terça-feira, 31 de março de 2009

Os pensamentos de Rob Bell e a igreja emergente.

Ganhei de presente de meu amigo Ed René Kivitz o livro “Velvet Elvis”, escrito por Rob Bell. Ele, e outros como Brian D. McLaren (que escreveu “A Mensagem Secreta de Jesus”, já traduzido para o português pela Thomas Nelson - Brasil) são protagonistas de um movimento chamado de The Emergent Church, que vem sacudindo o mundo evangélico norte-americano.

Devorei o livro do Brian McLaren de uma sentada e celebrei que um cara como o Rob Bell exista para contestar a monolítica teologia evangélica estadunidense.

Cito alguns pensamentos do Rob Bell no original e minha tradução logo abaixo:

A VERDADE EM LÍNGUA ESTRANHA.

One of the great “theologians” of our time, Sean Penn, put it this way: “When everything gets answered, it’s fake. The mystery is truth.

Um dos grandes “teólogos” de nosso tempo, Sean Penn, coloca da seguinte maneira: “Quando tudo tem uma resposta, é falso. O mistério é a verdade”.

PARA CRER NA BÍBLIA É PRECISO CRER EM GENTE ESTRANHA.

Already early in the life of the Jesus movement, certain letters and writings were beginning to distinguish themselves as being different, inspired, “from God” in ways that other religious writings weren’t. For the next several hundred years, there was a lot of discussion in the Christian community about which books were considered Scripture and which books weren’t. But it wasn’t until the 300s that what we know as the sixty-six books of the Bible were actually agreed upon as “the Bible”.

Cedo na existência do movimento de Jesus, algumas cartas e escritos começaram a se mostrar diferentes, inspirados “por Deus”, de uma maneira que outros escritos religiosos não eram. Pelos próximos séculos houve muita discussão na comunidade cristã sobre quais livros deveriam ser considerados Escritura e quais não. Porém, demorou até o terceiro século para que os sessenta e seis livros da Bíblia foram aceitos como “a Bíblia”.

This is part of the problem with continually insisting that one of the absolutes of the Christian faith must be a belief that “Scripture alone” is our guide. It sounds nice, but it is not true. In reaction to abuses by the church, a group of believers during a time called the Reformation claimed that we only need the authority of the Bible. But the problem is that we got the Bible from the church voting on what the Bible even is. So when I affirm the Bible as God’s Word, in the same breath I have to affirm that when those people voted, God was somehow present, guiding them to do what they did. When people say that all we need is the Bible, it is simply not true.

Esse é apenas parte do problema para quem continuamente insiste que um dos absolutos da fé cristã repousa na afirmação de que “só a Bíblia” é nosso guia. Isso soa bem, mas não é verdade. Em reação aos abusos da igreja, um grupo de crentes de um período chamado de Reforma, afirmou que só precisamos da autoridade da Bíblia. Mas o problema é que recebemos a Bíblia da igreja que votou sobre o que é a Bíblia. Então, quando eu afirmo que a Bíblia é a Palavra de Deus, no mesmo fôlego também estou afirmando que quando aquelas pessoas votaram, Deus estavapresente, de alguma maneira, guiando-os para que fizessem aquilo. Quando as pessoas dizem que tudo o que precisamos é a Bíblia, isto simplesmente não é verdade.

OS ESTRANHOS CIDADÃOS DO CÉU E DO INFERNO.

Heaven is full of forgiven people.

O céu está cheio de gente perdoada.

Hell is full of forgiven people.

O inferno está cheio de gente perdoada.

Heaven is full of people God loves, whom Jesus died for.

O céu está cheio de gente que Deus ama e por quem Jesus morreu.

Hell is full of forgiven people God love, whom Jesus died for.

O inferno está cheio de gente que Deus ama e por quem Jesus morreu.

The difference is how we choose to live, which story we choose to live in, which version of reality we trust.

A difference é como escolhemos viver, que história escolhemos escrever, que versão de realidade nós confiamos.

For Jesus, heaven and hell were present realities. Ways of living we can enter into here and now. He talked very little of the life beyond this one because he understood that the life beyond this one is a continuation of the kinds of choices we make here and now.

Para Jesus, céu e inferno eram realidades do presente; jeitos de viver, que podemos experimentar aqui e agora. Ele falou muito pouco sobre a vida além desta, porque compreendia que a vida além desta é mera continuação dos tipos de escolhas que fazemos aqui e agora.


Ricardo Gondim

segunda-feira, 30 de março de 2009

Falando do Sol

A alegria e contagiante; exatamente como o é a tristeza. Eu tenho um amigo que irradia alegria, não porque sua vida seja fácil, mas porque habitualmente ele reconhece a presença de Deus no meio de todos os sofrimentos humanos, o seu e dos outros. Onde quer que vá, seja quem for que encontre, ele é sempre capaz de ver e ouvir algo de belo, algo de que dar graças. Ele não nega a grande tristeza que o envolve, nem é cego ou surdo aos sinais e sons de agonia dos seus companheiros de existência, mas o seu espírito gravita em direção à luz no meio da escuridão e das preces, em meios dos gritos de desespero. O seu olhar é gentil, a sua voz é calma. Não se trata de sentimentalismo. È uma pessoa realista, mas a sua fé profunda permiti-lhe descobrir que a esperança é mais real que o desespero, a fé mais real que a descrença e o amor mais real que o medo. É este realismo espiritual que faz dele um homem tão alegre.

Sempre que me encontro com ele, não resisto à tentação de lhe chamar a atenção para as guerras entre as nações, para a fome de milhares de crianças, para a corrupção na política e a falsidade entre as pessoas procurando impressiona-lo com os últimos fracassos do gênero humano. Mas, sempre que experimento fazer uma coisa destas, ele olha para mim com o seu olhar gentil e cheio de compaixão e diz: “Eu vi duas crianças partilharem o seu pão uma com a outra e ouvi uma mulher dizer ‘obrigada’ e sorrir quando alguém lhe ofereceu um cobertor. Essas pessoas simples e pobres deram-me nova coragem para continuar a viver”.

A alegria do meu amigo e contagiante. Quanto mais estou com ele tanto mais consigo captar raios de Sol a brilhar por entre as nuvens. Sim, eu sei que o Sol existe, mesmo quando os céus estão cobertos com nuvens. Enquanto meu amigo fala sempre do Sol, eu continuava a falar das nuvens; até que um dia cheguei a conclusão que era por causa do Sol que conseguia ver as nuvens.

Os que continuam a falar do Sol enquanto caminham sob o céu cheio de nuvens são mensageiros de esperança, os verdadeiros santos dos dias de hoje.


Henri Nouwen
Trecho do Livro "Mosaicos do Presente" da Editora Paulinas

sábado, 28 de março de 2009

Abraçando a Dor

No mundo a nossa volta, faz-se uma distinção radical entre alegria e tristeza. As pessoas têm a tendência a dizer: "Quando estamos alegres, não podemos estar tristes e, quando estamos tristes, não podemos estar alegres". De fato, a sociedade contemporânea faz todo o possível para separar a tristeza da alegria. Por isso, a tristeza e a dor devem ser evitadas a todo custo, porque são o oposto da alegria e do contentamento que desejamos.

A morte, a doença, as franquezas humanas, tudo deve ser escondido do nosso olhar, porque são coisas que nos afastam da alegria por que anelamos. São obstáculos no caminho de nossa meta de vida.

A perspectiva oferecida por Jesus está em contraste evidente com está visão mundana. Jesus demonstra, tanto nos seus ensinamentos quanto na sua vida, que a verdadeira alegria é freqüentemente encoberta pela nossa tristeza e que a dança da vida tem o seu início quando nos tocam as desgraças. Diz ele: "Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morrer, produz muito fruto. Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la, quem despreza sua vida nesse mundo, vai conservá-la para a vida eterna" (João 12.24). A dois de seus discípulos desiludidos depois da sua paixão e morte, Jesus diz: "Como vocês custam para entender, e como demoram para acreditar em tudo em que os profetas falaram! Será que o Messias não devia sofrer tudo isso, para entrar na sua glória?" (Lucas 24.25 e 26).

É-nos revelada aqui uma maneira completamente nova de se viver. É uma maneira segundo a qual a dor pode ser abraçada, não pelo desejo de sofrer, mas por saber que algo de novo nascerá da dor. Jesus chamas às nossas dores "dores de parto". Diz assim: "Quando à mulher está para dar a luz, sente angústia, porque chegou a sua hora. Mas quando a criança nasce, ele nem se lembra mais da aflição, porque fica alegre por ter posto um homem no mundo" (João 16.21).

A cruz tornou-se o mais poderoso símbolo desta nova visão. A cruz é um símbolo de morte e vida, de sofrimento e de alegria, de derrota e de vitória. É a cruz que nos indica o caminho.


Henri Nouwen
Trecho do Livro "Mosaicos do Presente" da Editora Paulinas

sexta-feira, 27 de março de 2009

Se possivel passe de mim esse cálice...

Indagações sempre válidas, questionamentos que penso eu todos já fizeram pelo menos uma vez na vida, ou como no meu caso, quase que periodicamente. E um posicionamento diante dos imprevistos da vida e do sofrimento existe não reconfortante mais desafiante, e convidativo. Espero que possamos sempre aceitar esse convite de Deus de maneira honesta para com Ele.




A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

quarta-feira, 25 de março de 2009

segunda-feira, 23 de março de 2009

Aprofundando nossa conversa com Deus

Na revista Cristianismo Hoje já há algum tempo atraz foi publicada uma entrevista com Richard Foster e Henri Nouwen, aconselho a quem puder ver a entrevista na integra no site da revista clicando aqui. Abaixo segue um pequeno trecho da entrevista:


"Em 21 de setembro de 1996, Henri Nouwen faleceu de um ataque cardíaco em Hilversum, Holanda. Nouwen foi um padre católico e psicólogo, melhor conhecido entre os pastores protestantes pelo livro O ferido que cura. Um dos temas de Nouwen era viver nosso quebrantamento debaixo da bênção de Deus. Em uma entrevista, Nouwen disse: “Muitas pessoas não acreditam que são amadas, protegidas e então, quando sofrem, encaram isto como uma afirmação do seu pouco valor. A questão do ministério e da vida espiritual é aprender a viver nosso quebrantamento debaixo da bênção de Deus e não de maldição”.

Em 1982, a revista Leadership publicou uma entrevista com Nouwen e Richard Foster sobre o que os líderes das igrejas precisavam fazer para conhecer a Deus. Fundador do movimento Renovare, Foster escreveu, entre outros livros, Oração e Celebração da disciplina. Após saber da morte de Nouwen, relemos a entrevista e ficamos tocados com sua sabedoria atemporal e atual acerca da vida espiritual. Oferecemos esta matéria novamente em memória do ferido que cura.

O que fez com que você acreditasse tão intensamente que precisava encontrar a Deus?

Foster: Desespero. Não tanto por mim no começo, mas pelas pessoas que eu enxergava que precisavam de ajuda. Depois comecei a sentir o quanto eu também precisava de Deus. Apesar do anseio profundo de passar tempo em solitude, muitos de nós nos sentimos encurralados pela demanda do ministério.

Nouwen: Sou como muitos pastores: comprometo-me com projetos e planos e depois penso sobre como conseguirei fazer tudo. Esta é a verdade do pastor, do professor, do administrador. É inerente à nossa cultura que nos diz: “Faça o máximo que você puder ou você nunca conseguirá se destacar”. Neste sentido, os pastores fazem parte do mundo. Descobri que não é possível lutar contra os demônios do nosso ativismo de forma direta. Não posso dizer sempre “não”, a não ser que existam coisas dez vezes mais atrativas para escolher. Dizer não para minha luxúria, minhas necessidades e os poderes do mundo, requer uma enorme quantidade de energia.

