sábado, 30 de agosto de 2008

Em Busca De Sentido

Em busca de um sentido para existir, procurei uma razão para estar vivo, e encontrei uma razão para morrer.
Percebi que não poderia encontrar uma razão para viver se essa razão não for suficiente para que eu morra por ela.
Mas foi A RAZÃO que morreu por mim... E isso é loucura... Mas também é demais. Obrigado JESUS, tu és A RAZÃO.


A Deus Somente A Gloria
Ricardo A. da Silva

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O que alegra a Deus???

“Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Darei a eles um só pensamento e uma só conduta, para que me temam durante toda a sua vida, para o seu próprio bem e o dos seus filhos e descendentes. Farei com eles uma aliança permanente: Jamais deixarei de fazer o bem a eles, e farei com que me temam de coração, para que jamais se desviem de mim. Terei alegria em fazer-lhes o bem...” Jeremias 32. 38-41.


“Deus se alegra em nos fazer bem”, eis um pensamento que pode parecer estranho para pessoas cheias de religião, pois todo o exercício religioso concentra-se basicamente em nos ensinar a agradar a Deus. Assim, vamos à igreja, aprendemos a cumprir os mandamentos e a nos sacrificar para agradarmos a Ele. Contudo, somos surpreendidos com o rosto amoroso de Deus que não promete apenas estabelecer uma aliança eterna conosco, mas afirma sentir alegria quando nos faz o bem.


Toda premissa que precisamos agradar a Deus para receber alguma coisa dele, é pagã em sua essência. O paganismo monta-se no pressuposto de que a divindade é naturalmente contrária a nós, mas possível ser conquistada através de técnicas religiosas. A Bíblia ensina o oposto. Deus como um pai amoroso, ama aos seus filhos e se alegra em ser-lhes carinhoso e generoso. Suas ações nascem de um caráter benigno e eternamente misericordioso.


Assim o culto deve ser uma resposta à iniciativa divina de nos querer bem. Quando nos reunimos para adorá-lo, saibamos que fomos amados antes, quando oferecemos ofertas reconheçamos que ele nos enriqueceu antes, quando declaramos nosso desejo de servi-lo admitamos que seu amor nos constrangeu em primeiro lugar.


A face amedrontadora das divindades pagãs se diluiu diante do amor acolhedor e perdoador de Jesus, que se alegrava em alcançar os desvalidos. Todos os que se encontram perdidos, abandonados e tristes precisam lembrar que o maior desejo de Deus e o que traz mais alegria ao seu coração é quando ele segura na mão dos seus filhos para ajudá-los a vencer as barreiras intransponíveis e os desafios angustiantes.


Ricardo Gondim

O Coração Partido de Deus

“Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra, e isso cortou-lhe o coração” Gênesis 6. 6


Recordo-me das primeiras lições de catecismo quando ainda jovem. A professora ensinou-me que Deus estendeu o braço para destruir a terra e a virgem Maria juntamente com o seu filho Jesus seguraram a sua mão para que não fôssemos destruídos. Assim, minha visão de Deus me aterrorizava. Eu temia com um medo próximo da fobia. Acreditava em um Deus juiz, fiscal implacável, severo e duro para com a sua criação.


Quando li a Bíblia pela primeira vez, impressionei-me com os relatos de destruição e vingança. Devido àquelas primeiras impressões do catecismo, minha atenção se fixava no juízo divino. O dilúvio, por se encontrar logo no princípio da Bíblia, reforçava o meu preconceito de que Deus era implacável.


Um dia o texto de Gênesis 6.6 saltou aos meus olhos e duas expressões a respeito de Deus ali revolucionaram minha vida. “Arrependeu-se” e “cortou-lhe o coração” me revelaram o coração amoroso e paterno de Jeová que não se conformava com a maldade universalizada na criação. O pecado cortou o coração de Deus. Quando decidira soberanamente que nos criaria para nos amar, Deus se fragilizou, expô-se à possibilidade de ser rejeitado. A versão de alguns rabinos para o dilúvio é que depois de insistir por mais de um século, sem que fosse ouvido, para que homens e mulheres percebessem a loucura do pecado, Deus chorou por quarenta dias e quarenta noites e suas lágrimas encheram a terra.


