceiro capítulo do seu evangelho. Às multidões que saíam para ser batizadas por ele, João Batista dava a entender, sem qualquer rodeio, que o seu batismo não representava garantia alguma ou mérito algum (vv. 7-8). “O que vocês devem fazer”, ele esclarece em seguida, “é produzir frutos dignos de arrependimento”. Em outras palavras, o que Deus está exigindo de nós não são ritos ou profissões de fé, mas atitudes que evidenciem a nossa mudança de mentalidade. Porque as árvores que não dão frutos – isto é, os adoradores que não produzem evidência da sua mudança de critérios – estão sendo cortadas e lançadas no fogo (v. 9).

Diante dessa exigência, os ouvintes de João Batista apresentam-lhe a pergunta que será ecoada sem alteração pelos ouvintes de Pedro no Pentecostes: o que devemos fazer?

A resposta oferecida pelo Batista é de importância épica, porque revelará quais são, na opinião divina que ele está representando, as implicações da metanoia. Quais são as atitudes que evidenciam o arrependimento/mudança de mentalidade? Que resposta você daria a quem lhe perguntasse quais são as exigências do arrependimento bíblico?

Para surpresa e embaraço eternos de igrejeiros antigos e contemporâneos, o arauto de Deus não entende o arrependimento como chamado à religião ou à abstinência, mas como convocação à justiça social, à integridade e à distribuição de renda:

“Quem tem duas túnicas”, exige João Batista, “reparta com o que não tem nenhuma. Quem tem comida deve fazer o mesmo”.

Para nossa felicidade, alguns cobradores de impostos aparecem logo em seguida para serem batizados por João – isto é, estão dispostos também eles a abraçar o arrependimento, – e fazem-lhe precisamente a mesma pergunta: e nós, o que devemos fazer?

A resposta de João: “Não cobrem mais do que lhes foi prescrito.”

E, logo depois, alguns soldados: e nós, o que devemos fazer?

João: “Não tentem extorquir o que pertence aos outros fazendo denúncias falsas. Contentem-se com o seu soldo”.

Neste ponto será necessário mais uma vez parar no acostamento e enfatizar o caráter absolutamente revolucionário dessas divinas interferências. Pois o reino de Deus anunciado por João Batista e por Jesus não implica apenas na abolição da idéia de religião como esforço de reconciliação com Deus por parte do homem. Nesta nova intervenção Deus não quer nos salvar das nossas faltas ou do castigo que elas requerem, o que seria fácil demais; seu ambicioso e exigentíssimo plano é salvar-nos da nossa mediocridade. Seu plano é salvar-nos de nós mesmos.

Para os arautos das boas novas nos quatro evangelhos, o homem deve arrepender-se não porque o arrependimento é a resposta adequada ao pecado, mas porque teve início um novo e assombroso período da história. A motivação para se adotar a nova mentalidade é a vertiginosa notícia de que o reinado de Deus foi inaugurado. Arrependei-vos, minha gente, porque é chegado o reino de Deus.

E embora não conheçamos o retrato completo deste novo mundo que Deus está sonhando, anunciando e implantando, os evangelhos vão indicando que ele será caracterizado por inúmeras revoluções por minuto em todas as áreas da atividade humana. Este novo mundo requer uma nova mentalidade, uma nova visão de mundo, e adotar esta nova cabeça é precisamente arrepender-se.

É por isso que em suas respostas João Batista vai esclarecendo que o arrependimento deve necessariamente abranger todo um leque de dimensões éticas, sociais e antropológicas.

Como o cerne do projeto do reino é uma reconciliação radical entre os seres humanos, com a consequente criação de uma nova comunidade, a primeira e mais geral revelação é a de que todos, não apenas os ricos, tem a responsabilidade de repartir. Onde todos tem a mesma ausência de merecimento, todos merecem rigorosamente a mesma coisa – pelo que toda e qualquer desigualdade deve ser voluntariamente corrigida pelos componentes do sistema (“quem tem duas túnicas reparta com o que não tem nenhuma. e quem tem comida deve fazer o mesmo”). Em segundo lugar, como explicam as respostas dadas aos soldados e aos cobradores de impostos, a nova era exigirá, mesmo daqueles colocados nas mais comprometedoras posições da sociedade, uma postura radical de integridade pessoal.

A metanoia representa uma revisão completa do modo como os seres humanos interagem uns com os outros, e isso porque o novo estado de coisas do reino exigirá tudo de todos e algo diferente de cada um. Embora acabe representando desafios diferentes de acordo com a presente posição do indivíduo na sociedade, as marcas do arrependimento dizem sempre respeito à relações interpessoais, e requererão invariavelmente uma postura de altruísmo, inclusão e misericórdia. Como deixam abundantemente claro os três exemplos deste episódio de Lucas, arrepender-se é rever a nossa posição sobre quem é digno de Deus, e portanto sobre quem é merecedor da nossa amizade, da nossa lealdade e da nossa túnica extra.

Esta, e não servir de ilustração da vida futura, é a razão de ser da parábola do rico e o Lazáro (Lucas 16:19-31). Na parábola o homem rico mostrou-se merecedor dos tormentos do inferno porque, diante da oportunidade que jazia literalmente à sua porta, recusou-se a arrepender-se. O rico é punido porque negou-se a abraçar a lógica inclusiva do reino e repartir com o Lázaro uma parcela dos seus recursos. De seu posto de sofrimento e exclusão, o rico pede a Abraão que permita que o mendigo se apresente na terra dos vivos aos seus cinco irmãos, porque “se alguém dentre os mortos for ter com eles, eles hão de se arrepender” – isto é, mudarão o seu modo de interagir com os outros/pobres.

Paralelamente, há outro símbolo potente nas respostas dadas por João Batista aos soldados e aos cobradores de impostos. Os dois grupos representavam categorias que viviam – e muitas vezes por boas razões – às margens da aceitação social. Soldados e cobradores de impostos não mereciam tratamento cordial e não tinham cacife para participar da comunidade de Deus. Ao se dispor a responder as suas perguntas, João acaba revelando o impensável: que o arrependimento (e portanto o acesso ao reino e à salvação) está aberto mesmo aos desprezíveis e desprezados, aqueles que a sociedade decidiu serem inteiramente indignos de inclusão social fora do seu próprio círculo. Arrepender-se, na ótica mais ampla do reino, é tanto mudar de idéia a respeito de quem é aceitável quanto passar a viver fornecendo a todos indicação de que todos são aceitáveis.

É preciso lembrar que o mundo da Antiguidade era, talvez ainda mais do que o nosso, regido pela crença indiscriminada em categorias sociais estanques, barreiras que milagre algum podia alterar ou derrubar. A inclusividade brutal do reino de Deus, como proposto por Jesus e João Batista, representava e representa uma tremenda ameaça a esse estado de coisas.

E, como declarado nos evangelhos, a revolução igualitária do reino começa pessoa a pessoa pela guerrilha do arrependimento, que no vocabulário da boa nova não é remorso e não é contrição, mas uma mudança definitiva e radical no modo de se ver e experimentar o mundo e a relação com o Outro.

Arrepender-se é mudar o mundo. Numa palavra, Jesus prega a aceitação de todos, e essa inclusividade requer uma extrema revisão no nosso modo de pensar pessoas e comunidades. Essa mudança de mentalidade altera cada aspecto da vida, e produz uma completa reorientação de crenças, critérios e atitudes.

Na prática, como explicam os exemplos do evangelho de Lucas, o arrependimento trabalhará sempre para corrigir desigualdades e injustiças sociais, morais, éticas, financeiras e religiosas. Contribuirá para alterar visões de mundo que causavam a exclusão. Servirá de instrumento de ressocialização, possibilitando a criação de um comunidade inclusiva sem qualquer paralelo na história anterior ou posterior da humanidade.

Essa reforma de ponto de vista altera o próprio tecido da realidade, porque muda o que as pessoas se mostrarão dispostas a fazer umas pelas outras. Criará ao mesmo tempo um ambiente novo, onde gente de diversas origens e orientações, que vivia antes alienada, poderá conviver como povo de Deus.

Esta insana reprogramação é o que os arautos da boa nova chamam de arrependimento/metanoia.

Vendo-se as coisas por esta ótica, fica evidente que a parábola do filho pródigo (Lucas 15:11-32) não é contada para constrastar um filho austero e um filho devasso, nem para mostrar a diferença entre um filho volúvel e um pai constante. O conflito central da parábola só é colocado em andamento quando o filho pródigo aparece arrependido no horizonte, porque esta narrativa serve para constrastar duas atitudes possíveis de uma comunidade diante do arrependimento. Por um lado, o pai acolhe o arrependimento como motivo de júbilo e ressocialização; por outro, o filho mais velho vê a inclusão como motivo de ódio e horror.

A lição da parábola está em que na visão de mundo do reino a inclusividade, o perdão e a misericórdia nunca devem ser vistos com rancor ou como falta de critério, mas como ensejo para a mais irrestrita e exuberante celebração. A narrativa explica que é mais fácil um de fora arrepender-se (isto é, sentir-se disposto a incluir e a ser incluído) do que os que se sentem incluídos se mostrarem dispostos a abraçar sem qualquer trâmite os de fora. O verdadeiro desafio do arrependimento, o verdadeiro funil da conversão de mentalidade exigida pelo reino, é sermos capaz de engolir gostosamente essa medida geral e irrestrita de inclusão.

Mas a boa nova não se cala, e insiste imoderadamente que a conversão de mentalidade do reino está ao alcance de todos – até mesmo de patifes como nós, que via de regra não nos consideramos pecadores como os outros. Porém, a história conta que para nós arrepender-se representará aceitar no nosso seletíssimo círculo a inclusão daqueles de que estamos absolutamente convictos não merecem nossa consideração – quanto mais nosso beijo, nosso abraço e um lugar inesperado à mesa. Leia +


Paulo Brabo
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