A única esperança que temos é encontrar algo tão obviamente real e atrativo ao qual eu possa dedicar todas as minhas energias e dizer sim. Desta forma não tenho tempo para dar atenção às minhas distrações. Uma das coisas para as quais eu posso dizer “sim” é quando entro em contato com o fato de que sou amado. Uma vez que percebo que mesmo estando totalmente quebrantado, ainda assim sou amado, torno-me livre da compulsão de fazer coisas para obter sucesso.

Foster: Após terminar meu doutorado, fui a uma pequena igreja na Califórnia. Uma igreja “marginal”, que seria considerada um fracasso para os índices de pontuação de resultados eclesiásticos. Trabalhei, planejei e organizei determinado a mudar o rumo daquela igreja. Mas as coisas pioraram. A raiva parecia permear em todas as pessoas: os conservadores estavam irritados com os liberais, os liberais bravos com os radicais e os radicais irritados com todos os outros. Eu odiava ir às conferências de pastores porque eu não tinha nenhuma história de sucesso. Eu trabalhava com toda a força, mas não era bom o suficiente. Então passei três dias com o meu orientador espiritual. Ao final daquele tempo ele disse: “Dick, você precisa decidir se vai ser um pastor desta igreja ou um pastor de Cristo”. Aquele foi o ponto crucial. Até lá eu havia permitido que as expectativas das pessoas manipulassem a mim e minhas próprias expectativas."


A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

domingo, 22 de março de 2009

A formação de uma agenda espiritual

"Meus filhos, novamente estou sofrendo
dores de parto por sua causa, até que Cristo seja formado em vós..."
Gálatas 4:10


Atualmente o mundo clama pelo crescimento espiritual de uma teologia que tem trabalhado na realidade cruel da vida diária. Infelizmente, muitos têm desistido da possibilidade de crescimento em relação à formação. Um vasto número de pessoas bem intencionadas tem se exaurido no trabalho da igreja e descoberto que isto não influencia suas vidas substancialmente. Eles descobriram que simplesmente eram impacientes, egocêntricos e medrosos quando começaram a carregar o fardo pesado do trabalho na igreja. Talvez até mais.

Outros têm submergido em múltiplos projetos de trabalhos de serviço social. Mas quando o ardor de ajudar aos outros esfriou por um tempo, eles perceberam que todos os seus esforços hercúleos deixaram poucas marcas duradouras em sua vida interior. De fato, isso os deixa mais doloridos: frustração, raiva e amargura.

Ainda existem os que possuem uma prática teológica que não permite um crescimento espiritual. De fato eles deveriam ver isto como uma coisa ruim. Havendo sido salvos pela Graça, essas pessoas têm ficado paralisadas nisso. A tentativa de qualquer progresso espiritual tem um sabor de “obras de retidão” para eles. Sua liturgia diz que eles pecam em palavras, pensamentos e atitudes diárias, então eles pensam ser esse seu destino até morrerem. O Céu é o seu único alívio nesse mundo de pecado e rebelião. Conseqüentemente, essas pessoas bem intencionadas vão sentar em seus bancos na igreja e, um ano depois vão perceber que nenhum avanço foi feito em suas vidas com Deus.

Enfim, um mal-estar geral nos toca a todos. Refiro-me ao modo como nos acostumamos completamente com a normalidade de disfunção. A constante exploração da mídia em relação aos escândalos, vidas partidas e mazelas de toda sorte nos deixa não muito mais do que simplesmente chateados. Temos que esperar um pouco mais do que isso, ao menos de nossos líderes religiosos – talvez, especialmente de nossos líderes. Esta disfunção é tão infiltrada em toda a parte que é quase impossível termos uma visão clara do progresso espiritual. Modelos exuberantes de santidade são raros hoje em dia. Ecoando através dos séculos até os dias de hoje, estão inúmeras testemunhas que nos contam sobre uma vida muito mais abundante, profunda e completa. Em qualquer posição social ou em qualquer situação da vida, eles encontraram uma vida de “retidão, paz e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17). Eles descobriram que uma transformação real, sólida à imagem de Cristo, é possível.

Eles testemunham para a formação de um caráter quase espantoso. Eles têm visto suas paixões egocêntricas darem lugar a um coração abnegado e humilde, que assusta até a eles mesmos. Raiva ódio e malícia são substituídas por amor, compaixão e boa vontade total.

Há mais de 2.000 anos de registros das vidas de grandes pessoas – Agostinho, Francis, Teresa, Kempis e muitos outros que, após seguiram arduamente nos caminhos de Jesus, tornando-se pessoas com um caráter ilibado. Os registros estão aí para quem quiser ver.

Há trinta anos, quando a Celebration of Discipline (Celebração da Disciplina) foi escrita, nós enfrentamos duas grandes incumbências: a primeira é que foi preciso rever a grande discussão sobre a formação da alma; a segunda foi encarnar esta realidade nas experiências diárias na vida individual, congregacional e cultural. Francamente, nós temos tido sucesso com a primeira tarefa. Todos os tipos de cristãos agora sabem da necessidade de formação espiritual, e olha para santos católicos, ortodoxos e protestantes para guiá-los.

Mas é a segunda tarefa que precisa consumir a parte principal de nossa energia nos próximos 30 anos. Se nós não fizermos um progresso real nessas frentes, todos os nossos esforços vão evaporar e secar.

Um lembrete honesto antes de começar pra valer: a formação espiritual não é um kit de ferramentas para “consertar” a nossa cultura ou as nossas igrejas ou mesmo as vidas individualmente. Nós temos que trabalhar a formação espiritual porque este é o trabalho do Reino. Ele está bem no centro do mapa do Reino de Deus. Conseqüentemente, todos os demais problemas nós prazerosamente deixamos nas mãos de Deus.

Trabalhar o coração

Deus tem dado a cada um de nós a responsabilidade de “crescer em Graça” (II Pedro 3:18). Isto não é algo que possamos transferir para os outros. Nós temos que tomar as nossas cruzes individuais e seguir os passos do Cristo crucificado e ressurreto.

Todo trabalho de formação autêntico é “trabalhar o coração”. O coração é a fonte de toda ação humana. Todos os mestres religiosos constantemente nos chamam, quase de forma enfadonha, para que nos voltemos e purifiquemos os nossos corações. Os grandes sacerdotes Puritanos, por exemplo, mantiveram a atenção nisto. Em Mantendo o Coração, John Flavel, um puritano inglês do século 17 adverte que “a maior dificuldade na conversão é ganhar o coração para Deus; e a maior dificuldade após a conversão é manter o coração com Deus... Trabalhar o coração é um trabalho realmente difícil”.

Quando estamos trabalhando o nosso coração, as atitudes externas nunca são o centro da nossa atenção. Atitudes visíveis são o resultado natural de algo profundo, bem mais profundo.

A máxima do patriarca Actio “as atitudes seguem a essência” nos lembra que a nossa atitude está sempre em acordo com a realidade interna do nosso coração. Isto, naturalmente, não reduz as boas obras à insignificância, mas as tornam questões secundárias; efeitos, não causas. O significado principal é a nossa união vital com Deus, nossa nova criação em Cristo, nossa imersão no Espírito Santo. É essa vida que purifica o coração. Quando o ramo é perfeitamente unido à videira e recebe a sua vida da videira, o fruto espiritual é natural.

Por isso é que os filósofos éticos podiam dizer “a virtude é fácil”. Quando o coração está purificado pela ação do Espírito a coisa mais natural do mundo é a virtude. Para o puro de coração o vício é o que é difícil.

Não é uma coisa vã para nós retornarmos ao primeiro amor. É um ato de fé para pedir a Deus que sonde o nosso coração e nos tire de todo caminho mal (Salmos 139: 23,24). É um aspecto vital da salvação do Senhor.

Somos todos, cada um e todos nós, uma massa de motivos emaranhados: esperança e medo, fé e dúvidas, simplicidade e duplicidade, honestidade e falsidade, sinceridade e falsidade. Deus é o único que pode separar o verdadeiro do falso, o único que pode purificar as motivações do coração.

Mas Deus não vem sem ser convidado. Se alguns compartimentos do nosso coração nunca experimentaram o toque de cura de Deus, talvez seja porque não temos recebido bem o minucioso exame divino.

O mais importante, mais real e mais duradouro acontece nas profundezas do nosso coração. Este é um trabalho solitário e interno. Não pode ser visto por pessoa alguma, a não ser por nós mesmos. É um trabalho que somente Deus conhece. É o trabalho de purificação do coração, a conversão da alma, da transformação interior, da formação da vida.

Começa primeiro com nosso retorno à luz de Jesus. Para alguns, este é um inescrutável e lento voltar-se... voltar-se... até que nos voltemos completamente. Para outros é instantâneo e glorioso. Em ambos os casos nós estamos começando a confiar em Jesus, para aceitá-Lo como sendo a nossa Vida. Assim lemos sobre isso em João 3, somos nascidos do Céu. Nascer espiritualmente é um começo – um maravilhoso e glorioso começo. E não um final.

O trabalho de formação mais intenso é necessário antes de nos colocarmos diante do brilho do Céu. É necessário muito treinamento para sermos o tipo de pessoa segura e reinar tranqüilamente com Deus.

Então, agora nós damos início a esse novo relacionamento. Como Pedro coloca em sua primeira carta, nós “temos nascido de novo, não de uma semente perecível, mas imperecível, vivendo e permanecendo na Palavra de Deus” (I Pedro 1: 23). Deus está vivo! Jesus é real e atuante em nossas pequenas vidas.

E então nós começamos a orar, para entrar numa comunicação interativa com Deus. No principio nossa oração é intranqüila e hesitante. É uma alternação da nossa ida e volta, de nossa preocupação com a glória divina e com as tarefas mundanas de casa e do trabalho. Para trás e para frente. Para trás e para frente. E, freqüentemente, a alternância é pior – muito pior – do que absolutamente não orar. Num momento nos são reveladas glorias divinas, no momento seguinte nossas mentes estão chafurdando na concupiscência da base dos nossos desejos.

Nossas vidas são fraturadas e fragmentadas. Como Thomas Keely coloca, nós estamos vivendo em “uma luta intolerável de agitação”. Nós sentimos a força de atração de muitas obrigações e tentamos cumpri-las todas. E estamos “infelizes, intranqüilos, extenuados, oprimidos e tememos fracassar”. Mas, através do tempo e da experiência – às vezes muito tempo e muita experiência - Deus começa a nos dar um sossego surpreendente no Centro Divino. Nas profundezas do nosso ser, a alternância nos dá uma vida coesa intacta, de humilde adoração diante da viva presença de Deus.

Não se trata de êxtase, mas de serenidade, sem abalos, e firmeza de orientação da vida. Nas palavras de George Fox, nós nos tornamos homens e mulheres “estáveis”.

Nós começamos a desenvolver um hábito de orientação divina. Agora, isto não é perfeccionismo, mas o progresso de nossa vida com Deus. O trabalho interior da oração torna-se muito mais simples agora. Lentamente descobrimos pequenos reflexos de proteção celeste e os sopros de submissão são tudo o que é preciso para nos atrair para uma orientação habitual de nossos corações voltados para Deus. Mesmo sem saber nós nos habituamos com a presença de Deus. Momentos formais de oração nos ligam e aumentam a tendência de estabilidade de adoração tranqüila, que é a base dos nossos dias.

Por trás do primeiro plano da vida diária permanece a bagagem da orientação celestial. Esta é a formação de um coração diante de Deus. Para usar as palavras de Kelly, é “uma vida despreocupada de paz e poder. É simples. É sereno. É espantoso. É triunfante. É radiante. Não toma tempo algum, mas ocupa todo o nosso tempo”.