O maior mal do pecado é ferir o coração daquele que nos quer bem. Quando nos rebelamos contra Deus, condenamo-nos à morte e, pior, machucamos profundamente o nosso Pai Eterno. Que seja esta nossa maior motivação para não desejarmos o que é impuro e indigno.


Ricardo Gondim

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A Missão Integral

A proposta da missão integral como agenda ministerial para a Igreja é mais do que evangelismo pessoal e assistência social; é convocação para rendição ao senhorio de Cristo, para perdão dos pecados e recebimento do dom do Espírito Santo.


A Teologia Evangelical – Missão integral, a partir de seu lema “O Evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens”, definido no Congresso Internacional de Evangelização, realizado em 1974, em Lausanne, na Suíça, oferece uma lente através da qual lemos as Escrituras Sagradas em busca de referenciais para a presença do cristão e da comunidade cristã no mundo: “Assim como o Pai me enviou ao mundo, também eu vos envio” ( João 17.18; 20.21). Creio que são pelo menos os referenciais oferecidos pela teologia da missão integral: soteriologia, eclesiologia, missiologia, antropologia e kerigma.


A soteriologia da missão integral é o domínio de Deus, de direito e de fato, sobre todo o universo criado, através daqueles restaurados à imagem de Jesus Cristo – o primogênito dentre muitos irmãos. A salvação é o Reino de Deus em plenitude, onde a vontade do Senhor é realizada ou concretizada em perfeição. A redenção pessoal é apenas uma parcela do que o Novo Testamento chama salvação: o novo céu e a nova terra.


A eclesiologia da missão integral é o novo homem coletivo. Deus não está apenas salvando pessoas; está, principalmente, restaurando a raça humana. Estar em Cristo é não apenas ser nova criatura, mas também e principalmente ser nova humanidade – não mais descendência de Adão, mas de Cristo, o novo homem e homem novo. O caos do universo é fruto da rebeldia da raça humana em relação ao Deus criador; a redenção do universo – fazer convergir todas as coisas em Cristo – é resultado da reconciliação da raça humana com Deus. Deus estava em Cristo reconciliando consigo a humanidade. No cristianismo, a salvação é pessoal, a peregrinação espiritual é comunitária, e nada, absolutamente nada, é individual. A Igreja é a unidade dos redimidos que são transformados de glória em glória pelo Espírito Santo, até que todos cheguem juntos à estatura de ser humano perfeito.


A missiologia da missão integral é a sinalização histórica do Reino de Deus, que será consumado na eternidade. A Igreja, o corpo de Cristo, é o instrumento prioritário através do qual Jesus, o cabeça, exerce seu domínio sobre todas as coisas, no céu, na terra e debaixo da terra, não apenas neste século, mas também no vindouro. A missão da Igreja é manifestar aqui e agora a maior densidade possível do Reino de Deus que será consumado ali e além. O convite ao relacionamento pessoal com Deus é apenas uma parcela da missão. A missão integral implica a ação para que Cristo seja Senhor sobre tudo, todos, em todas as dimensões da existência humana.

A antropologia da missão integral é a unidade indivisível do pó da terra com o fôlego da vida; as dimensões física e espiritual do ser humano. “Corpo sem alma é defunto; alma sem corpo é fantasma”; “Cristo veio não só a alma do mal salvar, também o corpo ressuscitar”. A ação missiológica e pastoral da Igreja afeta a pessoa humana em todas as suas dimensões: biológica, psicológica, espiritual e social – a pessoa inteira em seu contexto, o homem e suas circunstâncias.


O kerigma, evangelização, na missão integral é a proclamação de que Jesus Cristo é o Senhor, seguida da convocação ao arrependimento e à fé, para acesso ao Reino de Deus. A oferta de perdão para os pecados pessoais é o início da peregrinação espiritual, porta de entrada para o relacionamento de submissão radical a Jesus Cristo, a partir do que a pessoa humana e tudo quanto ela produz passam a servir aos interesses do Reino de Deus, existindo e funcionando em alinhamento ao caráter perfeito do Senhor.


