terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Resgate da Esperança

Tenho caminhado por muitos lugares e visitado igrejas das mais variadas confissões. E tenho presenciado manifestações inconfundíveis do verdadeiro Evangelho. O Evangelho é, por natureza, de difícil comercialização. Não se consegue vender virtudes; jamais conseguiremos vender o projeto da cruz, ou alienar por determinada quantia o perdão divino. Quem, afinal, pagaria para entregar a face ao perverso?

Quantas pessoas estariam dispostas a pagar para sofrer por amor a Cristo? Quantos de nós pagaríamos para nos engajar na causas pela justiça? E quantos ricos aceitariam o Evangelho se tivessem que entregar metade dos seus bens aos pobres e ainda pagar, quatro vezes mais, àqueles a quem houvessem defraudado?

Encontro comunidades que vivenciam com profundidade a natureza do Evangelho. Uma delas é a Igreja Batista de Bultris, em Olinda (PE). É uma comunidade de pessoas, em sua maioria, pobres. Por opção, aqueles crentes construíram um templo sem janelas e portas, com o único propósito de servir como espaço de abrigo aos transeuntes sem-teto.

Ali, os empobrecidos do bairro são acolhidos. A congregação participa dos conselhos municipais e possui núcleos para formação de bancos comunitários em parceria com entidades de educação e serviço para empreendedores pobres. A igreja em Bultrins promove anualmente um fórum de prática e reflexão teológica para representantes de várias comunidades cristãs do Nordeste – assim, consegue passar essa visão e influenciar a vida de muitas outras pessoas.

Conheço de perto também a organização Crianças do Brasil para Cristo, o CBC, formada por membros de várias igrejas em Fortaleza (CE). O CBC não recebe apoio de nenhuma instituição internacional.

Todo custo para apoio escolar, alimentação e socialização de crianças e adolescentes através de atividades esportivas e culturais são provenientes de doações individuais e serviços voluntários, beneficiando mais de 300 menores. Vários daqueles jovens ingressaram na universidade; outros abandonaram a violência e retomaram o caminho dos estudos.

Trata-se de pequenas iniciativas? Por certo. Mas, somadas, elas podem nos surpreender por seus resultados. Sem dúvida alguma, os cristãos têm potencial para fazer muito mais. Há ainda muitos recursos sub-utilizados.

Os dados estatísticos nos indicam que a grande massa evangélica brasileira é ainda composta pela soma das pequenas comunidades, e não pelos grupos evidentes na mídia.

Elas estão distribuídas nas periferias urbanas; nas encostas dos morros; nas regiões ribeirinhas; no semi-árido nordestino. São crentes em Jesus que moram à beira do caminho – à margem dos direitos e à beira da miséria; à margem dos hospitais e à beira da morte; à margem das escolas e à beira da ignorância; à margem do trabalho e à beira da fome.

Por outro lado, esta parte do Corpo de Cristo permanece à margem da competitividade, mas diante da solidariedade; à margem da acumulação, mas vizinha da partilha; à margem do lucro, mas próxima da gratuidade; à margem do individualismo, mas de braços abertos para a fraternidade. Eles me ajudam a interpretar e entender a manjedoura, a encarar o sofrimento, a encontrar no calvário sinais de vida e ressurreição.

Eles podem me trazer lembranças das coisas que resgatam a esperança da vida. Deus continua se revelando de maneira estranha e em lugares imprevisíveis – e nós não percebemos.


Carlos Queiroz

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Conceituando Missão Integral

Segue exposição do Pr Ed Rene Kivitz sobre Missão Integral feita no CEMESP.




A Deus Somente A Gloria,
Ricardo A. da Silva

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Compreensão da palavra

Este não vive num vazio, mas numa situação histórica concreta, em uma cultura da qual deriva não somente seu idioma, mas também seus padrões de pensamento e conduta, seus métodos de aprendizagem, sua reações emocionais, seus valores, interesses e metas.

Ou a mensagem de Deus chega em termos de sua própria cultura, ou não lhe chegará. O conhecimento de Deus somente é possível enquanto a Palavra, por dizê-lo assim, se encarna na situação do intérprete.
[...]

O reconhecimento do elmento subjetivo na interpretação das Escrituras acaba sendo demasiadamente incômodo para aqueles que gostariam de equiparar sua própria teologia com a Palavra de Deus.

A mentalidade racionalista preferiria conceber o evangelho como um sistema de verdade ao qual se pode chegar diretamente por meio de uma aproximação "científica", "objetiva" sem um compromisso pessoal.

O fato é que a objetividade absoluta não é possível. O intérprete está sempre presente na interpretação do evangelho, e está presente nela como um ser falível.


René Padilha
Citações do livro "Ensaios sobre o Reino e a Igreja - Missão Integral" da Editora Descoberta

Missão integral e missão transcultural

O entendimento tradicional da missão, que tomou forma no movimento missionário moderno especialmente a partir do final do século 18, concebia missão essencialmente em termos geográficos: era quase sempre atravessar as fronteiras geográficas com o propósito de levar o evangelho desde o “mundo ocidental e cristão” aos “campos missionários” do mundo não cristão (os países pagãos). Falar de missão era falar de missão transcultural, para salvar almas e plantar igrejas, principalmente no exterior. Os agentes dessa missão eram primordialmente os missionários estrangeiros que se sentiam chamados por Deus para o campo missionário.

Apesar das deficiências desse conceito de missão, devemos ser gratos pelo labor desses missionários tradicionais (a Deus seja a glória). Entretanto precisamos reconhecer que o fato de identificarmos a missão da igreja com o modelo de missão transcultural, deu lugar a pelo menos quatro tipos de dicotomias que têm afetado a igreja negativamente: 1) entre igrejas que enviam missionários (a maioria no mundo ocidental cristão) e igrejas que recebem missionários (quase que exclusivamente nos países do chamado Terceiro Mundo: Ásia, África e América Latina); 2) entre o “lar”, localizado em algum país do “mundo ocidental” e o “campo missionário”, localizado em algum país pagão; 3) entre os missionários chamados por Deus a servir e cristãos comuns, que podem desfrutar dos benefícios da salvação, mas estão exonerados de participar no que Deus faz no mundo; 4) entre a vida e a missão da igreja.

Todas essas dicotomias vinham da redução da missão a um esforço missionário transcultural. E como conseqüência delas, a missão era primordialmente da evangelização que levavam a cabo os missionários enviados de países cristãos aos campos missionários do mundo, com a qual cumpriam representativa ou vicariamente a tarefa missionária de toda a igreja.

Já a missão integral entende que a missão pode ou não envolver a travessia de fronteiras geográficas, mas tem a ver primordialmente com a travessia da fronteira entre a fé e a não-fé, seja em casa ou no exterior, em função do testemunho sobre Jesus Cristo como Senhor da totalidade da vida e de toda a criação. Cada geração de cristãos em todo lugar recebe o poder do Espírito que torna possível o testemunho do evangelho “tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, até os confins da terra” (At 1.8). Então, cada igreja, seja qual for sua localização, está chamada a participar na missão de Deus — uma missão que tem alcance local, regional e mundial — começando em sua própria “Jerusalém”. Para cruzar a fronteira entre a fé e a não-fé, o cruzamento de fronteiras geográficas é fator secundário. O compromisso com a missão está na essência do ser igreja e esta se compromete de fato com a missão quando se propõe a comunicar o evangelho mediante tudo o que “é, faz e diz”. É a encarnação dos valores do reino de Deus e testificar do amor e da justiça revelados em Jesus Cristo, no poder do Espírito Santo, em vistas da transformação da vida humana em todas as suas dimensões, tanto pessoais quanto comunitárias.

O cumprimento desse propósito pressupõe que todos os membros da igreja, apenas pelo fato de terem sido integrados ao Corpo de Cristo, recebem dons e ministérios para o exercício de seu sacerdócio, para o qual foram “ordenados” mediante seu batismo. A missão não é responsabilidade e privilégio de um pequeno grupo de fiéis que se sintam chamados ao campo missionário, e sim de todos os membros, já que formam o “sacerdócio real” e foram chamados por Deus “para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9) onde quer que se encontrem.

Concebido nesses termos, este “novo paradigma para a missão” não é tão novo: é, na verdade, uma recuperação do conceito bíblico de missão, já que, de fato, a missão é fiel ao ensino das Escrituras na medida em que se coloca a serviço do reino de Deus e sua justiça. Conseqüentemente, põe-se o foco no cruzamento da fronteira ente a fé e a não-fé não somente em termos geográficos, mas também em termos culturais, étnicos, sociais, econômicos e políticos com o fim de transformar a vida em todas as suas dimensões, segundo o propósito de Deus, de modo que todas as pessoas e comunidades humanas experimentem a vida abundante que Cristo lhes oferece. Assim, a missão integral resolve as dicotomias mencionadas das seguintes maneiras: 1) Pelo menos em princípio, todas as igrejas enviam e todas as igrejas recebem. Todas as igrejas possuem algo para ensinar e algo para aprender das outras. O caminho que a missão segue não é de um só sentido — dos países “cristãos” aos “pagãos” — , é um caminho de mão dupla; 2) Todo o mundo é campo missionário, e cada necessidade humana é uma oportunidade de ação missionária. A igreja local é chamada a manifestar o reino de Deus em meio aos reinos do mundo não somente pelo que diz, mas também pelo que é e por tudo o que faz em resposta às necessidades humanas ao seu redor; 3) Todo cristão está chamado a seguir a Jesus Cristo e a comprometer-se com a missão de Deus no mundo. Os benefícios da salvação são inseparáveis de um estilo de vida missionário, e isto implica, entre outras coisas, o exercício do sacerdócio universal dos crentes em todas as esferas da vida humana segundo os dons e ministérios que o Espírito de Deus outorgou livremente ao seu povo; 4) A vida cristã em todas as suas dimensões, no nível pessoal e comunitário, é o testemunho primordial da soberania universal de Jesus Cristo e do poder transformador do Espírito Santo. A missão é muito mais do que palavras: tem a ver com qualidade de vida – se demonstra na vida que recupera o propósito original de Deus para a relação do ser humano com o Criador, com o próximo e com a criação.

Em conclusão, a missão integral é o meio designado por Deus para levar a cabo na história, por meio da igreja e no poder do Espírito, seu propósito de amor e justiça revelado em Jesus Cristo.


René Padilha

terça-feira, 11 de agosto de 2009

sábado, 1 de agosto de 2009

E Deus foi além

Quando se trata de um pecador Ele não fica simplesmente parado, com os braços abertos e dizendo: “Venha cá”. Não. Ele fica e espera, como o pai do filho perdido esperou; ou melhor, ele não fica parado esperando: sai procurando, como o pastor procurou a ovelha perdida. Ele vai, não, Ele foi, infinitamente mais longe do que qualquer pastor ou mulher. Ele seguiu calmamente o longo e infinito caminho de ser Deus para se tornar homem e, desse modo, foi procurar os pecadores.


Soren Kierkegaard
Citação do livro "Maravilhosa Graça" da editora Mundo Cristão

Exprimentando um pouco mais

As pessoas estão preparadas para tudo, exceto para o fato de que além das trevas de sua cegueira há uma grande luz. Estão preparadas para continuar se extenuando, lavrando no mesmo antigo campo, até que voltem para casa sem ver, até tropeçarem nele, no tesouro que está enterrado nesse campo, suficiente para comprar o Texas. Estão preparadas para um Deus que faz barganhas duras, mas não para um Deus que dá tanto por uma hora de trabalho quanto por um dia. Estão preparadas para um reino de Deus do tamanho de uma semente de mostarda, que não é maior que o olho de uma salamandra, mas não para a imensa figueira brava da Índia em que a semente se transforma, com as aves em seus ramos cantando Mozart. Eles estão preparadas para o jantar trivial da Igreja evangélica que freqüentam, mas não para a ceia das bodas do Cordeiro...


Frederick Buechner
Citação do livro "Maravilhosa Graça" da editora Mundo Cristão
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