Como os novatos em Jesus estamos aprendendo, sempre aprendendo como viver bem; a amar a Deus bem; a amar nosso cônjuge bem; a criar nossos filhos bem; a amar nossos amigos e vizinhos – e até mesmo os nossos inimigos – bem. A estudar bem; a enfrentar as adversidades bem; a administrar nossos negócios e instituições financeiras bem; a formar uma vida em comunidade bem; a alcançar os marginalizados bem; e a morrer bem.

E, enquanto aprendemos como viver bem, compartilhamos com outros o que estamos aprendendo. Esta é a estrutura do amor para edificar o corpo de Cristo.

Nós não estamos sozinhos neste trabalho de reforma do coração. É imperativo que nos ajudemos uns aos outros de todas as maneiras que pudermos. E, em nossos dias, temos emergência de um exército espiritual sólido de guias espirituais treinados, que possam amorosamente estar lado a lado de pessoas preciosas, e ajudá-las a discernir como andar pela fé nas circunstâncias de suas próprias vidas.

Por favor, note que eu disse guias espirituais “treinados” e não guias espirituais “diplomados”.

Há uma idéia genuinamente ruim circulando nestes dias que, se nós tivermos um determinado numero de cursos e lermos um determinado numero de livros, estaremos prontos para sermos guias espirituais. Eu lamento; eu realmente gostaria que fosse tão simples assim. Mas não, nós estamos falando sobre treinamento de vida. E é apenas pelo treinamento da vida que veremos o desenvolvimento de um certo tipo de vida, uma vida de retidão, paz e alegria no Espírito Santo. Isto é qualidade de vida – a habilidade para perdoar quando se está machucado, o desejo de orar –, o que estamos procurando nos guias espirituais treinados.

Temos uma dificuldade real aqui porque cada um pensa em transformar o mundo, mas onde estão aqueles que pensam em transformar a si mesmos? As pessoas podem genuinamente querer serem boas, mas raramente estão preparadas para fazer o que é necessário para produzir uma vida de bondade que possa transformar a alma. A formação pessoal à imagem de Cristo é árdua e longa.

A comunhão agregando poder

Isto naturalmente leva à nossa segunda grande arena de trabalho para os anos vindouros: renovação congregacional. Se em nossas igrejas nós não trabalhamos arduamente pela formação espiritual, não conseguiremos pessoas espiritualmente formadas. Então esta é uma arena de trabalho vital, e eu estou falando de das congregações tradicionais e as recentes formas emergentes de nossa vida juntos.

No principio é importante que vejamos o contexto no qual trabalhamos.

Primeiro, nós temos em nossas igrejas a “doença da pressa”. Muitos do nosso povo são viciados em adrenalina e, em toda parte o espírito de nossos dias é de pular, de empurrar, de atropelar, de ruídos, de pressa e de multidões. Mas o trabalho de formação espiritual simplesmente não acontece com pressa. Ele nunca é um ‘assunto rápido’. Paciência e cuidado com o tempo consumido são sempre as marcas de qualidade do trabalho de formação espiritual.

Outra situação contextual que enfrentamos é o fato de que agora temos uma indústria de entretenimento cristão que é disfarçada como adoração. Como nós comparecemos em reverência e temor diante do Santo de Israel, quando muitos de nossos cultos são focados em diversão? Eu não sei a resposta, mas é claramente uma das realidades de nossa vida congregacional.

Um terceiro assunto: nós estamos lidando com uma mentalidade consumista em toda parte que, simplesmente, domina o cenário religioso, pelo menos o norte-americano. É uma mentalidade que mantém o individual à frente e no centro: “Eu quero o que quero, quando quero e quanto quero”. Naturalmente o trabalho de formação nos ensina a dar as costas para as nossas vontades e focar necessidades reais, como a de anular o ego, tomar a nossa cruz e seguir arduamente Jesus.

Todas estas e outras coisas mais, tornam o trabalho de formação espiritual em uma congregação realmente complicado. Estou certo de que não tenho as respostas para essas questões complicadas. Mas é maravilhoso saber que ter as respostas não é tarefa nossa. Nossa tarefa é realizar o trabalho de formação espiritual, e fazer isto em uma congregação já configurada.

Primeiro, isto significa que queremos experiências profundas de comunhão através do poder da formação espiritual. A igreja é reformada e sempre está se reformando. E, se meu coração, alma, mente e espírito estão sendo reformados – se anseio conhecer Jesus, seguir Jesus, servir Jesus, ser formado à semelhança de Jesus – então sou poderosamente atraído na direção de quem e de todo aquele que está buscando conhecer Jesus, seguir Jesus, servir a Jesus e ser formado à imagem de Jesus. Uma pessoa cheia da beleza de Jesus tem comunhão adicionada ao poder. Outros são irresistivelmente atraídos na direção desta pessoa.

Segundo, vamos fazer tudo o que podemos para desenvolver a ecclesiola na Eclésia – “a pequena igreja dentro da Igreja”. A ecclesiola na Eclésia é um compromisso profundo com a vida do povo de Deus e não uma maneira sectária. Nenhuma separação. Nenhuma exclusão. Nenhuma formação nova de denominação ou igreja. Nós ficamos dentro das estruturas de igreja dadas e desenvolvemos pequenos centros de luz dentro dessas estruturas. Então nós deixamos a nossa luz brilhar!

Particularmente três expressões históricas da ecclesiola na Eclésia, valem a pena ser estudadas:

Philipp Jakob Spener (1635–1705) no século XVII
A Alemanha e sua escola pietatis.

Considerado o pai do Pietismo, Spener passou seus dias praticando e ensinando sobre a conversão do coração e a santificação da vida. Aqueles que o ouviam eram tão tocados por suas pregações, que queriam mais instruções, e perguntavam se ele seria bondoso o suficiente para atendê-los. Spener começou a defender a escola pietatis com aquelas pessoas ávidas para seguir Jesus, primeiro em sua casa, depois em outras casas e, então em prédios públicos e assim por diante, com a intenção de instruir pessoas que estavam ansiosas para aprender a viver uma vida santa.

John Wesley (1703–1791) no século XVII
A Inglaterra e suas sociedades, encontros de classes e coligações.

Estes encontros eram uma maneira de dar ordem e disciplina aos novos convertidos. As sociedades tinham o propósito de comunhão, os encontros de classes eram para tratar de responsabilidades e as coligações tinham o propósito de amor e confissão mútua de pecados.

Hans Nielsen Hauge (1771–1824) no século XIX
A Noruega e a “missão interna”.

Houve um grande movimento de renovação na Noruega sob a liderança de Hauge, mas – e isto foi crucial – ele estimulava seus seguidores a permanecer na igreja Luterana da Noruega. Hauge os organizou em pequenas estruturas dentro daquelas igrejas e chamou seu trabalho de piedade e de formação de corações de “missão interna”.

Esta ecclesiola na Eclésia, este trabalho de formação espiritual, produz um certo tipo de comunhão, um certo tipo de comunidade. Isto produz uma unidade de coração, alma e mente, um vínculo que não pode ser quebrado – um milagre – abastecido de cuidado e compartilhamento da vida juntos que nos levará a enfrentar as circunstâncias mais difíceis.

E isto me leva à minha terceira sugestão para a formação espiritual da congregação: que nós aprendemos a sofrer juntos.

Eu creio que o nosso tempo de sofrimento está chegando. Muitos fatores levarão a isso. Por exemplo, a cultura geral de hostilidade para as coisas concernentes ao cristianismo está crescendo. Não devemos ficar surpresos ou mesmo tentar mudar isto. O que nós deveríamos estar fazendo é estar construindo uma vida comunitária sólida para que, quando o sofrimento chegar, nós não estejamos dispersos. Devemos ficar juntos, orar juntos e sofrer juntos independente do que vamos enfrentar. Sofrer juntos pode ser um bom modo que Deus usa para um novo ajuntamento do povo e Deus.

De volta ao mundo

Finalmente chegamos à discussão sobre a renovação cultural ou o que na teologia é chamado de “mandato cultural”. Posso apenas sugerir aqui com o que isto se parece.

Os mestres religiosos escreveram muito sobre o treinamento do coração em duas direções opostas: contemptus mundi, rápido desprendimento das ligações e ambições, e amor mundi, nosso ser arremessado para uma divina, porém dolorosa, compaixão pelo mundo.

No começo Deus arranca o mundo de nossos corações – comtemptus mundi. Aqui experimentamos um rompimento das correntes que nos atraem para posições proeminentes e de poder. Todos os nossos desejos de reconhecimento social, para ter nosso nome em evidência, começam a parecer fracos e superficiais. Aprendemos a deixar todo o controle, toda a administração. Nós vivemos livre e alegremente sem enganos.

E, então, quando nos libertamos de tudo isso, Deus lança o mundo de volta ao nosso coração – amor mundi – onde nós e Deus, juntos, tomamos o mundo em infinita ternura e amor. Nós aprofundamos a nossa compaixão pelos feridos, pelos arruinados, pelos despossuídos. Nós sofremos, oramos e trabalhamos por outros de uma maneira diferente, de uma forma abnegada, cheia de alegria. Nosso coração fica estendido em direção aos marginalizados. Nosso coração fica voltado para todas as pessoas, para toda a criação.

Foi o amor mundi que atirava Patrick de volta à Irlanda para responder à sua pobreza espiritual. Foi o amor mundi que impulsionou Francisco de Assis para o seu ministério mundial de compaixão por todas as pessoas, por todos os animais, por toda a criação. Foi o que levou Elizabeth Fry às portas do inferno da prisão de Newgate e induziu William Wilberforce a trabalhar a sua vida inteira pela abolição do comércio escravo. Isto enviou Padre Damião a viver, sofrer, e morrer entre os leprosos de Molokai e impulsionou Madre Teresa a ministrar entre os mais pobres entre os pobres da Índia e do mundo todo.

É o amor mundi que compele milhões de pessoas comuns como você e eu a ministrar vida no nome bom de Cristo aos nossos vizinhos.


Richard J. Foster

As Sagradas Entrelinhas

A pretensão piedosa de muitos cristãos de se apoiarem peremptoriamente no que dizem as Escrituras é no mínimo ingênua. Partem do pressuposto impensado de que há uma compreensão absoluta do que está escrito. Que por sua vez funda-se na idéia de que a verdade seja algo pronto, do lado de lá do pensamento, grafado no texto bíblico, apenas à espera que pessoas dela tomem posse.

A compreensão da verdade pensada assim elimina a mais humana das ações: a interpretação. Somos todos seres de interpretação. Uma vaca não interpreta, apenas reage. Uma pessoa não reage apenas, interpreta. Não há possibilidade de haver uma ação humana sem que também aconteça uma interpretação. Uma verdade nunca está do lado de lá pronta para ser possuída. Toda apreensão de idéias é um movimento impreciso e participativo de interpretação.

As páginas da Bíblia não são gavetas que guardam verdades, mas a coleção de narrativas e dissertações que nos convidam ao aprendizado. Nem seus leitores são desengavetadores inertes e neutros de conteúdos prontos. A Bíblia é um livro forjado com múltiplas interpretações. Desde sua escrita original, traduções e versões, o texto é marcado pela confluência de mentes que dela participaram. Juntamos a isso as teologias, tradições e culturas que têm na Bíblia ao menos uma referência de valor e temos um mundo indeterminado de olhares em suas páginas. Porque simplesmente é impossível à mente humana ler sem interpretar e interpretar sem entrar em conflito com outras e diversas interpretações.

Quem quer que afirme apoiar-se absolutamente no que dizem as Escrituras está na verdade dizendo que se apóia em uma tradição de pensamento e do que dela compreende.

O que chamamos de verdade bíblica é uma miragem. Porque não há possibilidade de existir um conteúdo de afirmações atemporal e universal. Por tudo o que já se disse acima. Ao entrar em contato com uma afirmação coloco em movimento todos os preconceitos, tradições, sentimentos, aspirações do meu tempo, questões da minha época, tudo o que em mim participa do modo como interpreto a vida e as pessoas à minha volta. A verdade é relativa a mim, e tudo o que em mim participa do que compreendo. A verdade é necessariamente provisória. Está sempre em construção.

O que chamo de verdadeiro não é um bloco maciço de idéias, mas um corpo inacabado e dinâmico de perspectivas. As verdades humanas nunca são absolutas, são sempre finitas e processuais. Qualquer outra candidata à verdade que se pretenda completa, universal e insuperável pelo tempo fala uma língua incompreensível à mente humana. Nada comunica. Não nos diz respeito. Nem dela podemos fazer referência. Se nos referimos a uma idéia, interpretamos.

Isso significa que sempre que alguém arroga para si a posse de uma verdade absoluta está de fato absolutizando uma versão, a que prefere os interesses de quem está acomodado ao que prevalece em seu mundo. A história não deixa dúvidas sobre os absurdos já cometidos em nome da posse inquestionável da verdade. Mas certamente o maior dos absurdos é a desumanização de todos que entram em contato com tal pretensão. Na medida em que uma idéia é absolutizada, as pessoas são pulverizadas. Quem sai em defesa da posse da verdade perde o outro de si mesmo, ou seja, a sua própria consciência e suas reivindicações por novas respostas. Perde também o outro além de si, ou seja, tudo e todos ao seu redor que divergem em busca do diálogo.

Quem quiser encontrar a Palavra de Deus e não perder a si mesmo e aos outros sob a prepotência de posse absoluta da verdade precisará ir além do que está escrito. Precisará abrir-se para fundir horizontes. De quem escreveu, da tradição e os de seu tempo. Precisará de modéstia para as alteridades envolvidas no texto. Precisará de compromisso com o seu mundo e suas dores. Precisará de imaginação e delicadeza.

Porque a Palavra de Deus não é a Bíblia, mas as suas entrelinhas.


Elienai Cabral Jr

sexta-feira, 20 de março de 2009

O Delírio De Ser Cristão

Antes de julgar o que estou escrevendo quero pedir a você leitor que vá até o final do texto.

Primeiro quero definir pra você o que é delírio; Delírio, do Lat. deliriu, excesso de sentimento; fig., exaltação; entusiasmo. Medicina: desvio mórbido da razão contra o qual não valem a experiência nem a argumentação lógica e em virtude do qual o indivíduo se afasta cada vez mais da realidade. Ato consciente de uma ilusão crendo que tal ilusão é verdade, o delírio torna real na mente humana aquilo que se criou na mente (perseguições, monstros, etc.).

Não seria o cristianismo uma declaração de guerra a natureza humana? Na doutrina cristã, o homem é convidado a renunciar a "carne" (a própria natureza, instintos, desejos), em favor de Deus e de uma esperança metafísica, de um além-mundo! Se é homem criatura, se é Deus criador, não teria sido este que pôs no homem a natureza que possui? Não é agora um tanto quanto contraditório que o criador exorte a criatura a combater a natureza criada? Apelar a uma dita “natureza pós-queda" me é pouco confortável! O homem, segundo entende-se no relato das escrituras, tem uma tendência para o "pecado" desde o início. Ora, esta tendência o levou a desejar o fruto. Desde o Éder, a natureza humana tende para o que a moral judaico-cristã considera errado e mal. E o conceito de moral da religião cristã? Não trouxe esta prejuízos à liberdade do homem? Às vezes penso o cristianismo como utopia para o homem! O homem seria incapaz da moral cristã; Logo se torna incapaz do cristianismo!

Se a esperança cristã for utópica, terá todo cristão perdido seu tempo dedicando-se numa guerra contra si mesmo!

Certa vez um ateu disse: “Falar com Deus é fé, ouvir a Deus é loucura”. Por muitas vezes vemos este delírio chegando às raias da loucura mesmo, como foi com Jim Jones fundador do Templo do Povo, que em 18 de novembro de 1978, levou 909 pessoas mais ele a cometerem suicídio coletivo, na Guiana, outro delírio este mais recente é o que se autodenomina Inri Christ (Cristo), que leva centenas de fieis atrás de si em uma cegueira e falta de conhecimento bíblico geral.

O delírio maior e inexplicável para o ser humano “comum”, é que cremos naquilo que não vemos, cremos naquilo que não tocamos, somos embaixadores de um reino imaginário, obedecemos alguém que não vive em nosso meio, recebemos dádivas de quem “não existe”, vamos morar em um lugar perfeito (utópico).

Você consegue me entender porque muitas vezes nossa fé é considerada um delírio ou loucura pros demais?

E ainda tem mais, os que lêem a Bíblia podem não compreender a profundidade desta loucura, note o que Paulo escreve; (I Co. 1:18 (23/25)). “Pois a palavra da cruz é loucura para os quer perecem...”“Somos loucos por amor de Cristo.....Somos fracos....Somos desprezíveis” (I Co. 4:10). O que dizer ao se deparar com este texto pela primeira vez?

Somos loucos de certa forma e devemos nos acostumar com isso. Mas como viver este ou neste delírio?

Hebreus 11:1; “Ora, a fé é a certeza das coisas que se esperam, e a prova da que não se vêem”. Temos que viver esta adorável loucura de servir a este Deus tão maravilhoso, se ser cristão é viver este delírio, quero viver sempre desta forma, pois quando a igreja se une em adoração crendo (fé), e este delírio coletivo se torna real no meio da igreja, a sensação não é de medo ou pavor, mas de alegria, algo inexplicável invade nosso peito e extravasa pra mente e pro restante do corpo, quão bom seria se aqueles que perdem tempo tentando explicar que Deus não existe, ou que somos passivos de internação, canalizassem suas forças pra entender este Deus e seus planos pras vidas deles.

“Aquilo que a memória amou fica eterno.” Adélia Prado.


Paulo Sérgio Silva
(O Pr Paulo SIlva além de um grande amigo pessoal, junto com outro Pr amigo meu foram meus dois mestres no inicio de minha caminhada e ministério, portanto, grande parte de minhas heresias ou melhor delírios ele tem uma parcela de culpa, rs. Grifos Meus)

terça-feira, 17 de março de 2009

Senhor, Obrigado Pelo Herege

Minha admiração pelos hereges é indisfarçável. Eles mexem com os meus desejos mais escondidos. São capazes de me sensibilizar mais que quaisquer outros. Falam a minha alma. Adrenalizam meus pensamentos. Suas déias desconcertantes é que me fazem continuar vivo.

Eu confesso, preciso de suas heresias como da endorfina espalhada pelo meu corpo ao fim de cada corrida. Como um prazer vital. A estética da alma. A cada exercício fico suado e mais feliz. A cada heresia, desestabilizado e mais humano.

Mas antes que minha declaração de amor e gratidão aos hereges seja confundida com um delírio, preciso expor meus motivos e compreensões. Estou certo de que ganharei sua companhia em meus afetos.

Heresia é uma escolha e essa é a sua gravidade. A conceituação não é aleatória. A palavra grega para a ‘heresia’ que conhecemos é /haíresis/, seu significado literal é ‘escolha’. Heresia é como chamamos algo que não deveria ser escolhido como algo a dizer. Herege é o que faz a escolha que, mesmo podendo ser feita, não deveria.

Mas heresia nunca é um nome que quem nela incorre se dá. É uma palavra que apenas se encontra na boca de quem se sente contrariado, nunca na boca de quem contraria. Herege não é como quer se sentir quem discorda de um pensamento.

Herege é como quem sofre a oposição de idéias precisa que se sinta quem ousa fazê-lo. Porque a escolha feita por quem sofre a sentença de que é um herege é a escolha de não se submeter à hegemonia representada por quem pode assim sentenciar. Portanto, heresia não é uma questão sobre a verdade das coisas. Mas sobre quem manda de verdade.

Rubem Alves fala dos fortes e dos fracos como uma relação marcada pela heresia. “A heresia é a voz dos fracos. Do ponto de vista dos sacerdotes, os profetas sempre foram hereges. Do ponto de vista dos fariseus e escribas, Jesus foi também herege. E, como as Escrituras sistematicamente se situam ao lado dos fracos contra os fortes, é melhor dar mais atenção às heresias do que às ortodoxias.

É preciso situar a heresia, portanto, nas relações de poder. Quem levanta a suspeita de heresia não é quem está ingenuamente interessado na verdade, mas quem precisa se livrar de alguém que ameaça sua condição de dono da razão. O herege assalta o que se sente no direito de ter a última palavra.

Quem se sente com a última palavra é aquele que pratica o poder mais que o pensamento. Quem pratica o poder busca sempre se afirmar em detrimento do outro, do diferente. É preciso esvaziar de valor aquele que ameaça sua condição de superioridade.

Declarar que alguém é um herege é bem mais que dizer que ele discorda de suas idéias. Mas é fazer convergir sobre ele toda a violência acumulada em uma sociedade por seus medos, culpas, inadequações, acidentes, injustiças, frustrações. O herege é como o “bode expiatório” de René Girard. Alguém sobre quem incide a violência de todos em um acordo social silencioso, em uma compensação inconsciente.

Como aconteceu na tradição cristã com a personagem Judas Escariotes, aquele que traiu. Todos vacilaram e negaram fidelidade a Jesus, mas apenas Judas encarnou, no imaginário coletivo, o mal da humanidade. Como as bruxas na Idade Média, responsabilizadas por todas as desventuras de uma sociedade, eliminá-las era livrar-se do próprio mal humano.

Com o herege parece ser repetida a mesma mística coletiva e inconsciente. Ele é o culpado pela instabilidade da vida. Declará-lo herege é eliminá-lo de sua influência no destino de uma comunidade, como quem se livra do próprio mal da humanidade. Em uma sociedade ocidental do século XXI a fogueira tornou-se simbólica, mas não menos violenta. Destruído em sua integridade, o herege tem sua humanidade apagada. Suas palavras são pulverizadas e perdem o poder legítimo de interação.

Alguém sob a suspeita de heresia é sempre ouvido por todos com pedras nas mãos. Como nas cenas freqüentes dos evangelhos, quando os religiosos acusavam Jesus de blasfemar contra Deus ao se afirmar como um ser que sua religião não concebia: Filho de Deus. Em suas mãos, registra bem o detalhe quem narra, já estavam as pedras preparadas para serem desferidas em punição contra o blasfemo. O herege é alguém cujas idéias são ouvidas com as pedras nas mãos.

Há quatro palavras que precisam se associar para uma melhor compreensão do fenômeno herege. Instituição, ortodoxia, contingência e heresia.A instituição é via de mão única para um ser finito não entrar em inércia. Ninguém segue em frente em nenhum projeto ou relação sem institucionalizar.

Ninguém precisa parar e organizar friamente uma instituição para que ela surja. Basta seguir em frente no desenvolvimento natural de qualquer projeto ou relação.

Porque instituir é estabelecer a memória de uma viagem feita em comum com outros viajantes. Esta memória é constituída pelos hábitos, critérios, compromissos, regras, objetivos e teorias confeccionados ao longo do caminho. Eles são o mapa do caminho que já se fez e o que ainda precisa ser feito.

Sem esses valores nos transformamos em Sísifos, cujos trabalhos nunca se concluem. Sísifo foi o deus da mitologia grega conhecido por sua esperteza.

Por várias vezes conseguiu enganar /Tanatos /e /Hades/, deuses da morte e dos mortos. Ao morrer de velhice, Sísifo foi condenado a rolar montanha acima uma pedra de mármore. Cada vez que se aproximava do topo a pedra rolava montanha abaixo de novo com uma força insuperável, obrigando a começar de novo sem nunca terminar a tarefa.

Uma instituição é assim. Uma igreja, para falar mais de perto, precisa de uma programação a ser cumprida como uma agenda sagrada. São seus cultos. De uma linguagem que expresse suas crenças nos cultos. É a sua liturgia. De um conteúdo que responda aos seus questionamentos. É a sua pregação. De idéias que solidifiquem sua fé.

São seus dogmas. De pessoas que zelem por seus valores. É a sua hierarquia. É a memória que se cria ao longo de um caminho de fé compartilhado. Esta memória é que dará condição de sustentar um projeto com o passar do tempo, conquistando a confiança daqueles que a ele aderem e que anseiam por estabilidade. Esta adesão em busca de estabilidade é que autoriza a instituição.

A autoridade de uma instituição é o modo como é mistificada. A instituição, seja ela casamento, igreja, estado, partido político, agremiação, clube, faz o discurso, sempre e necessariamente, convincente de que é a resposta mais confiável para satisfazer determinadas necessidades ou aspirações. É a resposta persuasiva de que veio para ficar de tão pertinente.

O que a torna, então, um valor que precisa ser religiosamente perpetuado, com o risco de se desperdiçar algo essencial para a vida. Não demoram tanto, muitos estarão persuadidos sobre sua hegemonia: ela é a melhor resposta.

Sua perpetuidade: parece que sempre foi assim e, portanto, não deve ser de outro jeito. Sua heteronomia (uma regra que vem de outro): um deus a determinou, logo, é sagrada. Sua intocabilidade: opor-se a ela é quebrar um ciclo sagrado e, por isso, provocar a ira dos deuses, ou de Deus.

Mas curiosamente, a força que a torna necessária, a princípio, é a mesma que a fará questionável, depois. A contingência. Essa é a dinâmica da vida, sua “irresistível leveza de ser”, como no romance de Milan Kundera. A vida é fluida demais para ser emoldurada por uma instituição. O que hoje é, amanhã não mais será. Lulu Santos e Nelson Mota compuseram uma das mais belas canções que conheço: “Como uma onda no mar”, nela os poetas retratam a fluidez da vida. Uma de suas estrofes diz: “Tudo o que se vê não é/ Igual ao que a gente viu a um segundo/ Tudo muda o tempo todo no mundo/ Não adianta fugir/ nem mentir pra si mesmo agora/ Há tanta vida lá fora/ Aqui dentro sempre/ Como uma onda no mar!”

A vida não se repete. É inédita, imprevisível e incontrolável. As necessidades que geraram determinada instituição e suas respostas ou deixam de existir ou mudam.

Tornam-se mais complexas ou sem importância diante das outras e novas necessidades. Se mudam as necessidades, ou se deixam de existir para existirem outras, mudam também as perguntas ou novas questões se impõem. É nessa dinâmica que surgem os hereges, “como uma onda no mar”. Como aqueles que ousam sugerir as novas respostas para as perguntas que ninguém quer ouvir. Quebram o encanto da estabilidade falando do que não estava previsto ou do que não era plausível dentro das teorias da instituição.

O herege é um desritmado. Todos dançam na mística do que está instituído, em seu único ritmo. O herege por razões várias sai do ritmo. Viveu uma crise, divagou em um insight, sentiu-se entediado e insatisfeito, intuiu variações possíveis.

Qualquer ou quaisquer coisas que quebrem a seqüência e a unanimidade podem fazê-lo perceber o diferente. Ao sair do ritmo descobre uma nova possibilidade de dançar no mesmo salão. Descobre o improviso e o contratempo. Percebe que é possível, faz sentido e é bom ser diferente.

Thomas Kuhn chama o fenômeno que inicia a quebra de um paradigma de anomalia, um fator não explicado satisfatoriamente pela Ciência Normal. Até que um cientista, desprovido de muitas explicações, movido mais por intuição que por certeza, arrisca uma outra e heterodoxa explicação.

Logo terá em torno de si outros cientistas que também trabalharão com o candidato a novo paradigma até que ele venha a se tornar a Ciência Normal. O herege é como o cientista que, diante do acúmulo de perguntas não respondidas, destoa arriscadamente do modo como se vinha fazendo e explicando as coisas.

Mas há ainda outra palavra a ser associada para a compreensão do fenômeno herege, a ortodoxia. Ela é o discurso a serviço da instituição.

Tem o seu bom valor em seu tempo real. Em determinadas condições aquelas respostas eram boas o bastante para serem levadas a sério e às últimas conseqüências. Ninguém constrói uma crença sem acreditar que ela faz sentido, que precisa ser ampliada e deve ganhar a coerência interna de seus argumentos.

Tanto quanto é relevante o bastante para ser objeto de persuasão do maior número de pessoas. Mas o grande problema da ortodoxia não é ela mesma e sim os ortodoxos.

Os ortodoxos são aqueles que atrelam ao discurso da ortodoxia seus valores pessoais. Um discurso feito sempre se confunde com o valor próprio de quem o publica. Quem doutrina sente a necessidade de perpetuar o pensamento ora defendido como quem salva a própria pele. São os ortodoxos que por auto-afirmação precisam sustentar a hegemonia de um pensamento: uma ortodoxia.

A perpetuação de uma doutrina a todo custo é sempre auto-perpetuação. Os estudiosos da psicologia interativa tratam da relação da fala com as paixões ideológicas. Uma vez que alguém se pronuncie a favor de determinada posição tende a associá-la a seu valor pessoal e, em defesa deste valor, lutar incansavelmente. Por isso o engajamento e a passionalidade. Certamente é por essa razão que quando alguém discorda de uma ortodoxia sofre uma reação tão violenta dos ortodoxos. Porque feriu sua própria carne.

Sem os ortodoxos a ortodoxia seguiria seu curso finito e natural: a morte. Mas como a morte de uma ortodoxia é o fim dos valores de um ortodoxo e de sua auto-perpetuação, é preciso impedi-la como quem luta contra a própria morte.

Com o desenvolvimento das novas tecnologias na medicina, passamos a conviver com mais uma difícil ambigüidade. Algumas pessoas, ao fim anunciado de suas vidas, que já deram sinais de extrema debilidade física e, às vezes, de morte ‘existencial’, porque já não mais respondem às conversas, nem demonstram qualquer afetação emocional, mas estão tecnicamente vivas, sobrevivem mecanicamente.

São assim mantidas pelo enorme recurso tecnológico da ciência médica, com os antibióticos cada vez mais potentes, os aparelhos que substituem o funcionamento de órgãos vitais e o monitoramento fino que rastreia qualquer aproximação da morte. É a morte adiada. A complexidade está em definir até que ponto se pode manter um corpo vivo artificialmente sem o comprometimento ético da vida.

Afinal de contas somos seres finitos e a morte é o destino natural de todos. Fico sempre com a sensação de que se macula a dignidade de quem precisa se despedir com naturalidade da vida, mas é tecnicamente impedido.

Decidir por não usar recursos que vão apenas adiar a morte e protelar uma vida vegetativa, já tão bem anunciada, é muito difícil. Mas pode ser uma alternativa mais digna e, por que não, mais reverente à vida. Sei que o assunto é mais complexo do que minha intenção de que apenas sirva como ilustração.

A ortodoxia parece seguir a mesma terrível ambigüidade. Já não responde mais ao seu tempo como outrora. Tem aporias diversas em seu interior que comprometem sua pertinência. Não se comunica mais com as pessoas ao seu redor. Mas é mantida viva pela mística da instituição e o monitoramento zeloso dos ortodoxos.

A ortodoxia morre existencialmente, asfixia quem a ela está sujeito, combate com altas doses de apologia seus oponentes, mantém com culpa muitos ao redor de si e impede que a vida prossiga com a fluidez que a torna tão surpreendente e bela.

A heresia é a reverência à vida quando se escolhe não adiar a morte de uma ortodoxia. São as línguas confundidas do mito da Torre de Babel na Bíblia. Desaba a torre com suas pretensões de poder eterno, mas a vida se espalha sobre a terra em sua rica diversidade.

A confusão da linguagem libertou a humanidade da escravidão da ortodoxia. E no mito babélico, Deus é o grande herege: /“Vinde! Desçamos! Confundamos a sua linguagem para que não mais se entendam uns aos outros. (...)Deu-se-lhe por isso o nome de Babel, pois foi lá que Iahweh confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra e foi lá que ele os dispersou sobre toda a face da terra.

Mas não foi a primeira e a única vez que Deus agiu hereticamente ou se colocou ao lado dos hereges. A história dos profetas confirma a sacralidade das heresias. Chama à atenção a profecia de Jeremias.

Enquanto grassa entre o povo a idéia otimista de que tudo estava bem e que o futuro seria de paz e prosperidade, Jeremias contrapõe. Denuncia as ruínas da nação dos judeus e anuncia a tragédia que bate a porta.

Todos se revoltam, alguém feriu a ortodoxia de uma ilusão. O profeta herege é lançado ao calabouço para que a sua voz não fale o que todos não aceitam que se diga. Somente depois, tudo o que o profeta-herege vaticinou fez sentido na mente de todos. Sem sua heresia, sequer haveria lucidez e aprendizado no meio da destruição da nação. Mas essa história é a história freqüente dos profetas, razão porque Deus se queixou do modo como o povo perseguia os profetas.

Mas a maior e redentora heresia de todos os tempos foi a encarnação de Deus. Deus feito gente, Cristo Jesus. Sua relação com a ortodoxia de então foi de profunda tensão: /“ele veio para o que era seu e os seus não o receberam. Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que crêem em seu nome.”

Jesus não foi o que a ortodoxia de sua religião e cultura determinava que fosse, uma reafirmação sobrenatural e violenta do judaísmo frente ao poder ultrajante dos romanos. Ele foi uma negação pacífica e radicalmente humana da pretensão sempre perversa de qualquer tipo de dominação sobre quem quer seja.

Não foi pela prática da força que Jesus anunciou a chegada do Reino de Deus. Ele escolheu praticar a fraqueza em uma cultura de forças, o amor que amadurece contra o poder que infantiliza. Acolheu a humilhação em uma disputa cujas armas eram a imponência e a ovação popular. Espalhava quando todos queriam aderir. Escondia-se quando todos reivindicavam visibilidade. Pedia silêncio quando os resultados serviam a mais poderosa propaganda.

Questionava e afligia as mentes quando muitos pressionavam pelas respostas simplistas e conclusivas. Era agressivo quando o mais politicamente estratégico era a polidez. Era Jesus quando todos esperavam um outro Cristo.

Jesus foi o vinho novo que reivindicou um novo odre, ou um tecido novo em negação aos remendos que apenas adiavam o fim de uma cultura e espiritualidade esgarçadas por suas contradições.

A cruz era a mão mais pesada do poder dominante. A mão forte do Império que só se justificava contra a mais terrível ameaça. Tanta força e violência convergindo sobre alguém tão frágil e suscetível – / "como uma ovelha muda que vai para o matadouro”, que não desejou os tronos instituídos de Roma ou dos judeus, tiveram ação reversa.

Refluíram contra os próprios autores, contra os poderosos de Roma e dos Judeus, como uma exibição de sua mesquinhez e tolice. A morte de Jesus foi a vitória da vida contra as forças mórbidas da ortodoxia. O Cristo morto desmascarou o perverso e tolo poder das instituições e ortodoxias sobre a vida e libertou a humanidade de sua tirania. O que parecia um poder inquestionável tornou-se um poder idiotizado.