A proposta da missão integral como agenda ministerial para a Igreja é mais do que o mix evangelismo pessoal mais assistência social (geralmente como isca ou argumento evengelístico). O referencial da missão integral para a presença do cristão e da comunidade cristã no mundo é mais do que a construção ou multiplicação de igrejas locais, para onde os cristãos se retiram do mundo e passam a exercer funções que a viabilizam – ela, igreja, instituição religiosa – como um fim em si mesmo. A convocação da missão integral é para a rendição ao senhorio de Jesus Cristo, para perdão dos pecados e recebimento do dom do Espírito Santo, a partir do que se passa a integrar um corpo, o corpo de Cristo, ambiente para a experimentação coletiva dos benefícios da cruz. É este corpo o responsável por transbordar tais benefícios ao mundo, como anúncio profético do novo céu e da nova terra. O caminho missiológico e pastoral da missão integral é afetivo – relacional, em detrimento de metodológico –; operacional; comunitário, em detrimento de institucional; devocional, em detrimento de gerencial.


Sob o imperativo de levar o evangelho todo para o homem todo, para todos os homens, de acordo com o consenso de Lausanne, a Igreja é a comunidade da graça. Comunidade terapêutica; agência de transformação social; sinal histórico do Reino de Deus, instrumentalizada pelo Espírito Santo, enquanto serve incondicionalmente a Jesus Cristo, Rei dos reis, Senhor dos senhores, a quem seja glória eternamente, amém.



Ed René Kivitz

Conhece-lo para Anunicia-lo

Por que é necessário conhecer para anunciar?

Por motivos óbvios, em primeiro lugar, não dá para, com um mínimo de propriedade, falar sobre alguém, sem, em alguma medida, conhecê-lo.

Porém, no caso de Jesus Cristo, há uma agravante: o conhecê-lo estabelece a diferença entre a vida e a morte.

E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. (Jo 17.3).

Conhecer Jesus é ter vida eterna. Não conhecê-lo...

O que é conhecer Jesus?

Vamos, primeiro, ver o que conhecer Jesus, não é

João 9. 15 -38

Então, os fariseus, por sua vez, lhe perguntaram como chegara a ver; ao que lhes respondeu: Aplicou lodo aos meus olhos, lavei-me e estou vendo. Por isso, alguns dos fariseus diziam: Esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tamanhos sinais? E houve dissensão entre eles. De novo, perguntaram ao cego: Que dizes tu a respeito dele, visto que te abriu os olhos? Que é profeta, respondeu ele.
Não acreditaram os judeus que ele fora cego e que agora via, enquanto não lhe chamaram os pais e os interrogaram: É este o vosso filho, de quem dizeis que nasceu cego? Como, pois, vê agora?
Então, os pais responderam: Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos como vê agora; ou quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Perguntai a ele, idade tem; falará de si mesmo.
Isto disseram seus pais porque estavam com medo dos judeus; pois estes já haviam assentado que, se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga. Por isso, é que disseram os pais: Ele idade tem, interrogai -o.
Então, chamaram, pela segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. Ele retrucou: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo. Perguntaram-lhe, pois: Que te fez ele? como te abriu os olhos?
Ele lhes respondeu: Já vo-lo disse, e não atendestes; por que quereis ouvir outra vez? Porventura, quereis vós também tornar-vos seus discípulos?
Então, o injuriaram e lhe disseram: Discípulo dele és tu; mas nós somos discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou a Moisés; mas este nem sabemos donde é. Respondeu-lhes o homem: Nisto é de estranhar que vós não saibais donde ele é, e, contudo, me abriu os olhos.
Sabemos que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus e pratica a sua vontade, a este atende. Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito.
Mas eles retrucaram: Tu és nascido todo em pecado e nos ensinas a nós? E o expulsaram.
Ouvindo Jesus que o tinham expulsado, encontrando -o, lhe perguntou: Crês tu no Filho do Homem? Ele respondeu e disse: Quem é, Senhor, para que eu nele creia? E Jesus lhe disse: Já o tens visto, e é o que fala contigo. Então, afirmou ele: Creio, Senhor; e o adorou.

O jovem cego de nascença havia sido curado por Jesus, mas, não o havia visto, uma vez que sua cura se manifestar a no tanque de Siloé, quando, em obediência, lavara o rosto, conforme prescreveu-lhe Cristo.

Daí porque podia contar o que lhe aconteceu, como aconteceu, mas, sobre o seu benfeitor, o máximo que poderia dizer é que era profeta, por causa da portentosidade de seu feito. Para poder declarar que Jesus era o Filho do Homem, que, na sua teologia, significava acreditar que ele era o messias, teve de ter um encontro com Jesus, onde este se apresenta como tal.

Conhecer Jesus não é receber uma benção dele.

Outro texto que corrobora isso é Mt. 16.

[13] Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem?

Jesus tratou muito bem o povo: a ele pregou, alimentou, curou, devolveu muitos dos seus mortos. Foi com o povo que andou e que se confundiu.

A pergunta era, portanto, uma aferição: será que as bençãos ministradas ao povo geraram a compreensão de quem Jesus era?

[14] E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas.

Não se assuste, aqui não tem nada de reencarnação. É que os judeus classificavam um profeta comparando-o com os que o antecederam; era uma espécie de “ranking” de profetas. Colocaram Jesus de Nazaré no primeiro time.

Curioso, ter o povo comparado Jesus com profetas conhecidos pela força de sua palavra e pelo ultimato de seu apelo. Dá para pensar que a mensagem de Cristo não era tão adocicada como muitos pregadores a querem fazer parecer.

A resposta, entretanto, deixou a desejar, conseguiram ver em Jesus um grande profeta, catalogaram-no entre os maiores, porém, não acertaram.

O que ratifica nossa conclusão: receber bençãos, ainda que miraculosas, de Jesus Cristo, não é o mesmo que conhecê-lo.

Continuemos no texto:

[15] Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?

Outra aferição, esta, mais importante: os discípulos conviveram com Jesus, será que acertariam?

[16] Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. [17] Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus.

Esta resposta tem duas partes:

“Tu és o Cristo”, o messias, o salvador vislumbrado pelos patriarcas e anunciado pelos profetas. Certo, porém, incompleto, se parasse por aí: todos criam que o messias seria o maior dos profetas (Dt 18.15), entretanto, um profeta. Pedro, então, teria ido apenas um pouco mais adiante que o povo.

“O filho do Deus vivo”... ele vai mais longe... Revolucionário!

Os teólogos, de então, diziam que Deus era único, logo, não podia ter filho. Por que? Porque se Deus tivesse um filho, este teria de ser um Deus também, então, já não seria um único Deus, mas, dois deuses. Eles não conheciam a doutrina da Trindade, não sabiam que há três pessoas e um só Deus. Pedro disse-o: Jesus de Nazaré é o Cristo e o Cristo é Deus. Resposta completa!

E por que acertou? Porque recebeu uma revelação!

Conhecer Jesus é ter uma revelação sobre quem ele é: Deus Salvador. E essa revelação só o pai dá.

Como disse Jesus: Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer ; e eu o ressuscitarei no último dia (Jo 6.44).

Esse “conhecer” não é mero acúmulo de informação, mas, o ter uma experiência com Deus, pois, “este conhecimento (...) envolve um relacionamento pessoal. O Pai e o Filho se conhecem em amor mútuo, e através do conhecimento de Deus as pessoas são admitidas ao mistério desse amor divino, amando a Deus, sendo amadas por ele e, em resposta, amando umas às outras.”

Sem esse conhecimento, o anúncio de Jesus fica, para dizer o mínimo, incompleto; colocando em risco não só o evangelho, pela mediocrização do mesmo, como o destino de quem recebe esse anúncio, quando chegar o dia da ressurreição.

A alguns, naquele dia, Jesus dirá: Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade (Mt 7.23).

É preciso conhecê-lo para anunciá-lo, de maneira tal que o receptor do anúncio possa realmente ser salvo.

Como a gente sabe se tem esse conhecimento?

Deixe-me contar-lhe a cena de um filme que tem a ver com a afirmação de Pedro: tu é os Cristo, o Filho do Deus vivo:

Franco Zefirelli, cineasta italiano, fez o filme Jesus, que chamou de seu afresco. O filme, originariamente, apresentado em duas partes, tinha, como término de sua primeira parte, cena que procurava retratar o texto que estamos trabalhando: Zefirelli descreve Pedro ajoelhando-se enquanto proferia a declaração em questão e, ato contínuo, os demais discípulos, tomados pelo impacto da afirmação, testemunhando sua concordância, também se ajoelham.

Não sei se foi assim mesmo que aconteceu, porém, indubitavelmente, é a cena que mais se coaduna com a profundidade do que foi dito.

Jesus é mais que um profeta a ser ouvido; mais que um mestre a ser seguido; é Deus a ser adorado. Esse é o conhecimento-experiência, acerca de Jesus, que dá vida eterna (Jo 17.3).

Quem o conhece Jesus o adora, não pelo que ele faz, mas, pelo que ele é.

Esse é Jesus que precisa ser anunciado, por que é esse tipo de conhecimento-experiência com Cristo que salva.

O que é anunciar Jesus?

A primeira vista, essa é pergunta de resposta simples: é contar a experiência que tivemos, o que ela produziu em nós e, então, convidar nosso interlocutor a ter a mesma experiência.

Seria simples se não fosse At 1.8: "mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra."

Responda-me, por que razão, alguém precisaria de poder especial para ter condições de dar testemunho de Jesus Cristo? O jovem, que citamos no começo, liberto da cegueira, por exemplo, não precisou de poder especial para contar o que lhe tinha acontecido, quem tinha feito e como o tinha feito.

Por que nós o precisaríamos?

Porque a Igreja não tem apenas uma mensagem para anunciar, tem uma mensagem para demonstrar:

Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus (Mt 5.16), disse Jesus.

Acho que Jesus de Nazaré foi o primeiro ser humano a trabalhar com o conceito de multimídia, pois, ele queria e quer que ao mesmo tempo que a gente esteja falando dele, a pessoa que nos ouve o esteja observando em nossas vidas, assim como, esteja sentindo no seu coração o calor que as palavras de Cristo produzem, como foi com os discípulos a caminho de Emaús.

Ele quer que a vida, o jeito e os atos da gente sejam as primeiras provas de que ele é quem diz ser.

Para isso é preciso poder , e não pouco: é preciso poder do Espírito Santo.

Anunciar Jesus Cristo é comunicá-lo por vida, palavras e obras.

Qual é expressão prática disso?

É simples:

Primeiro, Missão – a igreja reagindo às demandas que Deus tem para a sociedade.

Marcos 6. 7 -13

Chamou Jesus os doze e passou a enviá-los de dois a dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos imundos. Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, exceto um bordão; nem pão, nem alforje, nem dinheiro; que fossem calçados de sandálias e não usassem duas túnicas.
E recomendou-lhes: Quando entrardes nalguma casa, permanecei aí até vos retirardes do lugar. Se nalgum lugar não vos receberem nem vos ouvirem, ao sairdes dali, sacudi o pó dos pés, em testemunho contra eles.
Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse; expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo.

Quando a igreja sai em missão, segundo o chamado de Jesus Cristo, ela tem algo a mostrar:

O poder que expulsa os espíritos imundos e que liberta os homens.

Tem, também, algo a anunciar: a mensagem que gera o arrependimento e a fé salvadora.

Só a Igreja pode fazer isso.

Sair em missão é sair para enfrentar o mal em todas as suas manifestações: ignorância; opressão espiritual, física e/ou sócio-econômico-política; injustiça; etc.

Para ser eficaz, a igreja deve atentar para a orientação de Jesus Cristo:

Fazê-lo de modo orquestrado a partir da comunidade, tem de haver quem envie, quem estabeleça os parâmetros, quem forneça os meios e quem os receba de volta (Chamou Jesus os doze e passou a enviá-los de dois a dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos imundos.).

Dependência completa de Deus (nem pão, nem alforje, nem sandálias, nem túnica extra);

Desvinculamento da pretensa segurança do mundo (nem dinheiro);

Contextualizar-se ao que a graça comum já operou na sociedade beneficiária do esforço missionário (quando entrardes nalguma casa, permanecei aí até vos retirardes do lugar).

Remissão de toda a glória para Deus (ungindo-os com óleo).

Segundo, Missão – a igreja reagindo às demandas que a sociedade leva a Deus.

Lucas 9. 10 -17

Ao regressarem, os apóstolos relataram a Jesus tudo o que tinham feito. E, levando-os consigo, retirou-se à parte para uma cidade chamada Betsaida.
Mas as multidões, ao saberem, seguiram-no. Acolhendo-as, falava-lhes a respeito do reino de Deus e socorria os que tinham necessidade de cura.
Mas o dia começava a declinar. Então, se aproximaram os doze e lhe disseram: Despede a multidão, para que, indo às aldeias e campos circunvizinhos, se hospedem e achem alimento; pois estamos aqui em lugar deserto.
Ele, porém, lhes disse: Dai-lhes vós mesmos de comer. Responderam eles: Não temos mais que cinco pães e dois peixes, salvo se nós mesmos formos comprar comida para todo este povo.
Porque estavam ali cerca de cinco mil homens. Então, disse aos seus discípulos: Fazei-os sentar-se em grupos de cinqüenta. Eles atenderam, acomodando a todos.
E, tomando os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos para o céu, os abençoou, partiu e deu aos discípulos para que os distribuíssem entre o povo. Todos comeram e se fartaram; e dos pedaços que ainda sobejaram foram recolhidos doze cestos.

Missão. A igreja reagindo às demandas da sociedade. A igreja, para mostrar o que tem, a exemplo de Jesus Cristo, neste trecho, deve ver-se como resposta de Deus para a sociedade.

Jesus Cristo viu-se como resposta de Deus à ignorância espiritual do povo: falava-lhes a respeito do reino de Deus.

Viu-se, também, como resposta de Deus à enfermidade do povo: socorria os que tinham necessidade de cura.

Viu-se como resposta de Deus à fome do povo: E, tomando os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos para o céu, os abençoou, partiu e deu aos discípulos para que os distribuíssem entre o povo.

Todos comeram e se fartaram.

Viu-se como resposta à desorganização e desorientação do povo: Fazei-os sentar-se em grupos de cinqüenta.

Tudo que Jesus Cristo usou para responder as demandas do povo:

A compaixão: acolhendo-as.

Cristo levou seus discípulos para descansar, encontrou as multidões esperando-o, acolheu-as, isto é, assumiu-se como resposta de Deus para a ansiedade do povo.

A igreja, de igual modo, para mostrar o amor do Pai, deve acolher a humanidade, compreendendo a sua condição de carente da glória de Deus (rm 3.23). É uma missão de salvação, não de juízo.

A palavra de Deus: falava-lhes a respeito do reino de Deus.

Carente da glória de Deus, a humanidade tem sido desviada pelos mais diversos enganos. Jesus Cristo ensinou-lhes o caminho que realmente leva a Deus. A igreja tem a resposta para a pergunta dos homens, logo, tem a responsabilidade de respondê-la para fazê-los ver o Pai que quer ser encontrado.

O poder do Espírito Santo: socorria os que tinham necessidade de cura.

Jesus Cristo tinha consciência de que os dons que recebemos são para abençoar os necessitados. A exemplo dos amigos do paralítico (Mc 2), a igreja tem de colocar todos seus recursos para que a cura de Deus seja alcançada, a cura de Deus não comtempla apenas o espiritual, pois, Cristo veio "não só a alma do mal salvar, também o corpo ressuscitar". Dessa forma a igreja mostra o Pai que preocupa-se com o sofrimento humano.

Recursos do próprio povo: Não temos mais que cinco pães e dois peixes. – que um menino cedeu (jo 6.9).

Jesus deixou claro que o problema não são os recursos, há, independente da quantidade. A questão é se eles estão ou não entregues nas mãos de Cristo. Quando a igreja se dispõe a servir, sua preocupação deve ser a de colocar os recursos de que dispõe nas mãos de Deus; e, dessa forma, mostrar o Pai que distribui os recursos para o bem de todos.

O exemplo: Fazei-os sentar-se em grupos de cinqüenta.

Ao dar essa ordem, o Senhor tratou de duas questões: em primeiro lugar criou caminho para que o pão chegasse a todos. Sem que as pessoas fossem dispostas dessa maneira , como os discípulos conseguiriam alcançar a todos com o alimento? Lembre-se, eram cinco mil homens, acrescente mulheres e crianças...é provável que cheguemos a cerca de doze mil pessoas.

Em segundo lugar, Jesus promoveu uma nova forma de organização do povo: quando ele chegou em Betsaida encontrou uma multidão de pessoas se acotovelando; ao propor essa organização, Jesus estava transformando esse amontoado de pessoas numa reunião de cerca de duzentos e quarenta comunidades, compostas de cinqüenta pessoas cada. Além do mais levou-as ao status de companheiros, pois, a palavra companheiros significa aqueles que compartilham do mesmo pão. Essa disposição tinha, em si, um ensino: só em comunidade todas as pessoas podem ser alcançadas e alimentadas.

A igreja, não só deve viver em comunidade, como deve ensinar a humanidade a viver assim – é na comunidade que cada sujeito constrói sua identidade – dessa maneira faz-se conhecido o Deus que está em permanente conselho- o Deus Triúno.

A igreja só alcançará tal eficácia indo onde as pessoas estão, onde a história está acontecendo; envolvendo-se.

Como doze homens conseguem fazer doze mil sentarem-se, a menos que se misturem ao povo e, através do ensino e do exemplo, ministrem o senso comunitário?

A fé que se estriba na gratidão: Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os peixes, quanto queriam (jo 6.11).

Jesus Cristo tomou o pouco alimento que recebeu e, ao invés de pedir um milagre, agradeceu a Deus, o que nos ensina algumas verdades:

Quem sabe agradecer pelo que recebe, ainda que pareça pouco, verá a multiplicação de Deus.

Jesus Cristo confiava no caráter de Deus, porque fé é isso – crer que Deus existe e é galardoador daqueles que o buscam (Hb 11.6) – é como se Cristo dissesse:- “se foi isso o que Deus mandou é porque, com isso, vai dar para fazer uma festa.”

A igreja precisa demonstrar pela gratidão o Deus galardoador dos que o buscam. E pelo compartilhamento o Deus abençoador e solidário.

Com tais práticas a igreja produz obras que não podem ser explicadas a não ser como fruto da ação divina.

Onde temos de anunciar Jesus: tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da Terra.

Ou seja, em todo o lugar do mundo.

Quando: tanto, como.

Ou seja, agora e ao mesmo tempo.

Missão é assim: quem não é chamado a atravessar fronteiras, é chamado a anunciar em sua Jerusalém. Quem não chamado a ir para além fronteiras é chamado a enviar missionários, que significa interceder por eles e sustentá-los financeira e emocionalmente.

E isso irmãos, conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor e anunciemo-lo a tempo e fora de tempo.


Ariovaldo Ramos

Fé Radical

Numa fábula árabe as mariposas queriam entender sobre a luz. Elas desejavam saber o segredo de se sentirem tão fascinadas pela chama de uma vela. O que as deslumbrava? Seria a luz ou o calor? Pediram a ajuda da mariposa rainha. Depois de meditar sobre o assunto, ela aconselhou que cada uma, individualmente, procurasse encontrar a resposta. Todas saíram procurando desvendar o segredo do fogo.

Passado algum tempo, uma mariposa voltou cega de um olho, afirmando que havia chegado perto demais e que a luminosidade da vela lhe tinha ofuscado; e que continuava sem entender os mistérios da luz. Outra voltou com uma asa queimada, reconhecendo que sua experiência não fora satisfatória. Por séculos as mariposas não entenderam porque a luz lhes extasiava tanto. Até que um dia uma voou na direção de uma lamparina com tanta determinação que morreu queimada. Nesse dia a mariposa rainha falou: “somente esta mariposa conheceu o mistério do fogo, mas nós nunca saberemos”.

A experiência com Deus é muito semelhante a essa fábula. É um encontro com o transcendente que não pode ser contido na dimensão do saber empírico. Ninguém aprende sobre o eterno valendo-se das mesmas ferramentas experimentais de um cientista. Portanto, estão errados os ateus que buscam na exatidão matemática ou na pesquisa astronômica os meios de provar a existência de Deus. