sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Depois de nós

Para finalizar o ano (afinal esse é o ultimo post meu do ano, rs) vamos de Engenheiros do Hawaii com a música Depois de Nós, por que em final de ano a frase da da música "hoje o tempo escorre dos dedos das nossas mãos, ele não devolve o tempo perdido em vão" cabe bem, rs.



A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O rosto de Deus

Rafael, Michelangelo e vários outros pintores tentaram retratar o rosto de Deus. Foram infelizes. Como mostrar na tela quem nunca foi visto? Com a proximidade do Natal, mais artistas procuram esboçar o que imaginam ser o rosto de Deus.

Ele se parece com uma criança? É o frágil bebê das manjedouras? Talvez; o reino do céu pertence aos pequeninos, aos que mamam. Ao tentar desenhar o mistério, o artista termina com um ídolo.

O rosto de Deus, entretanto, pode ser experimentado nos sem-teto que perambulam pelas ruas e dormem nos viadutos das grandes cidades. Quando Jesus nasceu, a família estava sem moradia certa, não possuía recursos para pagar uma hospedaria e viu-se obrigada a refugiar-se em um estábulo.

O rosto de Deus pode ser percebido em vítimas de preconceito e em injustiçados. Sobre o menino que nasceu em Belém pairou uma dúvida: ele era de fato filho de José? O casal não inventara aquela história toda para se safar de um rolo?

O rosto de Deus se revela nos desprezíveis, nos que foram condenados à margem da história. Quando o menino nasceu, ninguém notou ou escutou o alarido dos anjos. A trombeta que anunciou paz na terra pela boa vontade de Deus passou desapercebida da grande maioria. Apenas um punhado de pastores foi sensível para presenciar o momento mais importante da história.

Qual o rosto de Deus? Ele não se parece com os cartões postais ou com o menino de barro das lapinhas. Deus é igualzinho a Jesus. E Jesus é bem parecido com o vizinho do lado, com a mulher que pede socorro na delegacia do bairro e com a família que chora a morte do filho no corredor do ambulatório.

Não é preciso muito para encontrar Deus, basta um coração de carne, humano.


Ricardo Gondim

Deus repousava na manjedoura

Há algum tempo, intrigado, comecei a questionar porque Jesus Cristo escandalizou fariseus, saduceus e doutores da lei. Nenhuma novidade me ocorreu: há séculos os judeus aguardavam o Messias. Eles viviam na expectativa política de que um Ungido se levantaria em nome de Deus. Nos setores mais politizados, o Messias viria como o grande libertador – uma encarnação melhorada e glorificada de Moisés; um Dom Sebastião dos tempos antigos. Para segmentos religiosos ortodoxos, o Messias chegaria para renovar os princípios da Torá. O cumprimento da Lei representaria uma renovação espiritual que resgataria o povo para um novo tempo.

Mas além dessa grande espera, Paulo também diz que Jesus foi loucura para os gregos. O Nazareno se revelou um retumbante fracasso porque nunca deixou colar nele as expectativas judaicas e depois, nem as gregas, sobre as ações da divindade. Via-se claramente que em Jesus Deus não se parecia com o Movedor Imóvel de Aristóteles. Ele colocava teologia e filosofia de ponta cabeça.

Se o Deus dos fariseus zelava pelo cumprimento estrito da lei, Jesus a tornava flexível pela misericórdia. Quando perdoou a mulher apanhada no próprio ato do adultério, deixou claro que o poder do amor dobra a rigidez da lei: “Onde estão os teus acusadores. Eu não te condeno, vá em paz e não peques mais”. Nos casos da siro-fenícia, do centurião romano, da “impura” devido a uma menstruação crônica, do endemoninhado gadareno, do cego da calçada, fica claro que qualquer um pode aproximar-se de Deus sem exigências ou protocolos religiosos. Quando Jesus estava por perto, esvaziava-se a ideia de “não-eleito”.

Jesus não comparou Deus a um fiscal punitivo, mas a um pai machucado. No alpendre, enquanto espera a volta do filho perdido, os olhos úmidos do pai eram os olhos de Deus. Sim, mesmo desolado, o velho corre ao encontro do filho sujo, mal cheiroso e o cobre de beijos.

Ricardo Peter intuiu corretamente o porquê do ódio dos fariseus contra Jesus:

Os fariseus começaram a perceber que Jesus estava mudando radicalmente a maneira de entender quem é Deus. Este Deus teria podido provocar confusão e dispersão entre as pessoas religiosas. O comportamento do Deus anunciado por Jesus, do Deus que demonstra um amor incondicionado pelos pecadores, começava a colocar o Deus dos fariseus na sombra. Tinha início uma luta de ‘Deus contra Deus.

A religião judaica antecipara um Deus mais forte que os antigos baalins, que causaram tanto problema. Jesus andou na contramão, ele tomou sobre si a fragilidade dos serviçais. Os conteúdos de sua causa não lidavam com poder, mas com serviço. Os tempos exigiam um líder que convocasse exércitos com a força letal superior às legiões romanas. Mas o Galileu preferia colocar uma criança no colo e dizer: “Dos tais é o Reino de Deus”.

A ambição era posicionar Israel como nação líder. O messias, certamente, vingaria séculos de opressão impostos por egípcios, persas, gregos e romanos. Mas eis que ele abriu o rolo da lei numa sinagoga e leu: “O Espírito do Senhor está sobre mim e ele me ungiu para pregar boas notícias aos pobres”. Se um homem assim, radicalmente humano, comprometido com a escória do mundo, se dizia a expressa imagem de Deus, tal homem precisava ser assassinado. Um Deus fraco não servia aos interesses da religião – como ainda não serve.

Além desta enorme decepção entre os semitas, os gregos também se horrorizaram. Se Deus encarnou assim, como sustentar as ideias de Aristóteles? Jesus não se assemelhava em nada com o conceito de Deus como “Ato Puro” ou como “Motor Imóvel”. O Rabi de Cafarnaum se movia de “viscerais afetos” por uma viúva a caminho de enterrar o filho, chorava diante da sepultura do amigo (a dor de homens e de mulheres dói em Deus; Isaías é enfático- 63.9 -: “Em toda a angústia deles, foi ele angustiado”.), irritava-se quando a religião oprimia e se deixava molhar pelas lágrimas de uma prostituta. Deus não se mostrara apático.

Volto a Ricardo Peter com sua intuição sobre a revelação de Deus que Jesus brindou o mundo:

O Deus de Jesus assume o humano a tal ponto que liberta o homem da exigência de ser como Deus. Deus contém em si, agora o máximo de humanidade. Deus encontra-se imerso no humano. O ‘Reino’ de Jesus não requer seres excepcionais, melhores que o ‘resto dos homens’, que se preocupam em ser por eles contaminados.

Mas, o que verdadeiramente escandalizou no Deus que Jesus revelava foi sua tremenda inconsistência. Como assim, Deus inconstante? Misericórdia é sempre uma tremenda inconstância. A inconsistência de Deus em reverter sentenças, em anular destinos, em refazer histórias, em anular tragédias, foi a marca mais exuberante da vida de Cristo. Até o fato de seu ensino ser vazio de dogmatismos, desestabilizava qualquer teologia. E talvez tenha sido este o pingo que entornou a taça da ira dos fariseus: o Deus inabalável, rigoroso e severo do Antigo Testamento estava ausente nas palavras, gestos e atitudes do filho de Maria.

Ainda hoje, os que distinguem entre o Deus dos fariseus e o Deus de Jesus acharão boas razões para decretar sua morte. O reino que ele inaugurou entre os homens não encontra paralelo com os reinos deste mundo. Seus ensinos não são codificáveis.

Portanto, o Deus que nasceu em uma manjedoura continuará despercebido dos poderosos. Ele só será notado nas realidades singelas e pequenas: grãos de mostarda, meninos e meninas, ovelhas indefesas, desempregados em calçadas, servos inúteis, indignos, filhos pródigos, prostitutas, leprosos, cegos, mendigos, estrangeiros, soldados e exorcistas informais.

Deus poderia escolher muitas maneiras para mostrar-se real, mas preferiu nascer em uma periferia esquecida; optou viver de um jeito que pode ser, poeticamente, comparado ao de um cordeiro.

Depois de séculos, ainda vale a pena celebrar um natal desses.


Ricardo Gondim

sábado, 25 de dezembro de 2010

A encarnação de Cristo e o plano de Deus

A Encarnação do Filho, em sua atordoante exuberância, aparentemente não bastara para um Deus suficientemente ambicioso. A divindade provera para si, através do precedente de Jesus, uma segunda e definitiva encarnação, efetuada pelo derramamento profuso da consciência universal de Cristo sobre os que eram tocados por ele. Deus revelava finalmente seu plano: um Filho singular não lhe bastava; seu projeto era ter uma multidão de Filhos.


Paulo Brabo

O Natal não é um só

O Natal não é um só: um é o Natal do egoísmo e da tirania, outro é o Natal da abnegação e da diaconia; um é o Natal do ódio e do ressentimento, outro é o Natal do perdão e da reconciliação; um é o Natal da inveja e da competição, outro é o Natal da partilha e da comunhão; um é o Natal da mansão, outro é o Natal do casebre; um é o Natal do prazer e do amor, outro é o Natal do abuso e da infidelidade; um é o Natal no templo com orquestra e coral, outro é o Natal das prisões e dos hospitais; um é o Natal do shopping e do papai noel, outro é o Natal do presépio e do menino Jesus.

O Natal não é um só: um é o Natal de José, outro é o Natal de Maria; um é o Natal de Herodes, outro é o Natal de Simeão; um é o Natal dos reis magos, outro é o Natal dos pastores no campo; um é o Natal do anjo mensageiro, outro é o Natal dos anjos que cantam no céu; um é o Natal do menino Jesus, outro é o Natal do pai dele.

O Natal de José é o instante sublime quando toma no colo o Messias. A partir daquela primeira noite jamais conseguiria dormir em paz. Sob seus olhos e sua responsabilidade cresceria aquele de quem falaram a Lei e os profetas. Era de José a tarefa de ensinar ao menino a respeito de sua verdadeira identidade. Enquanto recitava o profeta Isaías: “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará. E repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do SENHOR. E deleitar-se-á no temor do SENHOR; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos. Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com eqüidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará ao ímpio, e a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins”, dizia ao garoto, “esse aí é você, meu filho”.

O Natal de Maria é um canto de redenção: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador”. O Magnificat anuncia a redenção de geração em geração, obra das mãos do Deus que visita e abençoa os humildes e pobres, mas humilha e despede de mãos vazias os poderosos e prepotentes. Uma redenção que transborda a subjetividade do foro íntimo e se esparrama pelo chão das sociedades injustas, atravessando o tempo e fazendo livres nossos filhos e os filhos dos nossos filhos.

O Natal do anjo mensageiro é proclamação de boas notícias a todos: José, Maria, pastores no campo e todos os que inclinarem seu ouvido e coração para ouvir. Menos para o menino Jesus. A boa notícia de Deus aos homens a quem quer bem, é também vaticínio de morte para o menino na manjedoura. Ao divulgar que na cidade de Davi nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor, o anjo mensageiro desperta a ira de Roma, seus governantes e imperadores. Somente César é Salvador, filho de Deus e Senhor. Mas de agora em diante estaria presente no mundo aquele cujo reino jamais terá fim. A pedra profetizada por Daniel, solta pela mão de Deus para esmagar todos os reinos deste mundo já rolava na história, e atendia pelo nome de Jesus. As espadas romanas derramaram sangue inocente (os impérios deste mundo sempre derramam sangue inocente), mas o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, sobreviveu para desfazer a grande mentira: a Pax nunca foi romana.

O Natal dos anjos cantores definiu que Deus somente é glorificado nos céus quando há paz na terra entre os homens. Desde então, Natal é necessariamente compromisso com a justiça, convocação para a reconciliação, outorga de perdão. Os pastores no campo deixaram seus rebanhos, que guardavam do mal, movidos pelo ímpeto da curiosidade e pelo impulso do maravilhamento, e quem sabe, guiados pela intuição de que naquela noite em Belém o mal estava acuado, reforçando as frágeis trancas das portas de seus territórios, sabendo já que seus dias eram contados. Havia irrompido o tempo quando o lobo e o cordeiro dormiriam juntos, e nenhum espírito tenebroso ousaria ferir a noite do nascimento do príncipe da Paz.

E o Natal dos três reis Magos? O Natal dos três (que não eram necessariamente três) reis (que não eram reis) magos (que não eram magos) foi tempo de adoração. Estudiosos dos corpos celestiais, viram a estrela no Oriente, e foram em busca do rei dos judeus, para o adorar. Trouxeram consigo ouro, incenso e mirra, pois sabiam que adorar é servir, doar, presentear. O menino que recebeu presentes enquanto na manjedoura distribuiu entre os pobres as suas riquezas e nos ensinou: quem deseja me dar um presente que o faça a um dos meus pequeninos. Assim, até hoje, os adoradores de Jesus se espalham no mundo distribuindo riquezas, abençoando os que sofrem, suprindo os pobres, promovendo a justiça e sinalizando a paz.

O Natal não é um só. O menino Jesus também teve seu Natal. E assim o explicou: Eu vim para que tenham vida; eu vim buscar e salvar o que se havia perdido; eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a minha vida em resgate de muitos. O Jesus do primeiro Natal até hoje segue seu caminho batendo em todas as portas e dizendo “quem ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele, e ele comigo”.


Ed René Kivitz

A espiritualidade do Ocidente brigão, ou o fruto do Natal

O Ocidente é brigão, brigamos contra a escravidão, contra ditaduras, por justiça, por liberdade religiosa, por república, por democracia, por direitos humanos... Enfim, estamos sempre engajados numa luta qualquer, por “n” meios: bélicos ou choque de ideias ou similares. Estamos sempre indignados, protestando, furando cercos, como o Wikileaks, por exemplo.

No Oriente a gente não vê tanto disso, os reis até brigam por poder, as religiões brigam por hegemonia, não por liberdade religiosa, mas, o povo é mais cordato. Os da chamada classe nobre, ou os da elite vivem com maior tranquilidade, enquanto que no Ocidente, os da elite parecem estar sempre sob júdice, sempre sob alguma injunção de ordem moral, sempre vistos como portadores de algum tipo de culpa.

Certo! Tem as tomadas de poder no Oriente Médio, mas é troca entre elites, ou pretendentes ao posto de nova elite. Houve Ghandi e Mao Tse Tung, mas eles importaram conceitos e brigas do Ocidente. Aliás, quanto mais próximos do Ocidente, mais tendentes ao espírito revolucionário.

Por que a diferença? Por causa da distinção que há, entre Ocidente e Oriente, na espiritualidade!

Espiritualidade como a busca de significado para a vida! O que, até recentemente, era fornecido, quase que exclusivamente, pela religião.

O corte religioso predominante no Oriente é de enfase cármica ou determinista. Crenças que ordenam a vida numa relação de causa e efeito, principalmente, de ordem espiritual, onde a vida e a consequente ordenação social são custos cobrados pela história de existências passadas, ou desígnios de um ser todo-poderoso, que escreveu a história de cada um ao seu bel prazer. Crenças, tais, que favorecem a um comportamento de maior acomodação ao, aparentemente, estabelecido na vida.

Já o Ocidente se desenvolveu sob a crença num ser que, embora todo-poderoso, foi desobedecido, logo, não se impôs, e que busca conquistar o ser humano pelo amor. Um ser que pagou um alto preço para ser aceito de modo voluntário. Um ser que abandonou a sua glória para buscar a quem havia perdido, identificando-se com a sua criação no que ela tem de mais frágil, a mortalidade. Que, ao invés de cobrar indenização, paga o custo da quebra do princípio de justiça. Que conclama à fé e à consequente mudança de vida pela submissão voluntária. Que, ao arcar com todos os custos, torna o ser humano protagonista de sua história e responsável pelo desfecho da mesma.

A oração (conhecida como Pai Nosso) ensinada por Jesus de Nazaré, que se apresenta como o ser todo-poderoso em estado de fragilidade extrema, munido apenas de fé exemplar, é a síntese dessa espiritualidade.

Orar é falar com a divindade: nessa atividade fica definido o ser divino, o fiel, a comunidade, o relacionamento com a divindade, o relacionamento com os demais membros da comunidade, o relacionamento com a história e o relacionamento com a existência.

A divindade é apresentada como pai, logo é um ser relacional, porque paternidade é relacionamento. E é pai por decisão pessoal, porque não está moralmente obrigado a isso, então, a humanidade tem como pai, alguém que sempre quis essa paternidade. Isso torna todo o ser humano digno pelo simples fato de existir. O divino o quis para o ter como filho.

Como o enunciado é “pai nosso”, os seres humanos são todos irmãos, todos iguais em dignidade. Qualquer noção de elite fica sob suspeição. Como a divindade está nos céus, logo, é diferente de seus filhos, o que torna impossível a qualquer de seus filhos pleitear uma posição divina entre os irmãos, porque só a divindade pode ser distinta.

A divindade tem um projeto: “o reino” que é apresentado como uma realidade onde, na dimensão da história humana, só a sua vontade é feita; mas, na oração, é um pedido, logo, um desejo nascido da vontade de todos os que assumiram esse nível de relacionamento com a divindade. O assumir o projeto da divindade, como aspiração para a humanidade, condena toda aspiração, de qualquer ser humano, de tornar hegemônico um poder, uma pessoa ou uma ideia, mesmo em nome da divindade.

A divindade é quem sustenta a todos, porém, não a cada um, de modo que o pão (nosso) é de todos, e todos são responsáveis para que cada um tenha acesso ao que é para todos. Qualquer movimento diferente é apropriação indébita.

Nada pode diminuir um ser humano perante o outro, nem mesmo os seus erros, por isso todo ser humano deve ser perdoado, o que não significa que aquele (a) que errou não responderá por seu erro, significa que nenhum ser humano pode se vingar, o atingido pelo erro do outro não pode se ver como alguém especial em relação ao outro, o deve perdoar, de modo que do errado seja cobrado apenas a satisfação da justiça, nunca a indenização do sentimento do ofendido. Como a divindade só sustenta o universo por ter perdoado à humanidade a ofensa que esta lhe fez, todo membro da humanidade tem de perdoar a qualquer ser humano por qualquer ofensa que faça a si, ou à raça humana. A oração é para que a divindade ratifique a todos o perdão original, mediante o fato da humanidade o ter como parâmetro para o perdão cotidiano.

A humanidade é responsável por escolher o bem. A divindade está pronta para nos ajudar, mas não decidirá por nós.

E, na oração, fica estabelecido que só a divindade tem direito inquestionável ao governo; e ao exercício do poder, em seu próprio nome; e que só à divindade pode ser dado tratamento especial.

Tal espiritualidade, desenvolvida a partir de tais parâmetros, fará só ter significado a vida que não se conformar com qualquer coisa diferente, uma vez que viver passa a ser definido como uma busca pela consolidação de tais valores. É uma espiritualidade aguerrida! É uma espiritualidade na história e para a história; é uma espiritualidade do direito.

Espiritualidade passa a ser a busca por um relacionamento com a vida que produza dignidade, igualdade, isonomia, solidariedade, justiça e responsabilidade para com a história comum.

Jesus de Nazaré disse que deixava a paz, mas não que traria a paz. (Jo 14.27; Mt 10.34)

Jesus de Nazaré se propõe a levar todo o ser humano a viver em paz, por saber quem é e pelo que deve viver, mas, não na paz, porque todo o ser humano se torna responsável por denunciar e resistir a tudo que não for justo.


Ariovaldo Ramos

(Des) Mobilidade ou Feliz Natal!

Houve tempo em que os seres humanos se comunicavam pelo som dos tambores e por sinais de fumaça, e havia que se contar com a contribuição do meio ambiente e com um sem número de imponderáveis para que as mensagens fossem recebidas.

Hoje todos são encontrados a qualquer hora e em qualquer lugar. E, mais, tudo está à mão, de tal maneira que um ser humano pode estar em vários lugares ao mesmo tempo. Transmissões “on time” ou em “real time”, todos “on line”. Tudo “on” em todo o tempo.

“Facebook”; “twitter”; “orkut”; “buzz”; “ios4”; “android”; “google”; “yahoo” e assemelhados por todo o mundo: todos disputam a preferência humana e, cada vez mais, com cada vez menos aparelhos, muito mais tarefas são deflagradas, monitoradas, concretizadas. E vem muito mais por aí, mais “gadgets” e maior mobilidade.

Cada vez mais falamos com e através de máquinas, e já tem gente prometendo, para 2045, robôs que decidem por si; mas, infelizmente, essa explosão de relações não é tão verdade quanto ao relacionamento entre humanos.

As pessoas estão cada vez mais distantes entre si, os relacionamentos estão desmoronando, os casamentos não resistem à menor crise, o individualismo ganha proporção geométrica, embora, a privacidade esteja se tornando impossível: como demonstrou o site “wikileaks”, nem os sistemas mais seguros conseguem garantir o privado.

É a época do paradoxo: sem privacidade, mas, com cada vez menos amizade!

Aliás, as personalidades públicas parecem já ter se dado conta de que a privacidade se perdeu, e, então, via “reality shows”, tentam controlar o nível de exposição pessoal.

Em meio a tudo isso é Natal! Data em que se comemora o maior ato relacional de todos os tempos: Deus se fez homem para que os homens pudessem entendê-lo. Em que, também, se comemora, a maior perda de mobilidade em todos os tempos, Deus, que tudo pode, passou a poder apenas no nível do humano, ainda que repleto de fé; Deus que em todos os lugares está, passou a estar, limitado pela física, num só lugar de cada vez. Tudo para se relacionar.

Nesse tempo em que nos comunicamos cada vez mais, para nos relacionarmos cada vez menos, é tempo de pensar no Personagem máximo do Natal, e de lembrar a importância que uma vez foi dada ao relacionamento com e entre os seres humanos.

É Natal para que “twits”, “e-mails” e SMS, não deletem apertos de mão, abraços e beijos. Feliz Natal


Ariovaldo Ramos

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O futuro do movimento de Lausanne

Os números relacionados com o Terceiro Congresso Internacional de Evangelização Mundial — que aconteceu na Cidade do Cabo, África do Sul, de 17 a 24 de outubro, sob o tema “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19) — são impressionantes. Estiveram presentes mais de 4 mil participantes de 198 países. Além disso, houve cerca de 650 sites de Internet conectados com o Congresso em 91 países e 100 mil “visitas” de 185 países. Isto significa que milhares de pessoas de todo o mundo puderam assistir às sessões por meio da Internet. Doug Birdsall, o presidente executivo do Movimento de Lausanne, provavelmente tem razão em afirmar que Cidade do Cabo 2010 foi “a assembleia evangélica global mais representativa da história”. Sem dúvida, este resultado foi alcançado, em grande medida, por meio de seu longo esforço.

Igualmente impressionantes foram os muitos arranjos práticos que se fizeram antes do Congresso. Além do difícil processo de seleção dos oradores para as plenárias e para os “multiplexes” (seminários) e as sessões de diálogo, dos tradutores e dos participantes de cada país representado, havia duas tarefas que devem ter envolvido muito trabalho antes do Congresso: a Conversa Global de Lausanne, para possibilitar que muita gente ao redor do mundo fizesse seus comentários e interagisse com outros, aproveitando os avanços tecnológicos contemporâneos; e a redação da primeira parte (a teológica) do Compromisso da Cidade do Cabo, redigida pelo Grupo de Trabalho Teológico de Lausanne, sob a direção de Christopher Wright.

Uma avaliação positiva de Lausanne III

A melhor maneira de comprovar o valor de uma conferência como Lausanne III é analisar os resultados concretos que ela produz posteriormente em relação com a vida e missão da igreja. Por esta razão, a avaliação presente da conferência que acaba de ser realizada na Cidade do Cabo tem que ser considerada como nada mais do que uma avaliação preliminar.

Cada um dos seis dias de programa (com um dia livre entre o terceiro e o quarto) tinha um tema:

1) Segunda-feira – Verdade: Defender a verdade de Cristo em um mundo pluralista e globalizado.
2) Terça-feira – Reconciliação: Construir a paz de Cristo em nosso mundo dividido e ferido.
3) Quarta-feira – Religiões Mundiais: Testemunhar o amor de Cristo a pessoas de outras crenças.
4) Sexta-feira – Prioridades: Discernir a vontade de Deus para evangelização deste século.
5) Sábado – Integridade: Chamar a igreja de Cristo de volta à humildade, integridade e simplicidade.
6) Domingo – Parceria: Formar parceria no corpo de Cristo rumo ao novo equilíbrio global.

Cada um destes temas chaves, qualificados como “os maiores desafios para a igreja na próxima década”, era o tema de estudo bíblico e da reflexão teológica a cada dia pela manhã. O texto bíblico que se usava na série intitulada “Celebração da Bíblia” era a carta aos Efésios. Um dos aspectos mais positivos do programa foi o estudo indutivo da passagem do dia, em grupos de seis membros sentados ao redor de uma mesa. Isto deu aos membros do grupo a oportunidade de aprender juntos, de orar uns pelos outros, desenvolver novas amizades e construir alianças para o futuro. Ao estudo bíblico em grupos, seguia a exposição da passagem de Efésios selecionada para esse dia. Sem minimizar a importância da música, do teatro, das artes visuais, dos testemunhos e das apresentações multimídia, uma alta porcentagem dos participantes sentiu que o tempo dedicado a “Celebrar as artes” poderia ter sido reduzido para dar mais tempo para “Celebrar a Bíblia”, atividade que gostaram muito.

Cabe fazer uma menção especial aos vários testemunhos que foram dados nas sessões plenárias pela manhã por certas pessoas cuja experiência de vida ilustrava claramente o tema do dia. Quem que esteve ali poderia se esquecer, por exemplo, da jovem palestina e do jovem judeu que falaram juntos sobre o significado da reconciliação em Cristo acima das barreiras raciais? Ou da missionária estadunidense que falou sobre testificar do amor de Cristo a pessoas de outras religiões, contando como vários cristãos — incluindo seu esposo, médico de profissão — foram assassinados por muçulmanos enquanto regressavam de um povoado isolado onde haviam estado servindo movidos pela compaixão cristã no Afeganistão?

Nos “multiplexes” e nas sessões de diálogo de cada dia (à tarde), foram exploradas em profundidade as implicações práticas do estudo e da reflexão bíblicas da manhã. Certamente que o debate mais relevante sobre os diferentes temas não se realizava necessariamente dentro dos limites de tempo definidos no programa mas nas conversas informais fora do programa oficial. De qualquer maneira, é um fato que muita da reflexão mais rica sobre os assuntos relacionados com os problemas globais contemporâneos se dava nas sessões da tarde. Estas sessões participativas, nas quais se levavam em conta a compreensão da diversidade de perspectivas representadas; a contextualização de ideias, modelos, contatos e materiais; e o compromisso para articular planos de ação, serão a base para a segunda parte do Compromisso da Cidade do Cabo. O plano é publicar o documento de duas partes (a teológica e a prática) com um guia de estudo no fim de novembro.

Dos vinte e dois multiplexes que se ofereceram durante o Congresso, houve especialmente três que enfocavam assuntos que poderiam ser considerados como os mais críticos para o hemisfério Sul: a globalização, a crise ambiental e a relação entre riqueza e pobreza. Estes três fatores estão vinculados intimamente entre si e, em vista do enorme impacto que produzem em milhões de pessoas no mundo das grandes maiorias, merecem muito mais atenção que receberam até o momento por parte do movimento evangélico.

Sérias deficiências

Segundo a definição oficial de sua missão, o Movimento de Lausanne existe para “fortalecer, inspirar e equipar a Igreja para a evangelização mundial em nossa geração, e exortar os cristãos sobre seu dever de participar em assuntos de interesse público e social”. Uma análise detalhada desta definição expõe a dicotomia que influenciou um grande segmento do movimento evangélico, especialmente no mundo ocidental: a dicotomia entre evangelização e responsabilidade social. Por causa desta dicotomia, relacionada estreitamente com a dicotomia entre o secular e o sagrado, o Movimento de Lausanne se propõe a “fortalecer, inspirar e equipar a Igreja para a evangelização” mas só “exortar os cristãos” a respeito de sua responsabilidade social. O pressuposto que está implícito é que a missão prioritária da igreja é a evangelização, concebida em termos de comunicação oral do Evangelho; enquanto que a participação em assuntos de interesse público e social — as boas obras por meio das quais os cristãos cumprem sua vocação como “luz do mundo” para a glória de Deus (Mateus 5:16) — é um dever secundário, para o qual os cristãos não necessitam ser fortalecidos, inspirados e equipados, apenas exortados.

Na exposição bíblica de terça-feira, baseada em Efésios 2 (o segundo dia do Congresso), esclareceu-se, a partir do texto bíblico, que Jesus Cristo é nossa paz (v.14), fez nossa paz (v.15) e anunciou paz (v.17). Em outras palavras: em Cristo, o ser, o fazer e o proclamar paz (“shalom”, vida em abundância) são inseparáveis. A igreja é fiel ao propósito de Deus na medida em que ela prolonga a missão de Jesus Cristo na história, manifestando a realidade do Evangelho concretamente não apenas pelo que diz mas também pelo que é e pelo que faz. A missão integral da igreja está enraizada na missão de Deus em Jesus Cristo, missão que envolve toda a pessoa em comunidade, a totalidade da criação e cada aspecto da vida.

A exposição bíblica baseada em Efésios 3, no dia seguinte, pôs em relevo a necessidade urgente que o Movimento de Lausanne tem de esclarecer teologicamente o conteúdo da missão do povo de Deus. Em contraste com o que se disse no dia anterior, o pregador designado para a quarta-feira afirmou que, se bem que a igreja se preocupa com toda a forma de sofrimento humano, ela se preocupa especialmente pelo sofrimento eterno e, consequentemente, está chamada a dar prioridade à evangelização dos perdidos.

Uma séria deficiência de Lausanne III foi não dar tempo para a reflexão séria sobre o compromisso que Deus espera de seu povo em relação à sua missão. Lamentavelmente, não houve tempo para dialogar sobre o Compromisso da Cidade do Cabo, sobre o qual o Grupo de Trabalho Teológico, dirigido por Christopher Wright, tinha trabalhado por um ano com a intenção de circulá-lo no começo do Congresso. Compartilhou-se o documento apenas na sexta-feira à noite, e não foram tomadas medidas para que os participantes escrevessem pelo menos seus comentários pessoais antes do encerramento da conferência em resposta a perguntas específicas. Segundo o Comitê Executivo, não havia tempo para isso! A postura negativa assumida pelos organizadores do programa a respeito da recomendação de um grupo de participantes anciãos interessados em conseguir que todos os participantes vissem o documento como algo seu, não apenas conspira contra esse propósito. É também um sinal de que o Movimento de Lausanne está ainda muito longe de alcançar a parceria sem a qual não tem base para se considerar um movimento global.

Em comparação com o tratamento que recebeu o documento produzido pelo Grupo de Trabalho Teológico, dedicou-se, na quarta-feira, toda uma sessão plenária à estratégia para a evangelização do mundo nesta geração — uma estratégia elaborada nos Estados Unidos baseada numa lista de “grupos de povos não-alcançados” preparada pelo Grupo de Trabalho Estratégico de Lausanne. Tal estratégia refletia a obsessão pelos números, típica da mentalidade de mercado que caracteriza um setor do movimento evangélico dos Estados Unidos. Por outro lado, segundo muitos participantes do Congresso que conhecem de primeira mão as necessidades de seus respectivos países em relação à evangelização, a lista de grupos de povos não-alcançados não fazia justiça à situação real. Curiosamente, não constava na lista nenhum grupo não-alcançado nos Estados Unidos!

Outra deficiência de Lausanne III foi que, como destacou o Grupo de Interesse em Reconciliação, não se fez nenhuma menção oficial ao fato de que o Congresso estava sendo realizado num país que até poucos anos estava dominado pelo Apartheid e ainda sofre a injustiça social resultante desta política. Na realidade, o Congresso realizou-se no Centro Internacional de Convenções que foi construído sobre o terreno que se reivindicou com os escombros do Distrito Sul da Cidade do Cabo quando, em 1950, esse distrito foi declarado uma zona exclusiva para brancos. Consequentemente, cerca de 60 mil habitantes negros foram expulsos da área à força e seus lares foram arrasados por completo. Entretanto, os organizadores da Cidade do Cabo 2010 fizeram ouvidos surdos ao pedido do Grupo de Interesse em Reconciliação que rechaçasse oficialmente “as heresias teológicas que deram sustento ao Apartheid” e lamentasse “o sofrimento sócio-econômico que é o legado atual do Apartheid”. Alguém pode se perguntar quão sério são os líderes do Movimento de Lausanne em seu compromisso com o Pacto de Lausanne, segundo o qual “a mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam” (parágrafo 5).

A parceria na missão e o futuro do Movimento de Lausanne

Um fato que hoje reconhecem e mencionam com frequência aqueles que têm interesse na vida e missão da igreja em nível global é que, nas últimas décadas, o centro de gravidade do cristianismo se deslocou do Norte e do Ocidente para o Sul e o Oriente. Apesar disso, com demasiada frequência os líderes cristãos do Norte e do Ocidente, especialmente nos Estados Unidos, continuam considerando que eles são os encarregados de desenhar a estratégia para a evangelização de todo o mundo. Como se afirma na página sobre o “Sexto Dia – Parceria” do livro que contém a descrição detalhada do programa do congresso, “o centro da liderança organizacional, do controle financeiro e das tomadas de decisão tende a permanecer no norte e no ocidente”.

Tristemente, o maior obstáculo para implementar uma verdadeira parceria na missão é a riqueza do Norte e do Ocidente; a riqueza que Jonathan Bonk, em seu importante livro sobre “Missions and Money” [Missões e dinheiro], descreveu como “um problema missionário ocidental”. Se é assim, e se o Movimento de Lausanne vai contribuir significativamente com o cumprimento da missão de Deus por meio do seu povo, chegou o momento de que a força missionária conectada com este movimento, incluindo seus estrategistas, renuncie ao poder do dinheiro e modele a vida missionária na encarnação, no ministério terreno e na cruz de Jesus Cristo.


René Padilla,
autor de O Que é Missão Integral? (Editora Ultimato), é um dos teólogos e pensadores protestantes latino-americanos mais conhecidos em todo o mundo. Nascido no Equador e residente em Buenos Aires, Argentina, é fundador e presidente da Fundação Kairós e da Rede Miqueias.

Texto enviado pelo autor para Editora Ultimato. Traduzido por Novos Diálogos.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Compromisso da Cidade do Cabo, parte um

Parte 1

O Compromisso da Cidade do Cabo consiste de duas partes. A Parte 1 é “O Que Cremos” e foi organizada por um grupo de teólogos de todo o mundo. A parte 2 está prevista para ser finalizada até dezembro. Será um chamado à ação, resultante da análise da discussão no Congresso.

Compromisso da Cidade do Cabo

INTRODUÇÃO

Como membros da igreja mundial de Jesus Cristo, com alegria firmamos nosso compromisso com o Deus vivo e com os Seus propósitos de salvação através do Senhor Jesus Cristo. Por Ele renovamos nosso compromisso com a visão e os objetivos do Movimento Lausanne.

Isto envolve dois pontos:

Primeiro: mantemos nosso compromisso com a tarefa de testemunhar de Jesus Cristo e dos seus ensinamentos em todo o mundo. O Primeiro Congresso Lausanne (1974) foi realizado visando à tarefa da evangelização mundial. Alguns dos principais benefícios deste congresso para a Igreja mundial foram: O Pacto de Lausanne; uma nova consciência do número de grupos de povos não alcançados; e uma nova descoberta da natureza holística do evangelho bíblico e da missão cristã. O Segundo Congresso Lausanne, em Manila (1989), deu origem a mais de 300 parcerias na evangelização mundial, muitas das quais envolveram co-operação entre nações de todas as partes do globo.

Segundo: mantemos nosso compromisso com os principais documentos do Movimento – O Pacto de Lausanne (1974) e O Manifesto de Manila (1989). Estes documentos expressam de maneira clara verdades básicas do evangelho bíblico e as aplicam à nossa missão prática de formas ainda relevantes e desafiadoras. Confessamos que não temos sido fiéis aos compromissos assumidos com esses documentos. Mas nós os reafirmamos e os legitimamos, ao mesmo tempo em que procuramos discernir como expressar e aplicar a verdade eterna do evangelho no mundo da nossa geração, mundo este em constante mudança.


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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Uma breve avaliação sobre o Cape Town 2010

Aconteceu entre os dias 17 e 25 de outubro passados o Terceiro Congresso Internacional de Evangelização Mundial, como parte integrante de uma linhagem de congressos convocados pelo segmento “Evangelical” da Igreja Evangélica internacional, tendo como ponto de partida o Congresso de Berlim, em 1966, passando pelo célebre Congresso de Lausanne, em 1974 e pelo sofrível Congresso de Manila em 1989.

Fui parte da delegação brasileira, composta por 90 delegados e 10 pessoas trabalhando na equipe de vountários.

A linda Cidade do Cabo não poderia ser um lugar melhor e mais sugestivo. Fica numa planície, entre uma montanha, a Table Mountain e o mar aberto.

Assim classifico o congresso: oscilamos entre: 1. o retrocesso para uma teologia fundamentalista norte-americana, que ainda tem na proclamação verbal do evangelho, na obtenção de convertidos a uma religião e na imposição de um método de evangelização, a estratégia primaz de sua missão, desconsiderando a integralidade da missão, a necessidade de se construir projetos que respeitem o contexto e o chamado de Jesus a fazermos discípulos e não convertidos, como enfatizou René Padilla em sua breve fala de 6 minutos; 2. e a riqueza, a criatividade e o progressismo de irmãos do mundo pobre, que nos impactaram com seus testemunhos de atuação em realidades tiranas para com as pessoas e hostis ao Evangelho.

PONTOS NEGATIVOS

1. Mau aproveitamento das plenárias – para que a manhã não fosse muito cansativa, dividiram as participações em períodos menores do que estamos acostumados. De fato não nos cansou, mas as abordagens foram muito superficiais, o que não se deu só pelo tempo, mas principalmente;

2. Reenfatização da linha que divide a evangelização da ação social – declarações feitas dentro de seminários e exposições, tais como essa de John Piper, onde disse que “precisamos salvar as pessoas de sua condição de pobreza mas, principalmente, da condenação eterna”, foram constantes e evidenciaram a triste realidade de que muitos ainda acham que salvar a “alma” é mais importante do que salvar a “vida” das pessoas.

PONTOS POSITIVOS

1. Pequenos Grupos - Todo o período da manhã, onde ouvíamos as exposições bíblicas e os debates, aconteceu no formato de “pequenos grupos”. Sentávamos em nossas mesas de seis pessoas, ouvíamos o que era dito e tínhamos longos períodos para discutirmos o tema abordado e o enriquecermos com nossas próprias experiências, o que potencializou o aprofundamento do tema e a oportunidade de conhecermos de fato pessoas de lugares e realidades muito diferentes. Meu “PG” tinha 5 pessoas: eu, fazendo a moderação, Francisco, presidente da Igreja Evangélica Livre da Espanha, Ylídio, pastor de 71 anos, fundador de uma denominação na Venezuela que tem mais de 30 mil membros, Dionísio, que trabalha preparando jovens pregadores na Colômbia, em parceria com a Fundação John Stott e Corina, uma alta executiva da Visão Mundial, que é responsável por toda área de “advocacy” da instituição em todo mundo e trabalha em parceria com a ONU. Foi um grande privilégio dividir histórias, orações e estudos com esses irmãos tão diferentes e com ministérios tão profícuos e longevos;

2. Testemunhos dos irmãos de países e realidades pobres e da igreja perseguida – Fui profundamente impactado pelas histórias que ouvi desses irmãos. Têm dado suas vidas pela causa do Evangelho, mesmo quando o “dar a vida” é literal. Renovei meu compromisso com Cristo ouvindo o testemunho da jovem Gyeong Joo Son . O sangue desses irmãos tem regado a terra e gerado vida. Não podemos viver nosso cotidiano, sem considerar que outros têm dado de si pelo Reino. Nossa espiritualidade “light” precisa ser revista. Fiquei feliz em ver que a “igreja do templo” pode até parecer doente e inoperante, mas a “igreja do deserto” , marginal e subversiva, continua vida e ativa.

Volto com um saldo positivo do encontro, pensado em como desdobrar tudo o que vi e ouvi. Um olhar global só faz sentido quando desemboca numa atuação local.

Seria impossível falar sobre a “Igreja Brasileira”, tão diversa, plural e pulverizada, mas penso que o segmento no qual estamos inseridos, corresponde à analogia que faço no título, “entre a montanha e o mar”. Se nos lançamos irresponsavelmente ao mar, corremos o risco de não aportarmos em lugar nenhum, se nos agarramos à montanha, perderemos novas paisagens, e sucumbiremos ao medo do desconhecido. Estar entre um e outro é buscar solidez teológica, sem apegar-se aos dogmas. É lançar-se ao desafiador mar da missão, sem o ufanismo de querer mudar todas as coisas.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

Sigamos em nosso desafio de subsidiarmos a prática de nossa missão com a boa reflexão, pois reflexão sem missão é academicismo e missão, sem reflexão, ativismo.


Frabicio Cunha
Os textos do Fabricio Cunha que se encontram nesse blog
são retirados do blog http://fabriciocunha.com.br/

Decretos de Natal

Fica decretado que, neste Natal, em vez de dar presentes, nos faremos presentes junto aos famintos, carentes e excluídos. Papai Noel será malhado como Judas e, lacradas as chaminés, abriremos corações e portas à chegada salvífica do Menino Jesus.

Por trazer a muitos mais constrangimentos que alegrias, fica decretado que o Natal não mais nos travestirá no que não somos: neste verão escaldante, arrancaremos da árvore de Natal todos os algodões de falsas neves; trocaremos nozes e castanhas por frutas tropicais; renas e trenós por carroças repletas de alimentos não perecíveis; e se algum Papai Noel sobrar por aí, que apareça de bermuda e chinelas.

Fica decretado que cartas de crianças só as endereçadas ao Menino Jesus, como a do Lucas, que escreveu convencido de que Caim e Abel não teriam brigado se dormissem em quartos separados; propôs ao Criador ninguém mais nascer nem morrer, e todos nós vivermos para sempre; e, ao ver o presépio, prometeu enviar seu agasalho ao filho desnudo de Maria e José.

Fica decretado que as crianças, em vez de brinquedos e bolas, pedirão bênçãos e graças, abrindo seus corações para destinar aos pobres todo o supérfluo que entulha armários e gavetas. A sobra de um é a necessidade de outro, e quem reparte bens partilha Deus.

Fica decretado que, pelo menos um dia, desligaremos toda a parafernália eletrônica, inclusive o telefone e, recolhidos à solidão, faremos uma viagem ao interior de nosso espírito, lá onde habita Aquele que, distinto de nós, funda a nossa verdadeira identidade. Entregues à meditação, fecharemos os olhos para ver melhor.

Fica decretado que, despidas de pudores, as famílias farão ao menos um momento de oração, lerão um texto bíblico, agradecendo ao Pai de Amor o dom da vida, as alegrias do ano que finda, e até dores que exacerbam a emoção sem que se possa entender com a razão. Finita, a vida é um rio que sabe ter o mar como destino, mas jamais quantas curvas, cachoeiras e pedras haverá de encontrar em seu percurso.

Fica decretado que arrancaremos a espada das mãos de Herodes e nenhuma criança será mais condenada ao trabalho precoce, violentada, surrada ou humilhada. Todas terão direito à ternura e à alegria, à saúde e à escola, ao pão e à paz, ao sonho e à beleza.

Fica decretado que, nos locais de trabalho, as festas de fim de ano terão o dobro de seus custos convertido em cestas básicas a famílias carentes. E será considerado grave pecado abrir uma bebida de valor superior ao salário mensal do empregado que a serve.

Como Deus não tem religião, fica decretado que nenhum fiel considerará a sua mais perfeita que a do outro, nem fará rastejar a sua língua, qual serpente venenosa, nas trilhas da injúria e da perfídia. O Menino do presépio veio para todos, indistintamente, e não há como professar o “Pai Nosso” se o pão também não for nosso, mas privilégio da minoria abastada.

Fica decretado que toda dieta se reverterá em benefício do prato vazio de quem tem fome, e que ninguém dará ao outro um presente embrulhado em bajulação ou escusas intenções. O tempo gasto em fazer laços seja muito inferior ao dedicado a dar abraços.

Fica decretado que as mesas de Natal estarão cobertas de afeto e, dispostos a renascer com o Menino, trataremos de sepultar iras e invejas, amarguras e ambições desmedidas, para que o nosso coração seja acolhedor como a manjedoura de Belém.

Fica decretado que, como os reis magos, todos daremos um voto de confiança à estrela, para que ela conduza este país a dias melhores. Não buscaremos o nosso próprio interesse, mas o da maioria, sobretudo dos que, à semelhança de José e Maria, foram excluídos da cidade e, como uma família sem-terra, obrigados a ocupar um pasto, onde brilhou a esperança.


Frei Betto

Natal, o ópio do povo

Uma vez ouvi um pastor dizer que duas classes de pessoas não podem sorrir muito, médicos plantonistas e pastores. Elas convivem constantemente com a dor das pessoas. Na verdade todos convivemos. Entretanto pastores e médicos são (ou deveriam ser) mais sensíveis que os outros, conhecem a fundo a alma e o corpo, têm nisso seu objeto de trabalho, não se familiarizam com a doença, não se acostumam com a dor, investem suas vidas na melhoria das dos outros.

Tenho percebido ultimamente um sentimento constante em meu coração. Não sei explicar direito. Choro com mais facilidade, presto atenção nas conversas de quem se senta ao meu lado em qualquer lugar, observo as pessoas com mais atenção, penso em minha família o tempo todo. Não sei o que está acontecendo mas tenho “gostado” de tal sentimento. Ele me aproxima mais da verdadeira realidade, das pessoas e de Deus. Realmente tenho sorrido um pouco menos.

Sempre fui e ainda sou muito alegre. Gosto de celebrar, de estar entre amigos. Mas rir, festejar e se alegrar todo o tempo é, no mínimo, fugir da realidade em que vivemos. É fugir dos outros, de seus problemas, de suas dores, de suas lágrimas e de nossas próprias. É por isso que não gosto tanto do Natal. Gostava quando era criança. Não gosto mais. É uma época de muitos sorrisos, mas de pouca realidade.

Se Karl Marx fosse vivo, diria: “O Natal é o ópio do povo”. Ele anestesia o cotidiano e traveste nossa realidade vexatória com uma fantasia de fraternidade e alegria plenas.

Alguns poucos vão revelar amigos secretos em meio a uma farta ceia de tipicidades, vão esperar a meia noite para dar o abraço contido e desejar “um feliz natal” sem saber o que isso significa e, quando chegarem em casa, seus filhos correrão ansiosos para procurar o presente deixado pelo “Papai Noel” em algum lugar da casa.

Um amigo de muitas posses tem feito, nos últimos três anos, um jantar de Natal muito especial. Ele aluga alguns ônibus e na noite de 24 de dezembro, sai recolhendo pessoas pelas ruas e em bairros pobres de nossa cidade. Reúnem-se num salão e lá, ele e uma equipe servem um belo “jantar de natal”. Sabemos que isso não resolverá o problema da fome nem da pobreza locais. Entretanto é nesse ambiente tão compensador que percebo que estamos mais próximos do que é a vida real. No último jantar perceberam uma senhora saindo com alguns copos cheios de comida do salão. Perguntaram o que ela iria fazer com aquilo e ela disse: “vou levar para minha filha que não pôde vir comigo”, emendou em seguida: “moço, esse foi o melhor natal da minha vida”. O melhor natal da vida dessa senhora que já havia passado por tantos deles. Não deu para conter as lágrimas. Em toda a ilusão desse dia a realidade falou e sempre falará mais alto.

Acabei de voltar de meu almoço. Almoço todos os dias. Tenho ido muito ao centro da cidade, onde, despercebidamente, posso ouvir histórias e observar pessoas. Cheguei ao local de praxe e meu lugar de costume estava ocupado. Era uma jovem, estética “assembleiana”, muito simples, mal vestida, já com alguns filhos. Olhei com reservas, afinal ela ocupava o “meu” lugar. Era um balcão e sentei-me dois bancos depois. Percebi que a dona do estabelecimento, uma japonesa sempre austera e carrancuda, estava, para meu espanto, carinhosamente insistindo para que ela e sua filha pequena comessem algo. Continuei a observar e ouvir. “E como vai a quimioterapia?”, perguntou a dona da lanchonete colocando, em seguida, uma sacola cheia de comida e um guardanapo com dinheiro nas mãos da jovem. Pensei: “Não é justo, Senhor!!!”. Uma jovem já com tantos filhos, com tanta dificuldade e na iminência de deixá-los órfãos por causa de um câncer. E como será o Natal dessas crianças. E como será o Natal dessa mulher?

Não interessa né?! Afinal o nosso lugar de praxe está garantido.

Ah é !?! Não sou médico, sou pastor.


Fabricio Cunha

O Papai Noel dos deputados

“Pior que tá não fica, vote Tiririca!” E não é que o deputado federal mais votado do país tem toda razão! Em pleno apagar das luzes da atual legislatura, deputados federais e senadores decidiram se dar um generoso presente de Papai Noel: aumento salarial de 62%.

A partir de fevereiro, os membros do Congresso passam a ganhar, por mês, R$ 26,7 mil. Hoje, ganham R$ 16,5.

Tudo aprovado em regime de urgência, com o desacordo de apenas 35 deputados federais, entre os quais a bancada do PSOL e Luiza Erundina, do PSB.

E vem aí o efeito cascata. A Constituição prevê que deputados estaduais podem ter remuneração de até 75% do valor dos vencimentos dos federais. E os vereadores não ficarão atrás. O aumento terá impacto de R$ 2 bilhões por ano nas contas públicas. E nós, contribuintes, pagaremos toda essa farra.

Não pense o leitor que o assalto aos cofres públicos se reduz a este aumento. Cada um dos 513 parlamentares da Câmara dos Deputados recebe, todo mês, além do salário, R$ 60 mil como verba de gabinete; verba indenizatória (hospedagem, combustível e consultoria) de R$ 12 mil; R$ 3 mil de auxílio-moradia; R$ 4,2 mil para telefone e correspondência; além de cota para passagens aéreas, cujo valor varia de R$ 6 mil a R$ 16,5 mil, dependendo do estado de origem.

Em resumo: um deputado federal custa por mês, ao nosso bolso, R$ 119.378,87, no mínimo, podendo este valor chegar a R$ 130.378,87.

E, com frequência, deputados enfiam no próprio bolso, através de “laranjas” e empresas-fantasmas, dinheiro de emendas parlamentares.

Tiririca, por concidência, visitou pela primeira vez o Congresso na última quarta-feira, dia em que os parlamentares se deram o valioso presente de Papai Noel. Não se conteve e declarou: “Cheguei na hora certa.” Tem razão.


Frei Betto

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal: Jesus ou Papai Noel

Aproxima-se o Natal. Curioso como, numa sociedade tão laicizada como a nossa, na qual predomina a tendência de escantear a religião para a esfera privada, uma festa religiosa ainda possa constituir um marco no calendário dos países do Ocidente.

Há nisso uma questão de fundo: o ser humano é, por natureza, lúdico e sociável, o que o induz a ritualizar seus mais atávicos gestos, como alimentar-se ou se relacionar sexualmente. Além de elaborar, condimentar e enfeitar sua comida, o que nenhum outro animal faz, o ser humano exige mesa e protocolo, como talheres e a sequência prato forte e sobremesa.

No sexo, não se restringe ao acasalamento associado à procriação. Faz dele expressão de amor e o reveste de erotismo e liturgia, embora o pratique também como degradação (prostituição, pornografia e pedofilia) e violência (jogo de poder entre parceiros).

O Carnaval, como o Natal, era originariamente uma festa religiosa. Nos três dias que antecedem a Quaresma, período de jejum e abstinência recomendados pela Igreja, os cristãos se fartavam de carnes – daí o termo Carnaval, festival da carne. Resume-se, hoje, a uma festa meramente profana, onde a carne predomina em outro sentido...

Essa transmutação ocorre também com o Natal. Por ser festa de origem cristã, para celebrar o nascimento de Jesus, a sociedade laica e religiosamente plural a descaracteriza pela introdução da figura consumista de Papai Noel. O que deveria ser memória da presença de Deus na história humana, passa a ser mero período de miniférias centrada em muita comilança e troca compulsiva e compulsória de presentes.

Daí o desconforto que todo Natal nos traz. Como se o nosso inconsciente denunciasse o blefe. Sonegamos a espiritualidade e realçamos o consumismo. Ótimo para o mercado. Mas o será também para as crianças que crescem sem referências espirituais e valores subjetivos, sem ritos de passagem e senso de celebração?

Longe de mim pretender restaurar a religiosidade repressiva do passado. Mas se há algo tão inerente à condição humana, como a manutenção (comer) e a procriação (sexo) da vida, é a espiritualidade. Ela existe há cerca de um milhão de anos, desde que o símio deu o salto para o homo sapiens. As religiões são recentes, surgiram há menos de dez mil anos.

Se a espiritualidade não é fomentada na linha da interiorização subjetiva e da expressão de conexão com o Transcendente, ela corre o sério risco de, apropriada e redirecionada pelo sistema, cair na idolatria de bens materiais (patrimônio) e de bens simbólicos (prestígio, poder, estética pessoal etc). Talvez isso explique por que a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas similares a catedrais pós-modernas...

Já não são princípios religiosos que norteiam a nossa vida. Desestimulados ao altruísmo e à solidariedade, centramos a existência no próprio umbigo – o que certamente explica, na expressão de Freud, “o mal-estar da civilização”, hoje acrescido desse vazio interior que gera tanta angústia, ansiedade e depressão.

Com certeza o Natal é ocasião propícia para, como propôs Jesus a Nicodemos, nascer de novo...


Frei Betto

sábado, 2 de outubro de 2010

Entre a Ficção e o Terror: o Papel dos Evangélicos nas Eleições

Quando os pioneiros do Protestantismo chegaram ao Brasil na segunda metade do século XIX a agenda política era muito clara: adquirir cidadania plena, pois sob a Constituição Imperial de 1824 apenas os homens brancos proprietários e católicos romanos detinham esse status. Não foi difícil para os protestantes defender a separação entre Igreja e Estado (Estado Laico), em uma “frente” com os liberais, os positivistas e os maçons, se envolver na defesa da Abolição da Escravatura e na implantação da República. Até porque eles aqui chegavam com uma ideologia de “destino manifesto”: trazer uma fé superior e o progresso, facilitada pela opção por uma escatologia pós-milenista ou a-milenista. Uma minoria com consciência de presença transformadora como “sal e luz”, o que se refletiu no papel pioneiro dos colégios (escola mista, escola profissionalizante, educação física, esportes), e o papel respeitável de nossos escassos parlamentares, tanto na Constituinte de 1934 e 1946, no movimento sindical (especialmente o rural no Nordeste) e em tantos outros episódios liderados por homens notáveis.

O Pentecostalismo “branco” optou por longos anos por um isolamento da esfera pública, apoiado pelo pessimismo histórico intrínseco à escatologia pré-milenista/pré-tribulacionista. O Golpe de 1964, a polarização da Guerra Fria, a presença do Fundamentalismo de origem norte-americana nos levou, nos anos 1970 ao terrível pensamento predominante: “Crente não se mete em política” ou “Política não é lugar para crente”. Todo o legado do passado foi esquecido, bem como o legado da história geral da Igreja, em termos de fatos e autores, fazendo surgir novas gerações desinformadas, sem conhecimento bíblico-teológico, histórico ou ético para o exercício de uma cidadania responsável e diferenciadora. A redemocratização do final dos anos 1980 trouxe os Pentecostais pela primeira vez para uma opção de participação, surgiram os neo-pentecostais, os históricos se retraíram e, sem nenhum conteúdo ou proposta diferenciadora os ex-alienados se “mundanizaram”, segundo as regras do jogo político brasileiro: corporativismo, clientelismo, o toma-lá-dá-cá, com o seu preço. Os resultados foram vergonhosos episódios de antitestemunho. Trocamos o “Crente não se mete em Política” pelo “Irmão Vota em Irmão” e as candidaturas oficiais.

Como corre solta a propina, o clientelismo, a troca de favores, a ética vai para o espaço, e o que importa é o “realismo” de quem pode trazer mais vantagens para as igrejas (canais de rádio e TV, terrenos, cargos), ao menosprezo dos partidos e com abertura para as alianças mais espúrias. Antes, matreiramente, se fazia o jogo do anticomunismo; hoje do perigo da perseguição religiosa, do secularismo, da agenda gay, etc. Uma coisa é travar uma batalha cultural com esses temas na academia, na imprensa, no aparelho de Estado (e temos que fazê-lo), outra coisa é cair de má fé em um maniqueísmo, e a opção por um candidato “salvador”, com quem se tem compromissos por debaixo dos panos, e instrumentalizar os crentes como massa de manobra.

Temos uma Constituição Federal, Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais que garantem o Estado Democrático de Direito; temos instituições cada vez mais sólidas, uma imprensa (empresa) relativamente livre, as candidaturas de coligação constroem programas que são um acordo sobre os pontos convergentes dos programas dos vários partidos que a compõem, os partidos têm correntes internas, enfim, o mundo político é algo bem complexo, que requer conhecimento para uma inserção competente e relevante. Não iremos muito longo na nossa influência sobre a sociedade, a cultura e o Estado brasileiro chutando santas ou demonizando (candidatas) pecadoras.

Enquanto os eleitores protestantes (a despeito da tentativa de controle e manipulação de alguns dos seus líderes) estarão pulverizados nos vários candidatos, refletindo a sociedade onde estão inseridos. E a conversa de “Irmão Vota em Irmão” não tem funcionado no caso de Marina Silva, membro da maior denominação evangélica do Brasil, com a sua estatura internacional, mas com ética de mais e possibilidade de troca de favores de menos, não tem recebido o apoio dos aguerridos pastores…

Que esse seja um tempo de reflexão e amadurecimento para o crescente contingente de eleitores evangélicos brasileiros, sem picaretagem, sem ingenuidade e sem paranoia.

Que Deus nos ajude!


Recife (PE), 10 de setembro de 2010,
Robinson Cavalcanti

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Religião: chave para dialogar com o povo

Para o histórico militante da Teologia da Libertação, na América Latina, longe de alienar, a religião é a chave para a transformação social

15/09/2010

Joana Moncau,

Desinformémonos

“Jamais haverá participação popular nos processos políticos latino-americanos sem incorporar a religiosidade do povo”, é o que afirma sem titubear o frei dominicano, jornalista e escritor, Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto.

Uma das principais referências da teologia da libertação no Brasil e com larga trajetória de lutador social, ocupa lugar privilegiado para versar sobre o tema. Não por acaso, seu livro “Fidel e a Religião” (1986) teve importante papel, segundo próprio bispo cubano, para "tirar o medo dos cristãos e o preconceito dos comunistas". Indubitavelmente, a reconciliação entre a Igreja Católica e o governo revolucionário cubano deve algo a Frei Betto.

No Brasil, militante dominicano desde sua juventude na época da ditadura (1964-1985), contribuiu para a realização de acontecimentos históricos. Entre eles a fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT, governo do qual chegou a formar parte em seu início com a eleição de Lula a presidência da república, em 2002.

Política, religião e comunicação. Na entrevista que segue Frei Betto, recorre a esses três pilares para nos deixar sua impressão sobre o atual momento político por que passa a América Latina.


Como frei dominicano e militante junto às bases populares na época da ditadura brasileira, como avalia a importância da Igreja Católica para as lutas sociais na América Latina, especialmente no combate às ditaduras que assolaram a região durante a década de 60? De lá para cá, mudou o perfil da atuação social da Igreja?

Frei Betto: Nos anos 1960 e 1980 a Igreja Católica, renovada pelo Concílio Vaticano II e pela conferência episcopal latino-americana em Medellín (1968), teve papel preponderante nas lutas sociais na América Latina. Através das Comunidades Eclesiais de Base e do advento da Teologia da Libertação, decorrentes da "opção pelos pobres", muitos militantes foram formados pela Igreja segundo o método Paulo Freire. Em países sob ditadura, como Brasil e Nicarágua, essa formação resultou em opção revolucionária. Diria que, de certo modo, as eleições recentes de Lula, Correa, Evo, Funes e outros têm a ver com esse processo pastoral.

Com o pontificado de João Paulo II e a queda do Muro de Berlim, iniciou-se a "vaticanização" da Igreja latino-americana. A Teologia da Libertação foi censurada; os bispos progressistas afastados; padres conservadores nomeados bispos etc. Hoje a Igreja Católica, embora abrigando grupos progressistas comprometidos com as causas populares, reflui na opção pelos pobres e busca situar-se numa suposta neutralidade frente aos conflitos sociais.

Qual a ponte entre o cristianismo e a luta armada?

Hoje, na América Latina, a luta armada só interessa a dois setores: fabricantes de armas e extrema direita. Governos como Lula, Chavez, Mujica etc demonstram ser possível realizar reformas estruturais pelas vias pacífica e democrática. Porém, a questão da relação cristianismo e luta armada está, em tese, equacionada desde o século XIII por meu confrade Tomás de Aquino. Em caso de opressão prolongada e sem outro recurso para se evitar um mal maior fora da resistência armada, então esta é justa e legítima. Nos anos 1960 e 80 isso se aplicava a países da América Latina sob ditaduras, o que explica os testemunhos de Frei Tito de Alencar Lima, Camilo Torres e tantos outros cristãos que participaram da luta armada. Esse mesmo princípio tomista levou João Paulo II a comemorar os 50 anos da vitória da resistência europeia contra o nazifascismo. E, como sabemos, a resistência atuou com armas.

As lutas sociais latino-americanas incorporaram símbolos e princípios do catolicismo (como a Nossa Senhora de Guadalupe no México, as místicas do MST, etc). É possível falar em alguma luta que seja genuinamente popular na América latina e que desconsidere a força do catolicismo e da religião?

Que eu saiba não há nenhuma força política progressista na América Latina que apregoe o ateísmo e seja antirreligiosa. Desde que Fidel acentou, na entrevista que lhe fiz em 1985 (livro "Fidel e a Religião") a importância da religião como fator de libertação, o preconceito praticamente terminou. Jamais haverá participação popular nos processos políticos latino-americanos sem incorporar a religiosidade do povo. Aqui a porta da razão é o coração e a chave do coração é a religião.

Considerando essas questões, como interpretar o caso da revolução cubana? Como avalia a situação por que passa o país hoje?

A Revolução cubana incorporou os valores religiosos do povo, tanto que teve líderes assumidamente cristãos, como Frank Pais e José Antonio Echeverría, bem como capelão, o padre Guillermo Sardiñas, que após a vitória mereceu o título de Comandante da Revolução.

Hoje Cuba passa por um período de excelente relações entre Igreja e Estado, a ponto deste permitir quea Igreja Católica faça a mediação que possibilita a libertação de presos de consciência.

Que papel os movimentos sociais desempenham hoje na política latinoamericana? No Brasil, pode-se dizer que foram a maior herança de resistência e organizaçao da época da ditadura?

Sem os movimentos sociais a América Latina não estaria vivendo essa primavera democrática representada por Lula, Chávez, Funes, Mujica, Evo, Correa, Lugo etc. No entanto, ocorre hoje um refluxo dos movimentos sociais, muitas vezes porque suas lideranças foram cooptadas para aqueles governos. A queda do Muro de Berlim, a influência do neoliberalismo e das novas tecnologias, o advento da pós-modernidade, são alguns dos fatores que explicam a desmobilização dos movimentos sociais, embora alguns permaneçam ativos, como o movimento indígena e, no caso do Brasil, o MST. O movimento indígena, graças à eleição de Evo Morales, o primeiro indígena presidente, ganha autoestima e, devido ao tema ambiental estar em pauta, também relevância, sobretudo na proposta do BEM VIVER, nos ensinando que devemos aprender a considerar o necessário como suficiente.

Quanto aos governos com origem na esquerda partidária e nos movimentos sociais que vêm se consolidando no cenário latinoamericano, é possível classificá-los como governos de esquerda?

Não, são governos progressistas e, alguns, como é o caso da Venezuela, até explicitam o socialismo como projeto político. Mas também estão longe de serem governos de direita ou conservadores. Dentro de possibilidades reais, e não ideais, atuam em favor dos mais pobres e sobretudo desarticulam o poder político das oligarquias tradicionais, embora elas prossigam com muito poder econômico.

Tendo acompanhado o partido e colaborado com o PT desde sua fundação, como o senhor avalia os 8 anos de governo Lula em relação à proposta inicial do partido? Como o senhor define sua relação atualmente com o PT e com Lula?

Lula fez o melhor governo de toda a história republicana do Brasil. Permitiu que 19 milhões de pessoas saíssem da miséria. Estabilizou a economia. Mas não fez nenhum reforma estrutural e nem qualificou a saúde e a educação. Escrevi dois livros de avaliação do governo Lula: A MOSCA AZUL e CALENDÁRIO DO PODER (editora Rocco). Apesar das limitações, penso que é importante dar continuidade do governo do PT.

Como jornalista e escritor, qual o papel da comunicação para a transformação social? A comunicação ainda é o Quarto Poder? Como enfrentar esse poder?

A comunicação não é mais o quarto poder, é o primeiro. Vide o papel do marketing eleitoral nas campanhas políticas. Ocorre que os grandes veículos de comnicação se encontram em mãos da elite conservadora. Um dos desafios a serem enfrentados pelos setores progressistas é o de encontrar alternativas à comunicação controlada pelos monopólios poderosos.

Esteve preso por 4 anos. Como essa experiência interferiu na sua vontade de lutar contra a ditadura e as injustiças sociais?

Ao contrário, foi a minha militância por justiça social e contra a ditadura que me levou à prisâo. Esta apenas reforçou minha decisão de estar sempre ao lado dos oprimidos, ainda que aparentemente eles não tenham razão.

O senhor já escreveu mais de 50 livros, em quantas linguas já foi traduzido? Qual dos seus livros recomenda para nossos leitores que queiram conhecer melhor o Frei Betto?

Minhas obras já foram traduzidas em 32 idiomas e 23 paises. Para o leitor latino-americano sugiro obras em espanhol editadas em Cuba: Fidel y la religion; La obra del artista - una vision holística del Universo; Un hambre llamado Jesús (novela). E deve sair em breve La mosca azul.


retirado do site brasildefato.

Chega de iniquidade

À igreja brasileira,

Nós, do Evangélicos pela Justiça – EPJ, somos um movimento de evangélicos e evangélicas, organizados visando à busca da justiça do Reino de Deus no enfrentamento dos problemas sociopolíticos.

Queremos, com esta declaração, trazer um apelo às nossas igrejas a fim de contribuir com sua maturidade em meio a cada vez maior engajamento em questões sociopolíticas. Após um longo período de “apoliticismo”, líderes evangélicos passaram a defender, com a redemocratização, a participação política dos evangélicos. Saudamos este novo ativismo e militância política que trouxe a comunidade evangélica para a discussão dos rumos do país!

Embora haja alguns exemplos de fidelidade ao espírito do Evangelho e participação responsável na política os quais é necessário reconhecer, as últimas eleições e processos políticos têm testemunhado que, embora cada vez mais presente no jogo político, a participação dos evangélicos tem produzido, na maioria dos casos, mais vergonha que testemunho ético pela causa da justiça e do direito: troca de votos por concessões de rádios e canais de TV, envolvimento em escândalos, todo tipo de rendição aos vícios da política brasileira como o nepotismo, o clientelismo e o patrimonialismo, e a mentalidade de curral eleitoral e defesa de interesses corporativos. Infelizmente, a maioria desses problemas decorre da falta de princípios coerentes com o evangelho por parte de determinadas igrejas e pastores na compreensão do papel das igrejas na arena política, mas também da falta de experiência participativa de muitos irmãos e irmãs. Isto produz concepções e práticas distorcidas sobre a política.

À luz de recentes declarações de alguns pastores com o fim de “demonizar” certos partidos e candidaturas e sua repercussão na comunidade evangélica, fato que não é novo na história recente de sua participação política, gostaríamos de chamar a atenção para a necessidade de reflexão sobre alguns pontos:

1. Infelizmente, muitos têm se desmotivado a exercer suas obrigações como cidadãos e cidadãs responsáveis, emitindo sua opinião, votando de forma séria e consciente e acompanhando representantes e governos eleitos, em virtude de sucessivos escândalos e de estruturas partidárias e governamentais que não incentivam a participação cidadã consequente. Apesar de tudo, motivados pelo compromisso com o evangelho, acreditamos que é fundamental a participação no processo político-eleitoral e no enfrentamento dos problemas sociais para a construção de uma sociedade mais justa para todos conforme nos ensinam as Escrituras e o exemplo de Jesus.

2. O período das eleições é um momento extremamente importante para o destino do povo brasileiro. Nossas igrejas podem e devem contribuir significativamente para a construção e fortalecimento da democracia. Defendemos que a democracia pode ser fortalecida com o engajamento ético e prático de nossas lideranças e igrejas nos momentos eleitorais, sobretudo através de momentos de formação que permitam aos seus membros adquirir uma visão crítica da realidade política e social para que não sejam facilmente enganados por fatos infundados, por corruptos ou por aqueles que querem enriquecer às custas do sofrimento do povo.

3. Para isso, sustentamos que boas ponderações políticas devem acontecer em espaços abertos ao diálogo com a participação de diferentes vozes. Nesse sentido, alertamos para o fato de que nossas igrejas são formadas por pessoas que defendem diversos candidatos de diversos partidos políticos e todos merecem respeito em suas escolhas como cidadãos e cidadãs. Qualquer tentativa de manipulação, coerção religiosa ou campanhas difamatórias pode enfraquecer a democracia, promover animosidades, transformar igrejas em currais eleitorais e produzir um péssimo testemunho perante a sociedade.

4. Rejeitamos, portanto, como sendo indignos do evangelho e da nossa herança reformada qualquer tipo de terrorismo eleitoral, formação de curral, demonização de candidatos e partidos — sejam quais forem — e ataque à liberdade de pensamento e expressão política nas nossas igrejas. Não negamos o direito a qualquer defesa de considerações ou opiniões a favor ou contra projetos de lei ou planos governamentais, pelo contrário. Todos necessitam ser amplamente debatidos e conhecidos pela população. Ao mesmo tempo, é ingenuidade política ou manipulação ideológica pregar purismos partidários. Também o é ignorar que a manifestação de opinião que incita à discriminação e/ou à violência não pode ser admitida numa sociedade democrática. Não existem partidos políticos e candidatos perfeitos. Qualquer leitura política e escolha eleitoral devem considerar a coerência com TODOS os valores do Evangelho, não apenas alguns, que se apliquem àquela situação, buscando avaliar conjunturalmente aqueles programas de governo que contribuam para a melhoria das condições de vida da maioria dos brasileiros e brasileiras, e mais se aproximem, assim, do princípio do amor ao próximo como a Deus que é a regra áurea do Evangelho.

5. Quanto a recentes declarações sobre a institucionalização da iniquidade no Brasil, nos perguntamos se nesse conceito cabem também as péssimas condições de saúde, educação, moradia, trabalho e renda, na cidade e no campo; se cabe a desfaçatez das elites brasileiras que há mais de 500 anos institucionalizaram a opressão da maioria da população brasileira, primeiro do indígena, depois, e ainda, dos negros, e das classes populares, entre outros grupos e segmentos; se cabe o racismo institucionalizado que nega direitos por causa da cor da pele; se cabe a violência institucionalizada que mata milhares de jovens a cada ano; se cabe a discriminação institucionalizada contra a mulher que ainda sofre violências e preconceito no mercado de trabalho, no lar e nas igrejas; se cabe o descaso institucionalizado com as crianças e os jovens aos quais lhes é negado o direito à vida digna; se cabe o descaso institucionalizado com os que vivem no campo, sem terra e sem condições de subsistência; se cabe o descaso institucionalizado com os idosos e idosas que contribuíram a vida inteira com o seu trabalho mas que não têm direito a uma aposentadoria e saúde decentes; se cabe a caricatura de grupos minoritários; e assim por diante. Sem negar as mudanças de valores por que passa a sociedade brasileira no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, os quais necessitam ser discutidos democraticamente, semelhantemente ressaltamos a necessidade de se combater a iniquidade que assalta a vida nas suas mais diferentes expressões, algumas das quais elencadas acima.

6. Considerando o que foi dito acima e seu compromisso com os valores do Evangelho, o movimento Evangélicos pela Justiça (EPJ) recomenda o voto naqueles candidatos e candidatas e programas de governo que sustentam a superação das históricas desigualdades brasileiras, que não signifiquem retrocesso nas conquistas dos direitos sociais, culturais e econômicos, que não criminalizem os movimentos sociais e a luta da sociedade civil organizada, que defendam políticas públicas que garantam desenvolvimento com justiça e sustentabilidade para as próximas gerações, e que levem o Brasil a defender posições internacionais comprometidas com a justiça e equilíbrio geopolíticos.

Nesse espírito, dizemos CHEGA DE INIQUIDADE! e conclamamos a todos a se engajar tanto nesse período eleitoral como após o mesmo, buscando mais justiça para todos e a diminuição do sofrimento de nosso povo.

Felizes os que têm fome e sede de justiça!


24 de Setembro de 2010

EVANGÉLICOS PELA JUSTIÇA – EPJ
www.epj.org.br

O "eixo do mal" em terras brasileiras

Pelas mais variadas razões, diferentes amigos e, quem sabe, alguns inimigos, me mandaram um vídeo do pastor Paschoal Piragine, com o sugestivo aviso: “Corremos perigo. Repassem, por favor, antes que seja tarde demais”. Levei um susto e, imagino, essa era exatamente a ideia. Tema: a iniquidade e em quem (não) votar nas próximas eleições. O perigo da “institucionalização da iniquidade” que se avizinha: 3 de outubro.

Considerando o assunto — campanha política —, nada de novo. As eleições são pródigas em vídeos, CDs e gravações, digamos, apócrifos, sobre demônios, comunistas, entre outros tipos de anticristos que, não muito tempo depois do pleito, passam a frequentar os mesmos salões dos religiosos.

O medo e a desconfiança também fazem parte do jogo político. Nem sempre um jogo limpo. Mas a luta pela não institucionalização da iniquidade não é nova. Vou poupar o leitor e vou direto ao ponto. Talvez, tal institucionalização seja fruto do constantinismo, tantas vezes chamado ingenuamente de “bênção de Deus” por nós evangélicos: telhas, praças da Bíblia, terrenos, dia disso, dia daquilo, entre outras sinecuras. Constantinismos daqui e dalém-mares. No governo e na igreja de hoje, no governo e na igreja de ontem.

Como alerta, para além da política eleitoral, faço coro com o pastor Piragine: “Nós não queremos a iniquidade institucionalizada no Brasil”. É bom que o cidadão e, vá lá, o eleitor cristão conheçam a história do “seu” candidato. Saibam por onde andou, com quem andou, se está a serviço de alguém — grupo, partido, empresa, ONGs, igreja, movimentos. No entanto, é preciso cuidado com a tentação — que podemos chamar de “tentação Copa do Mundo”, aquela que acontece de quatro em quatro anos — de traçar uma linha divisória entre o bem e o mal em terras brasileiras. É bom lembrar N. T. Wright sobre o assunto: “A linha que separa o bem e o mal não passa entre “nós” e “eles”, mas sim por cada indivíduo, por cada sociedade”.

E, por falar em eleições, é preciso ser prático. Não faz muitos dias, mais de 3 mil homens (policiais civis e militares) fizeram a segurança da 14ª Parada do Orgulho Gay em São Paulo, na Avenida Paulista e na Rua da Consolação. Os investimentos bateram a casa de 1 milhão de reais, por parte da Prefeitura Municipal de São Paulo. Uma semana antes do evento, o coordenador geral da Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual, Franco Reinaudo, não deixava dúvidas: “A parada pretende ser mais organizada e segura do que a edição de 2009. Usaremos [os recursos] para melhorar a infraestrutura para atender melhor munícipes e turistas”. Ao final da festa, que reuniu 3 milhões de pessoas, o representante do governo municipal arrematou: “Este é o nosso Natal”...

Enfim, não sem ironia, podemos respirar aliviados: a iniquidade já está “institucionalizada”. E, diga-se de passagem, em São Paulo, onde a cidade e o estado, não é de hoje, têm governos de oposição ao temido partido que tomou conta do Palácio do Planalto. Devo repetir. O alerta é válido e, de fato, “Deus não tolera a iniquidade”. Acrescento: não importa o partido. Mas ela tem data de validade; apenas não arriscaria a dizer que é 3 de outubro. De qualquer modo, parafraseando o texto bíblico, não é bom confiar em príncipes, quer do PT, do PSDB, do DEM, nem mesmo em príncipes evangélicos.


Marcos Bontempo
retirado do site da Ultimato.

Democracia Versus Iniquidade: O purismo religioso à disposição do retrocesso democrático

... vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz ...
(Zé Ramalho)

Nestas últimas semanas, muitos evangélicos, sobretudo batistas, foram naufragados com e-mails que sugeriam ufanisticamente assistir a uma proposta do Pr. Paschoal Piragine de não votar, nesse pleito democrático de 2010, no Partido dos Trabalhadores (PT). Não atentando obrigatoriamente às leis eleitorais que regem democraticamente o seu país (1), o Pr. Piragine, no início de sua homilia política, construiu o axioma de sua fala associando, forçosamente, à pregação cristã, um conceito de pureza étnica ao lado de outro, o de unidade nacional antigotestamentária, ambos sob a flâmula escatológica da “iniquidade” – um conceito de exclusão social que os próprios fariseus usaram contra Jesus Cristo (que, para eles, era um iníquo e que, por isso, merecia a morte, a morte de cruz[2]). Em passo seguinte, sem lembrar dos conflitos religiosos dos séculos XVI ao XVIII que, inclusive, retalharam mortalmente reformadores e protestantes (3), o pastor associou culposamente ao Partido dos Trabalhares e ao terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, o problema do homossexualismo, da homofobia, do infanticídio indígena, da pedofilia, do fim da liberdade religiosa, da pornografia, do divórcio, da violência familiar, do homicídio familiar, do esquartejamento de feto, da pobreza etc. Sem querer defender a coligação PSDB e DEM (antigo PFL da ditadura torturenta e militar), ou do Partido Verde, PSTU, PCO, PT, PSDC, PRTB ou PCB, quero questionar a posição política do pastor Piragine, um pastor que se quer fazer teólogo da Missão Integral da Igreja – mesmo que usada como estratégia de crescimento de Igreja.

Democracia e Intolerância sob o ponto de vista da Teologia Cristã Política

À luz das Teorias do Direito contemporâneo de Jürgen Habermas (4) e de John Rawls (5), as perspectivas sócio-democráticas dos nossos tempos respondem à pluralidade de valores e, sobretudo, às necessárias garantias dos direitos individuais. Estas teorias democráticas se acenderam devido aos conflitos sangrentos da noite de São Bartolomeu, do conflito religioso na cidade de Münzer, dos massacres aos trabalhadores acontecidos no período da Revolução Industrial, do massacre étnico promovido pelo Nazismo a partir de um princípio de iniquidade religiosa, moral e étnica: conflitos de ontem, conflitos de hoje. Assim, as Teorias Democráticas do Direito indicam ser necessário que os princípios reguladores das sociedades que pretendem ser democráticas se balizem pela Declaração dos Direitos Humanos. Ora, a luta ideológica destes pensadores, ao defenderem a Democracia e os Direitos Fundamentais, visa contornar as compreensões particulares e intolerantes de mundo que, entre várias possibilidades, objetiva associar liberdade individual à prática da iniquidade religiosa.

A luta pela dissolução da democracia e a ressurreição das compreensões particulares de iniquidade são responsáveis pela morte de evangélicos e católicos no mundo islâmico fundamentalista, é responsável pela morte de torcedores de futebol (palmerenses, flamenguistas, vascaínos, hooligans e muitos outros), foi responsável pelas mortes históricas de negros e índios cometidas inclusive por evangélicos batistas e presbiterianos nos EUA, pela vergonhosa perseguição e preconceito aos bolivianos no subúrbio de São Paulo, pelo preconceito aos nordestinos e pela perseguição fatal ao cristianismo e ao seu fundador nos anos que vão do 34 ao 40 de nossa era cristã.

Em épocas de profundas crises sociais, o ufanismo irrefletido procura culpar a diversidade cultural pelos problemas que lhe sejam atuais: o governo republicano de Bush não revelou ao seu país que o próprio governo americano (nas gestões executivas dos republicanos) tinha militarizado o Iraque de Saddam Hussein e as milícias de Osama Bin Laden na luta contra o Irã e a antiga União Soviética respectivamente, e, após alguns anos, deu andamento a vários massacres militares, pois o julgaram como culpados pela crise sócio-econômica que explodiu nos anos de 2008 e 2009, e porque eram fracos – considerando que os EUA não têm coragem de invadir Cuba, China (a sua maior aliada comercial e cambial) e Irã; a Alemanha nazista queria culpar os judeus, os ciganos, os eslavos etc., por sua crise sócio-econômica surgida após a primeira guerra mundial. Há vários exemplos de como a ideia de iniquidade surge como medida para excluir o outro para que, assim, se implante um regime político ou religioso purificado da democracia, e sob o terror da justiça apocalíptica de JHWH, Alá, Deus, do Estado Comunista (que é completamente diferente das políticas que se autodiferenciam destas quando se apresentam como socialistas) e, por mais absurdo que possa parecer a todos, de Jesus Cristo (6).

Assim, as discussões sobre a Democracia Deliberativa e sobre os Direitos Universais da Mulher e do Homem, não podem ser vistas sob a ótica da iniquidade religiosa. Immanuel Kant (7) ensina que a convivência política só caminha sob a perspectiva da liberdade e da garantia da individualidade recíproca. Soberanamente, Jesus nos ensina que o outro, mesmo que este seja o Samaritano iníquo (sob o ponto de vista da TORAH farisaica), não deve ser portador de um julgamento moral ou de retaliação social, mas de amor, de amor integral.

No mundo encontrado por Jesus havia absolutizações que escravizavam o homem: absolutização da religião, da tradição e da lei. A religião não era mais a forma como o homem exprimia sua abertura para Deus, mas se substantivara num mundo em si de ritos e sacrifícios. Liga-se à tradição profética (Mc. 7,6-8) e diz que mais importante que o culto é o amor, a justiça e a misericórdia (8).

Indo em colisão aos ensinos de Cristo presentes nos quatros Evangelhos, o Pr. Paschoal Piragine ressuscitou o conceito de iniquidade etnocêntrica usando inteligentemente um mecanismo de manobra ideológica entre palavras e vídeos: vídeo não explica, seduz e co-move; púlpito é espaço de homilia e não de política (ação que exige argumentação e debate público entre opositores). Por este mecanismo de irreflexão e empunhando um ufanismo autodestrutivo, o pastor da Primeira Igreja Batista de Curitiba desferiu a ação curralesca de dirigir os votos de uma Igreja num pleito que se pretende democrático: “não votem ...!”, em nome de uma religião purificada da iniquidade. Contudo, mutatis mutandis, se o Pastor Piragini levar às últimas consequências a sua ética da luta veemente contra a iniquidade e, por isso, começar a ver per se que os seus aliados, alguns bispos da CNBB (ou mais especificamente da Canção Nova?) e outros, não cristãos, que ele diz estarem afins a esta luta, não se adequam ao seu conceito de iniquidade? Ele os trairá pedindo para que a Constituição do Brasil suspenda o direito do catolicismo, do espiritismo, do luteranismo, do presbiterianismo, do pentecostalismo, das religiões indígenas, do ateísmo, dos batistas arminianos, dos batistas calvinistas, dos batistras tradicionais, dos outros batistas que não sejam da Primeira Igreja Batista de Curitiba, dos batistas que não sejam ele mesmo? Deste modo, pode-se ver que a iniquidade parece ser mais uma ideia subjetiva que o respeito e o amor ao próximo; quando a ideia da iniquidade tem mais peso em vídeos programados para iludirem que as palavras de Jesus, então o conceito de iniquidade deixa de ser divino para ser malévolo.

A iniquidade não pode estar atrelada ao conceito de pureza étnica (9) ou religiosa. Há profundas diferenças entre os conceitos de iniquidade desenvolvidos em passagens do primeiro testamento cristão e aqueles desenvolvidos no segundo testamento cristão. A luta da Igreja de Cristo é por antecipar o Reino de Deus, gozando o eu paráclito e exercendo a transparência de Cristo. A Missão Integral da Igreja de Cristo não deve promover uma batalha da integridade moral burguesa e excludente, mas da integridade humana daqueles que precisam ser filhos de Deus. Se for assim, um pleito democrático sobre a integridade não pode nascer daqueles que sentam em dízimos e constituem abastardas propriedades, mas de todos que queiram lutar por dignidade e que precisam de Deus.

A Missão Integral não é uma experiência teológica onde se discute crescimento estratégico de Igreja, pois não é uma teologia da propaganda concorrencial de marketing mercadológico (10). Antes, a Missão Integral da Igreja é a reflexão de nossa Missão em Cristo que não condena e, por isso, não pede a crucificação ou o banimento constitucional do diferente, do outro. Todas as vezes que a Igreja retroagir à democracia em nome de uma iniquidade humana, ela pedirá a crucificação de Cristo, tal como os fariseus o fizeram. Cristianismo não é estratégia nem para crescimento de Igreja e nem para falsidade político-ideológica. Com John Stott (11), vejo a Missão Integral da Igreja Cristã como uma experiência de repensar a atitude de relação social da igreja com seu tempo, associando-se radicalmente ao Deus encarnado (Cristo Jesus) que nos abre o véu da ignorância e nos chama a dialogar e a cuidar de todos: bons e ruins, ricos e pobres, fortes e fracos.

Existe uma segunda razão por que as pessoas desenvolveram uma aversão pela idéia de conversão. Diz respeito à impressão de imperialismo arrogante que alguns evangelistas às vezes dão (12).

O que nos é proibido é toda retórica tendenciosa, toda manipulação deliberada de resultados, toda artificialidade, hipocrisia e representação, toda atitude de colocar-se em frente a um espelho com o objetivo de, conscientemente, planejar nossos gestos e caretas, toda autopropaganda e autoconfiança. De maneira mais positiva, devemos ser nós mesmos, ser naturais, desenvolver e exercitar os dons que Deus nos deu e, ao mesmo tempo, depositar nossa confiança não em nós mesmos, mas no Espírito, que concorda em operar por meio de nós (13).

Com Jürgen Moltmann, visualizo um imperativo à Igreja de Cristo de vivência pela integridade humana, onde esta comunidade humana de Cristo surja no mundo como antecipação do Reino de Deus (14). A luta pelo novo que vem de Deus é viver, sobretudo, uma fé pascoal (mas não Paschoal) em Cristo – Ele mesmo, filho de Deus, que foi preterido por uma população extasiada (talvez expressando sua opinião por meios de palmas efusivas) que gritou e apoiou veementemente pela libertação de Barrabás.

Considerações Finais

É difícil pedir para que a Igreja de Cristo jogue pedra caluniosa em nome de uma hipotética iniquidade. Nem a mulher adúltera, Estevão, os ladrões, os assassinos, eu mesmo, os homossexuais, os pobres, as crianças que morrem nos lixões de Curitiba (por causa do modelo monetário capitalista – a moeda que tem o rosto de César – que é a mesma que constrói grandes Igrejas Evangélicas), nem mesmo as crianças indígenas que morrem por problemas culturais, por doenças trazidas pelos comerciantes, por ladrões, por missionários bons e maus etc., devem ser objeto de julgamentos, mas de cuidado e amor. Quem deve ter direito à justiça? Quem deve ter direito à igualdade?

É tempo da Igreja de Cristo no Brasil descobrir que ela não vive mais em sociedades absolutistas. Se isso for verdade, o regime democrático que rege constitucionalmente o nosso país pede para que todos exerçam sua cidadania, conheçam a Constituição Federal e participem dos fóruns públicos visando a uma melhor regulamentação do direito público e do privado, sempre à luz da Declaração dos Direitos Humanos. Se alguém satanizar os Direitos Humanos, esse estará satanizando a garantia da liberdade religiosa dos batistas, presbiterianos, católicos, espíritas, negros, índios, brancos, pardos etc. Sem o direito do outro, não há o meu direito; sem o meu direito, não há o direito do outro. Se Deus não amar e cuidar do outro, por que ele haveria de amar e cuidar de mim? Se Deus cuida e ama a mim, por que ele não haveria de amar e cuidar de outros além de mim mesmo?


Referências Bibliográficas

BOFF, Leonardo. Paixão de Cristo, paixão de mundo: os fatos, as interpretações e o significado ontem e hoje. Petrópolis: Vozes, 2007, pp. 28-29.
CRÜSEMANN, Frank. “A Torah no pentateuco: desafio e qustionamento” in: A Torá. Teologia e história social da lei do Antigo Testamento. Petrópolis: Vozes, 2002, pp. 11-34.
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FERRY, Luc. Filosofia Política. El derecho: la nueva querella de los antiguos y los modernos. México: Fondo de cultura económica, 1991.
GRAY, John. Missa negra. Religião apocalíptica e o fim das utopias. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 2008.
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STOTT, John. A missão integral da Igreja no mundo moderno. Viçosa: Ultimato, 2010.

Notas

(1) Lei 9.504/97 regulamentada pelo artigo 13 da Resolução 22.718/2008 do TSE.
(2) Sobre a relação entre o código de ética farisaico que anexa a pureza “étnica” à “ iniqüidade religiosa”, cf. MOXNES, Halvor. “Regras de pureza e ordem social” in: A economia do Reino: conflito relações econômicas no Evangelho de Lucas. São Paulo: Paulus, 1995, pp. 99-106. Sobre os problemas de interpretação surgidos a partir de relações teológicas não refletidas entre os códigos da Torah e o Novo Testamento cristão, cf. CRÜSEMANN, Frank. “A Torah no pentateuco: desafio e qustionamento” in: A Torá. Teologia e história social da lei do Antigo Testamento. Petrópolis: Vozes, 2002, pp. 11-34.
(3) CHRISTIN, Olivier. La paix de religion. L´autonomisation de La raison politique au XVI siècle. Paris: Seuil, 1997.
(4) Cf. HABERMAS, Jürgen. “O direito como categoria da mediação social entre facticidade e validade” in: Direito e Democracia. Entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, pp. 17-63.
(5) RAWLS, John. O direito dos povos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
(6) GRAY, John. Missa negra. Religião apocalíptica e o fim das utopias. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 2008.
(7) RAWLS, J. História da filosofia moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
(8) BOFF, Leonardo. Paixão de Cristo, paixão de mundo: os fatos, as interpretações e o significado ontem e hoje. Petrópolis: Vozes, 2007, pp. 28-29.
(9) A antropóloga inglesa Mary Douglas afirma que as religiões étnicas aprofundam sua demonologia do outro a partir de uma cosmovisão que substancializa o cumprimento das éticas nacionais e a rejeição das outras formas de vida como a única forma de garantir a estabilidade sócio-econômica. Para mais, cf. DOUGLAS, M. “A impureza ritual” in: Pureza e perigo. Lisboa: Edições 70, (s/d), pp. 19-42.
(10) Com a obra Crescimento integral da Igreja. Um crescimento em múltiplas direções (São Paulo: Vida, 2006), Piragine não percebe que o paradigma da Missão Integral foge à lógica estratégica da correlação marketeira entre “crescimento” e “evangelização”.
(11) STOTT, John. A missão integral da Igreja no mundo moderno. Viçosa: Ultimato, 2010.
(12) Idem, ibdem, p. 132.
(13) Idem, p. 154.
(14) MOLTMANN, Jürgen. Vida, esperança e justiça. Um testamento teológico para a América Latina. São Bernardo Campo: Editeo, 2008.


Retirado do site novosdialogos.
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