A ressurreição de Jesus é muito mais que a vingança de Deus contra o mal. A ressurreição é insurreição. É Deus se insurgindo ao nosso lado contra toda e qualquer forma de sentença final sobre a vida humana.

Jesus ressuscitando é Deus se insurgindo a favor da vida. Contra todas as forças que pretendem congelar a vida para perpetuar poderosos. A ressurreição é a heresia de Deus contra a ortodoxia da morte.

Por isso, Senhor, obrigado pela heresia.


Elienai Cabral Jr

Salvos da Perfeição

DEUS DE TÃO PERFEITO conheceu a plenitude do tédio. De tão cercado pelo idêntico a si mesmo, incapaz de dizer por que hoje não é apenas um reflexo de ontem, sem jamais ter sonhado com um outro dia, enfadado com a previsibilidade de um mundo impecável, inventou o amor. Ou seria, preferiu amar?

A invenção do amor, ou dos amigos, é o encontro com o imperfeito e aqui está a sua grandeza. Nada se compara ao êxtase da imaginação, à adrenalina do inusitado, ao ciúme diante do livre amante, à ardência do anseio pelo melhor, ao sabor fugidio do fugaz, à satisfação de um mundo transformado, ao descanso gostosamente dolorido diante do que não mais é caos. Sensações próprias da vida imperfeita, do que está para sempre para ser, dos que sempre podem desejar uma outra coisa. Dos humanos.

Logo depois de inventar o imperfeito, Deus conheceu a lágrima da frustração. A dor mais feliz que espíritos livres sentem. Viu as costas dos que mais amou. Duvidou sem desistir, o Criador chorou mais uma vez. Desta lágrima descobriu o perdão. Lágrima esquentada com afeto e graça.

Mal compreendido pelos amigos, inimigos tolos, pecado, recobriram-no de ídolo. De tão cansados do incerto, angustiados por tanta liberdade, os amigos inventaram ídolos, pretensos profetas e arrogantes senhores do futuro, sacerdotes e magos de um deus acuado, cristos milagreiros da mesmice ressurreta. Inventaram a religião, vestiram-se de absoluto.

Deus, que do absoluto fugiu em desespero, que inventara o imperfeito, imperfeito se fez. Inventou-se entre os incertos. Aperfeiçoou a imperfeição. Humanizou-se entre humanos. De tão impreciso, despido das forças do absoluto, igualmente inapreensível, excepcionalmente frágil, tão vivo e tão morto, descortinou o absoluto como quem desnuda o que é mau. Imperfeito, salvou-nos da perfeição.


Elienai Cabral Jr

segunda-feira, 16 de março de 2009

Eu sou diferente igual a todo mundo

Aproveitando a deixa do texto abaixo e da citação do nome de Nietzche ae vai um clipe do fruto sagrado que leva o titulo de "Superman" muito bom mesmo para quem não gosta de rock afinal a letra é fantástica, inclusive dentro dela há uma referência de uam famosa frase do C.S. Lewis, realemente muito mesmo.




A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

Em Fim Sou Humano

A maioria dos crentes que conheço e que pelo menos já ouviram o nome Friedrich Nietzche, posso dizer que no mínimo, “eles não vão muito com a cara dele”, talvez seja porque no meio de sua vida e obra ela tenha dito que Deus morreu, e quem o havia matado havia sido nos próprios, sua idéia do “super homem” acima do bem e do mal nunca foi vista com bons olhos nos meios evangélicos (principalmente para os mais conservadores e neo-pentecostais).

Mas o que na teoria não é bem aceito, na prática parece ser bem diferente, hoje nos meios evangélicos dificilmente se encontram pessoas reconhecendo públicas mente suas falhas, imperfeições, sei lá mais o que. E então quando se fala de lutas, sinceramente nunca ouvi um crente se quer dizer que teve uma alguma derrota, mas sempre vitórias e mais vitórias.

Apesar de várias vezes pastores de púlpito dizerem que a bíblia não se importa nem um pouco em mostrar as falhas e os pecados dos “grandes homens de Deus”, mas a realidade de hoje é que parece que a maioria dos crentes incorporam sua versão modificada do super homem de Nietzche. Não dizem, mas como o Apostolo Paulo que estava a caminho da perfeição, mas chegam quase a ponto de dizer que já alcançaram.

Pois bem, eu quero dizer a vocês que sou cheios de mazelas, falhas, imperfeições e infelizmente ainda peco as vezes, tenho tentando com todas minhas forças continuar essa caminhada rumo à estatura do varão perfeito e conto com a ajuda do Espírito de Deus que a cada dia mesmo apesar de minhas resistências e teimosias continua me moldando e ensinando. Em fim sou humano.


A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

quinta-feira, 12 de março de 2009

E Jesus diz: "Vem"

Já faz algum tempo tenho passado várias horas meditando e meditando na passagem de Mateus 14 onde diz que Jesus anda por sobre as águas, e com certeza meu pensamento sobre esse texto mudou muito radicalmente de alguns anos para cá.

Sempre achei desconcertante o fato de Jesus mandar seus discípulos sozinhos atravessar o mar, que na verdade não era mar, mas só uma lagoa bem grande sabendo que eles no meio da viagem passariam por grandes dificuldades a ponto de suas próprias vidas em risco. Mas até ai tudo bem, sei que a vida assim mesmo e que tormentas, problemas, dificuldades, lutas seja qual for o nome que seja lá dado a isso acontece e sem dúvidas muitas vezes inevitavelmente.

Mas como esse fato já havia superado há algum tempo, o outro que me deixava meio perplexo ou no mínimo sem resposta. Afinal de contas por que Jesus demorou tanto para ir de encontro a seus discípulos em apuros. Já ouvi tantas repostas, pressupostos, sei lá que iam desde que Jesus estava a testar seus discípulos (diga de passagem essa foi a que ouvi a maioria das vezes) e outros bem “viajadas” no mínimo, mas nenhuma delas ela suficiente para me explicar esse estranho fato. Mas tudo bem hoje isso não importa mais, reconheço que o tempo de Deus é bem diferente do nosso e também já estou desistindo de entender como sua mente funciona, mas prefiro assim mesmo, afinal assim Deus continua a me surpreender com suas infinitas e criativas formas de aparecer e de me traz paz ao meu tormento.

Mas o que há anos atrás me deixava realmente confuso era quanto Jesus chega junto as seus discípulos no meio da tempestade, e o Pedrão (acho que meio sem pensar) diz: “Jesus se é você mesmo, me manda ir sobre as águas para junto de você”. E é nesse momento que vem a loucura, Jesus diz: “Vem”. Deixem-me tentar esclarecer meu pensamento aqui, mas imaginem só Pedro e os outros onze estão num barco no meio de uma tempestade, e mesmo que o barco esteja a ponto de a pique na minha opinião ainda é o lugar mais seguro, e ai Jesus diz: “Pedro vem”, ou seja, sai do barco seu relativo lugar segura e chama ele para o meio da tempestade. Há anos atrás ficaria em uma situação como essa periferia que Jesus disse-se: “Calma Pedro, irei fazer melhor acalmar a tempestade apenas com um levantar de mãos”, ou ainda quem sabe leva-los como em um passe de mágica apenas leva-los em segurança para a outra margem do mar, mas não Jesus diz: “Vem”.

Loucura não? Antigamente periferia um deus assim que acabasse como meus problemas, e se possível a minha maneira e no meu tempo. Mas hoje cada vez mais me apaixono por esse Jesus que me chama para foro do meu pequeno barquinho e de encontro as grandes ondas, independente da loucura que isso pareça, ainda mais porque mesmo se eu venha a falhar em meus primeiros passos foro do barco em meio a tempestade, sei que Ele estará lá para me salvar com suas doces e gentis mãos, e ainda me lembra e relembra quantas vezes for necessário, dizendo: “Por que dúvida? Lembre-se não foi fosse que meu escolheu mas eu que te escolhi”, ou melhor “escolhi vocês”.


A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

domingo, 8 de março de 2009

Voice of True by Casting Crowns

Segue o video da música Voice Of True do Casting Crowns, a música é realmente muito boa, recomendo para aqueles que ainda não tem o inglês muito legal procurem a tradução da letra, tenho certeza que vai valer a pena. (Ah, se não me engano essa é a música tema do filme "Desafiando Gigantes").




A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. Silva

quarta-feira, 4 de março de 2009

Amigos, amigos, religiões à parte

– Veja todas estas estrelas. Sem dúvida, uma das
grandes criações de Deus.
– Então você acha que um ser de algum tipo fez
tudo isso?
– Você não?
– Você está me perguntando se eu acredito que se
olhar para o céu e prometer alguma coisa, o figurão
fará tudo isso desaparecer? Não.
– Então 95% das pessoas na Terra estão enganadas?
– Se a vida me ensinou algo é que 95% das pessoas
estão sempre erradas.
– Isto é o que chamamos de fé.
– Tenho inveja das pessoas que têm fé. Eu apenas não
consigo que minha cabeça aceite isso.
– Talvez sua cabeça seja o empecilho, Edward.
– Carter, nós tivemos centenas destas discussões.
E elas sempre acabam no mesmo beco sem saída.
Existe uma dimensão 'contos de fada' ou não?
– Então, no que você acredita?
– Eu evito todas as crenças.
– Não houve Big Bang? O surgimento do Universo
por acaso?
– Nós vivemos, morremos e a estrada continua.
– E se você estiver errado, Edward?
– Eu adoraria estar errado. Se eu estiver errado,
eu saio ganhando.

Este diálogo é um trecho do filme Antes de partir, de Rob Reiner, com dois de meus atores favoritos: Morgan Freeman e Jack Nicholson. Freeman interpreta Carter, personagem cristão, fiel à esposa e apaixonado pelas estrelas e por Deus. Nicholson faz o papel de Edward, um milionário incorrigível, arrogante, mulherengo e, como ficou claro no diálogo, absolutamente ateu. E ambos são amigos. íntimos.

O filme é ótimo, mas foi a amizade entre Carter e Edward que me chamou a atenção. O ateísmo de Edward não impediu que Carter fosse seu amigo e curtisse loucamente o tempo que puderam passar juntos. E, ainda assim, o testemunho de Carter foi exemplar, como mostra o diálogo citado e outros momentos do filme.

Infelizmente, há poucas pessoas como Carter no meio cristão. Poucos evangélicos estão dispostos a ter uma amizade autêntica com quem não compartilha sua fé com pessoas que seguem outros credos. Isso é no mínimo estranho, uma vez que devemos ser o sal da terra e fomos mandados pelo próprio Jesus para ir por todo o mundo. Ora, se não nos relacionamos com o mundo, não estamos nele, e portanto, não cumprimos o mandamento de Jesus. Pior – ao nos relacionarmos apenas entre nós mesmos, cristãos, acabamos por ampliar o 'gueto gospel', criando o efeito Tostines da intolerância: tornamo-nos cada vez mais intolerantes aos não-evangélicos que, por sua vez, desenvolvem preconceitos contra os crentes, os quais acabam se isolando ainda mais e tornando-se mais intolerantes.

Esta questão do 'gueto gospel' é o que mais me incomoda na cultura evangélica contemporânea. Tive o privilégio de crescer na igreja e freqüentar uma escola judaica, o que me obrigou desde cedo a ser tolerante e simpático às minorias – mesmo porque eu era uma minoria cristã dentro de uma minoria judia. Acho que esta educação bi-religiosa influenciou muito a diversidade de amigos que tenho: evangélicos, católicos, espíritas, ateus, judeus, vascaínos, flamenguistas e mesmo homossexuais.

Tais amizades permitem que eu testemunhe o amor de Cristo continuamente. Mas veja bem, não vale ser amigo apenas para testemunhar. Você deve ser amigo sem nenhum interesse além do carinho mútuo e de um bom relacionamento pessoal. é o testemunho contínuo que deve naturalmente criar amizades com as mais diversas pessoas – e essas amizades não devem existir apenas para criar oportunidades utilitaristas de evangelização. Lembremo-nos que Jesus nunca aceitou o gueto, mas vivia conversando com samaritanos, fariseus e prostitutas. E lembremo-nos também de que existem inúmeras formas de testemunhar. Falar é apenas uma delas.


Carlos Carrenho

Criação por evolução e por redenção

Comemoram-se os duzentos anos de Charles Darwin e de sua Teoria da Evolução das Espécies. Até ele, a criação era vista como algo fixo, sem mudança desde o 6º Dia da Criação.
Em momento algum, todavia, a Bíblia diz que o Pai já não cria e nem trabalha...
Ao contrário, Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora...”
Os cristãos querem um Deus que intervenha na vida, mas não querem um Deus que continue criando...
Sim! Querem um Deus de milagres para o homem, de criações novas para o homem; mas que não seja milagroso na criação.
E mais: fazem diferença entre Jesus curando e criando um olho em um cego de nascença e Jesus criando um órgão em um peixe no fundo do mar...
Assim, se são informados que animais estão ainda mudando e evoluindo, ganhando novos membros ou órgãos de adequação à vida, acham que isto seja blasfêmia.
Deus criou em Dias Eras de tempo e de não tempo.
Cada dia do Dia de Deus é feito de bilhões de anos humanos?... Por que não? Quem declarou tal impedimento?
Deus não sofre o tempo; posto que o tempo exista Nele.
Entretanto, se crê que o Deus dos crentes, o Criador, não tinha nada a fazer antes do homem.
Assim, agora, depois do homem, somente o homem interessa a Deus, pensam eles.
Deus, no entanto, assim como redime desde antes da fundação do mundo, também cria desde sempre; e assim como nunca deixou de redimir, também nunca deixou de criar.
O Gênesis diz Quem criou.
A ciência tenta dizer como foi criado.
Uma coisa é o Autor. Outra a Obra.
A fé lida com o Autor. A ciência lida com as Obras.
Qual é o problema?
Até no quintal de minha casa vejo as coisas mudando, se adaptando...
O Salmo 104 nos diz que tais Obras de Renovação da Natureza é trabalho do Espírito Santo, o qual, sendo enviado sobre a Terra, renova toda a criação... sempre.
Mas a pressa e a presunção do homem querem dizer quanto tempo Deus tem que ter levado para criar...
E mais:
A Bíblia não quer dizer como Deus criou. Apenas nos diz que Ele falou e assim se fez.
O Deus de Jesus criou, cria e continuará criando!...
Ora, o que é que existe entre o Gênesis e o Apocalipse senão Evolução?
Sim! O que existe entre o Jardim e a Cidade Santa senão evolução?
Evolução como evolução é; ou seja: cheia de “catástrofes”.
Entretanto, eu pergunto: E qual é o problema?
Darwin não é meu inimigo.
Celebro sua ousadia e fé.
Todavia, lamento que os crentes tenham endiabrado o homem, exceto os crentes ingleses, os quais, pela via de gente boa de Deus como C.S. Lewis e outros, logo entenderam que ali não havia conflito entre a Bíblia e a ciência.
Na América, porém, Darwin virou o diabo!
Ora, Darwin nunca esteve em briga com Deus. Apenas, como um homem de ciência, desejava entender a criação.
Mas a insegurança dos crentes, que tenta fazer da Bíblia um manual de “Ciências”, comete o crime de tornar anátema aquilo que não entende e nem tem cabeça isenta para refletir em paz a fim de compreender.
Ao fim da vida, tendo sido visto lendo a Bíblia por um crente que trabalhava no jardim onde estava meditando, Darwin ouviu o homem perguntar como ele lia a Bíblia se não cria nem na Bíblia e nem em Deus. Darwin assustou-se e disse: “Ah! Não! Eu creio tanto em Deus quanto na Bíblia. O que eu digo é uma teoria de como Deus criou, mas não uma negação de que Ele tenha criado”.
Muito assustará os crentes quando e se virem, no Reino de Deus, Charles Darwin, Einstein, Newton, Copérnico, entre outros... — enquanto muitos bispos estarão de fora...
Enquanto isto... o obscurantismo perdura.
Já imaginou se Deus está interessado na briga entre criacionistas e evolucionistas?
Ah, meus amigos, sem medo eu lhes digo que Ele não está.
Assisto documentários sobre a Evolução das Espécies e me deleito no amor de Deus!
Todavia, para mim, não há diferença se os 6 dias foram dias pequenos, mínimos de tempo ou se foram bilhões de dias e anos...
Entretanto, e se um Dia se tornasse um Dia apenas quando cada processo estivesse parcialmente concluído a fim de iniciar um outro...Dia?
Qual o problema?
Você está com pressa?
Não estou pedindo a sua opinião.
Apenas expresso a minha.
Afinal, quem pensa que cheguei aqui sem milhões de horas de oração e reflexão?
Nele, que trabalha até agora e continua criando sempre, ainda que não vejamos.


Caio Fabio

terça-feira, 3 de março de 2009

My Desire by Jeremy Camp

Segue mais uma música do Jeremy Camp. Sei que essa é a terceira música que posto dele em três dias nesse blog, mas tenho certeza que se vocÊs escutarem a música a sua melodia juntamente com sua letra irão permitir que Deus lhe fale alguma coisa de alguma maneira, rs.




A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

segunda-feira, 2 de março de 2009

Quem somos

Somos tecidos com fios de espera, abraço, sossego e despedida. Contingência e certeza se misturam no caldeirão alquímico da esperança. Somos susto e descanso, sombra e luz, tragédia e comédia, acerto e erro.

Somos talhos na ardósia da transitoriedade. Nada além de contos ligeiros. Trágicos, descemos escarpas. Inebriados, invejamos o devaneio das águias. Inconsequentes, bailamos na beira dos abismos. Tolos, criamos eufemismos para driblar a morte.

Somos esboços de imaginações, fantasias e delírios. Fugimos dos absurdos que nos esbofeteiam. O absurdo da miséria, afastamos para além-mar; o absurdo da guerra, explicamos com muitos argumentos; o absurdo da injustiça, creditamos à Providência. Realistas, peitamos o mal. Obtusos, massacramos os indefesos. Altruístas, amamos o estrangeiro.

Somos réstias de desejos, vontades e expectativas. Asseamos o coração dos germens da maldade. Fazemos poesia com as estrelas e amor com a lua. Encaramos o sol e transformamos o arco-íris em mais que um arco-íris. Emocionados, soluçamos com a ternura. Brindamos momentos efêmeros mesmo que depois os joguemos na gaveta da amnésia. Inconformados, esbravejamos como a afobação dos anos. Confessamos às paredes que amamos viver.

Somos deslumbres de mistérios, eternidades e infinitudes. Não nos contemos dentro das sebes. Irrequietos, repensamos roteiros. Não nos conformamos com as demandas monárquicas. Rebeldes, imaginamos outro Reino. Corajosos, encaramos a sina do possível não-ser. Espezinhamos a fatalidade. Cientes que não passamos de poeira, nos autoproclamamos profetas da nova terra e do novo céu.


Ricardo Gondim

O deus que não é Deus

Existe um deus que não é Deus. O único com força para enfrentar a Deus. Essse deus não vive em alguma dimensão cósmica ou ponto do universo. Seu oratório é a mente humana. Ele é um deus familiar, pois vive nos espelhos da alma. Mesquinho, cobra desempenhos impossíveis. Inclemente, castiga as inadequações dos fracos com fúria. Ofendido por uma pessoa, dizima gerações inteiras. Imprevisível, age com um humor indetectável.

Existe um deus que não é Deus. Capaz de ofuscar o próprio Deus, misturou-se em todas as religiões. Sanguinário, exige sacrifício para estender a sua compaixão. Impassivo, privilegia os eleitos e condena o resto. Indiferente, descarta a prece da criança quando não se encaixa em seus propósitos. Distante, volta as costas para os miseráveis em nome da coerência.

Existe um deus que não é Deus. É possível encontrá-lo nos paços sacerdotais, nas leis canônicas, nas teologias que o sistematizaram. Ele vingou na religião e a cúrias já mapearam as suas ações. Sem bondade, ele defende a virtude. Sem graça, faz apologia da verdade. Os cristão sabem que ele existe; já provaram o fel de sua justiça na Inquisição. O homem-bomba de hoje testemunha o seu furor para os muçulmanos. Ele aparece em cada campanha de oração pentecostal para mostrar como é difícil ganhar o seu favor.

Existe um deus que não é Deus. Ele é uma divindade que não suporta ver Jesus almoçando com pecadores, bebendo vinho perto de mulheres suspeitas, elogiando pagãos ou prometendo o Paraíso para gatunos. Esse deus precisa desaparecer, pois é um ídolo malvado. E só com a sua morte nascerá o Salvador.


Ricardo Gondim

O Valor do Silêncio

Como qualquer outro tempo da história, o nosso é uma realidade complexa, com muitas variáveis e características. E duas delas saltam aos olhos por expressarem significativamente a lógica de fundo sob a qual nossa vida tem acontecido. A primeira pode ser chamada de culto à eficiência, ou a obsessão por resultados instantâneos. Para algo ser capaz de captar nossa atenção, despertar nosso interesse e ganhar espaço em nossa agenda, é necessário apresentar resultados concretos e rápidos – ou seja, deve provar sua eficiência. Quaisquer ações, exercícios, atitudes, processos ou pessoas incapazes de produzir resultados a curto prazo são descartados.

A segunda marca destes dias que vivemos apresenta-se como um círculo vicioso de inquietação. Radicalmente diferente de tempos outros, hoje nosso cotidiano está repleto de estímulos externos. Estamos numa sociedade over, onde tudo é encontrado às toneladas: informação, alimentos, cultura, arte, religião... Esta enormidade de opções nos faz viver inconscientemente uma angústia provocada pelo excesso. Alia-se a isto o fato de habitarmos cidades extremamente barulhentas. Sem que percebamos, nossos ouvidos captam inúmeros sons advindos dos mais variados objetos, pessoas e situações que compõem a complexa e incrivelmente barulhenta teia da vida urbana pós-moderna. Viver hoje é receber em um só dia enormes doses de estímulos e ruídos, tendo cada um deles poder de afetar nosso mundo interior, produzindo as mais diversas preocupações, ansiedades, distrações, perturbações inquietações.

Estabelece-se, então, o círculo vicioso da inquietação: um ambiente externo alimenta a inquietude do nosso mundo interior; e, por sua vez, é exatamente esta interioridade perturbada a responsável por um mundo cada vez mais barulhento e perturbadoramente estimulante. Falar da experiência do silêncio em tal contexto é, sem dúvida, nadar contra a correnteza. Quando tudo, fora e dentro de nós, convida-nos ao barulho e à inquietação, buscar experimentar a quietude é uma árdua tarefa. Além disso, nosso vício na eficiência vai perguntar: “Para quê serve o silêncio? Que resultados práticos ele proporciona?” Aparentemente, nenhum – por isso mesmo, essa procura pode parecer-nos desestimulante e ineficaz.

Mas, certamente, o silêncio tem, sim, um lugar importante na nossa vida e mais especificamente em nossa espiritualidade. Ele não é uma estratégia; antes, trata-se de uma disciplina espiritual. Portanto, promovê-lo não é apenas deixar de falar com os lábios, mas sobretudo calar as muitas vozes interiores. Este silêncio não é somente um jejum de palavras; é um esforço para aquietar ou mesmo domar as múltiplas perturbações interiores que nos assolam.

É precisamente esta a lição advinda da experiência do profeta bíblico Jeremias. Ele escreve um livro barulhento. Chama-o de Lamentações. Nele, registra suas inúmeras queixas para com Deus, com sua missão, com o seu povo, com seu mundo. O profeta grita seus lamentos grávidos de irritação, decepção, frustração, ansiedade e muita raiva contida. Sente-se perdido. Tudo que desejava era salvação de Deus. Pois ele a teve e depois reflete sobre esta experiência. “Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio” (Lamentações 3.26), relata. No deserto vivido pelo escritor bíblico, ele encontra no silêncio seu oásis. Ele nos convida a aguardar a salvação que vem de Deus numa postura de profunda quietude. Ao contrário do que possa parecer, aguardar em silêncio uma salvação que ainda não tinha vindo não é ruim ou angustiante para Jeremias – ao contrário, ele descreve esse processo como algo bom.
O silêncio da alma é um gozo a ser usufruído, um elemento curador da ansiedade. Ele nos acalma até que a salvação se faça presente em nossa vida. Este silencioso aguardar pelo socorro que vem do Senhor pode nos levar a uma profunda serenidade interior, uma libertação de perturbações inimagináveis, moldando-nos para ter uma espera tranqüila. Jeremias nos ensina que há lugar para o silêncio na nossa relação com Deus. Mais que isso: poder-se-ia mesmo afirmar ter o silêncio uma importância central na nossa experiência espiritual. Nas palavras do profeta, a quietude aparece quase que como uma condição para se usufruir desta salvação. Não há salvação fora do silêncio, pois este é o prelúdio para se experimentar aquela.

É preciso entender esta salvação mencionada pelo profeta no seu aspecto cotidiano. O que Jeremias descreve é a intervenção salvífica do Senhor de Israel naquele momento histórico. Não poderia ser de outra maneira, posto que se reduzirmos a salvação de Deus à eternidade, perdemos a sua beleza presente nas tramas e dramas da nossa existência. Assim, há uma dimensão da ação de Deus que nos salva da ansiedade, da inquietação, da perturbação – enfim, dos múltiplos encarceramentos vividos por cada um de nós. É de dentro deste contexto que o silêncio torna-se condição fundamental para se experimentar a salvação diária nascida no alto, porém concretizada dentro e ao redor de nós.


Eduardo Rosa

domingo, 1 de março de 2009

Formação espiritual: a explosão necessária

A primeira vez que ouvi o pastor e conferencista Bill Hybels foi em um programa de rádio, cerca de dez anos atrás. Era uma mensagem dirigida à sua igreja sobre a importância da solitude, do silêncio e de outras disciplinas espirituais para a espiritualidade dos nossos dias. Os anos se passaram e o ouvi novamente – desta vez, em uma conferência para plantadores de igrejas. Era um auditório com quase duas mil pessoas, muitas das quais sonhando iniciar uma nova comunidade cristã. Quando Hybels foi anunciado e se dirigiu ao púlpito, toda a multidão ficou de pé para aplaudi-lo. Aquela reação de respeito era a visível demonstração da enorme influência do seu ministério, na medida em que representa uma inspiração consciente para as novas igrejas e um modelo de “sucesso” inconsciente para as igrejas já estabelecidas. Afinal de contas, do ponto de vista dos recursos humanos e financeiros que foram atraídos pela igreja sob sua liderança – e que estão à disposição do seu ministério –, Bill Hybels não experimentou os resultados tão sonhados por muitos?

É exatamente neste ponto que reside a vital importância de suas recentes declarações feitas na famosa conferência de liderança realizada anualmente na Willow Creek, igreja da qual é pastor, retransmitida para várias partes do mundo. As conclusões a que chegou após uma pesquisa feita no âmbito do seu ministério local e em outras igrejas ligadas à sua rede ministerial, sobre o crescimento e a maturidade espiritual das pessoas que afluíam atraídas pelos excelentes programas oferecidos, o levaram a fazer as seguintes afirmações, conforme reportagem da segunda edição de CRISTIANISMO HOJE: “Algumas das coisas em que investimos milhões de dólares, pensando que auxiliariam as pessoas a crescer e se desenvolver espiritualmente, não estavam ajudando tanto”. Segundo Hybles, os estudos mostraram que outros aspectos mais convencionais da vida cristã – e que não requerem tantos recursos financeiros e humanos – são justamente “as coisas pelas quais as pessoas estão clamando”. E confessa, de forma literal e taxativa: “Nós cometemos um erro. O que deveríamos ter dito e ensinado às pessoas quando elas atravessaram a linha da fé e se tornaram cristãs é que devem tomar responsabilidade para se nutrirem. Nós deveríamos ter cuidado das pessoas, ensinado-as a ler suas Bíblias entre os cultos, bem como a praticar suas disciplinas espirituais mais agressivamente, de forma individual”.

Considerada a influência do ministério de Bill Hybels – hoje, ele é espelho para muitos outros líderes –, estas declarações não poderiam passar despercebidas. Ao contrário, devem ser tomadas e unidas a outras vozes que já vinham denunciando o fato de que a igreja deixou de ser uma comunidade de discípulos e se tornou um encontro de consumidores sem compromisso com qualquer transformação pessoal. Neste cenário, compreende-se então a urgente necessidade de colocarmos como eixo central de nossa eclesiologia, missão e espiritualidade o chamado de Jesus na Grande Comissão à formação espiritual. O velho “Ide e fazei discípulos” raramente praticado, é a ênfase da qual nunca deveríamos ter nos afastado. É acerca disso mesmo que Dallas Willard, em seu livro O espírito das disciplinas, nos adverte: “O fato é que nossas igrejas e denominações não têm perseguido construir planos intencionais, bem feitos, para discipular seus membros. Você não encontrará nenhuma liderança largamente influente da igreja que tenha um plano – não um vago desejo ou sonho, mas um plano – para implementar todas as fases da Grande Comissão”. É a esta ausência que Willard chama de “a grande omissão”.

Dado nosso afastamento do chamado primordial, hoje não sabemos como formar espiritualmente as pessoas. Não temos pais, mestres, mentores espirituais ou discípulos habilitados para executar esta tarefa. É claro que isso se explica pelo círculo vicioso que temos colocado em ação, dentro do qual, líderes despreparados e sem interesse na formação espiritual de seus seguidores alimentam uma geração de consumidores. Nossa espiritualidade está diante de uma encruzilhada: ou continuamos no caminho do impacto ou retornamos à explosão iniciada por Jesus. Para impactar o público, precisamos apenas de líderes carismáticos capazes de gerir grandes projetos que atraem pela qualidade dos programas oferecidos; já para causar a explosão que o Evangelho propõe, é necessário que tenhamos homens e mulheres crescidos e maduros espiritualmente, que tenham iniciado a interminável, porém fascinante, jornada da formação espiritual.

Para esta explosão acontecer na vida cotidiana da nossa igreja, basta que cada um de nós tenha coragem de viver a velha lição que já sabemos de cor: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”.


Eduardo Rosa

A espiritualidade do seguimento

No princípio, era o seguidor! Jesus irrompia inesperadamente e dizia: “Segue-me, venha após a mim”. A resposta positiva exigia uma ruptura com a maneira de viver até aquele momento do que aceitava o convite. A vida deveria ser reorganizada. O centro era o mestre e o caminho apontado por ele. Quem aceitava tal convite nos seus termos tornava-se um discípulo. Também, no princípio, existia o simpatizante: aquele que se emocionava com as palavras do Cristo, achava fantásticos os seus milagres, impressionava-se com a originalidade de suas atitudes, nutria enorme curiosidade por encontrá-lo – mas não colocava o pé no caminho. Simpatizava até o ponto de não precisar mudar seu estilo de vida. Tinha admiração, mas não estava interessado na transformação resultante da formação espiritual à qual todos os discípulos viveriam quando resolvessem caminhar o caminho proposto pelo Filho de Deus.

Ainda no princípio, havia o consumidor. Este sequer tinha tempo de ouvir o Senhor; desejava, isso sim, comer o pão e o peixe multiplicados, ansiava pela cura da perna atrofiada, somente tinha interesse em ser restaurado da lepra... Uma vez alcançada a graça, nem sequer lembrava de retornar para agradecer. O discípulo seguia Jesus porque o admirava; o simpatizante admirava sem o seguir, e o consumidor nem seguia e nem admirava, posto que Jesus era apenas um provedor de suas necessidades, e não alguém a apontar-lhe um caminho transformador.

Jesus conviveu indistinta e graciosamente com estes três grupos dentro da multidão que gravitava ao seu redor. Nunca se negou a oferecer caminho aos seguidores, admiração aos simpatizantes e provisão aos consumidores. Todavia, o rabi sabia que os discípulos eram os protagonistas para cumprir sua missão no mundo. Certamente, ele não contava com simpatizantes e consumidores para o estabelecimento do Reino de Deus. Estava certo, como sempre! Nos duzentos anos que se seguiram à sua morte, o pequeno e frágil grupo inicial de discípulos, apaixonado por sua missão, se espalhou por todo Império Romano. Eles haviam sido convocados pessoalmente para seguir um caminho; colocaram o pé na estrada e saíram pelas vilas e cidades com a mesma convocação com que foram convocados: sigamos o seu caminho. Quanto aos simpatizantes e consumidores, não se sabe o que aconteceu com eles. Afinal, quem fez a história foram os discípulos.

Não resta dúvida: o cerne da espiritualidade cristã está em seguir a Jesus. Quando decidimos conscientemente seguir o seu caminho, então a espiritualidade cristã começa a fluir em nós. O Pai, pelo seu Espírito, vai nos transformando na imagem de seu Filho à medida que damos os passos no caminho. Fora do seguimento, não há espiritualidade. Todos nós estamos necessitados de retornar à experiência original dos primeiros discípulos. Sim, nossa carência essencial está em “ver” Jesus de novo surgir em meio à nossa complexa e agitada vida, cheia de cansaço e dores, e sussurrar com ternura e vigor ao nosso coração: “Vem e segue-me!” Quando ele irromper no nosso cotidiano, como aconteceu com os pescadores da Galiléia ou com o coletor de impostos da Judéia, com aquele sedutor olhar a nos convidar a seguir o seu caminho, e largarmos as redes ou a segurança da coletoria, aceitando seu convite, então, experimentaremos real comunhão com o Deus trinitário. Longe do caminho do Filho, não seremos capazes de enxergar a face do Pai e tampouco vivenciar a presença do Espírito. De fato, no cristianismo bíblico, espiritualidade é um mero sinônimo de seguimento.

Se as nossas orações, liturgias, louvores, corais, células, congressos e mensagens não apontam o caminho do Senhor e não convocam o mundo para segui-lo, então, tudo isso pode até ser espiritualidade, mas não é cristã. Se nossas igrejas se tornam fontes de atração para consumidores e admiradores, ao invés de espaços comunitários formadores de discípulos, tenhamos consciência: todos devem ser tratados com graça e amor, como Jesus fez, mas só cumpriremos sua missão no mundo sendo e formando seguidores.

Não deveríamos, mas, infelizmente, estamos hoje diante de uma encruzilhada, que por natureza é o entroncamento de dois caminhos. Entrar por um é necessariamente excluir o outro. Ou escolhemos a espiritualidade do entretenimento, que produz simpatizantes e consumidores, ou optamos pela espiritualidade do seguimento, a que gera discípulos. Tenhamos, contudo, uma certeza – desde sempre, Jesus já fez a sua escolha. Basta, apenas, que o imitemos nela.


Eduardo Rosa
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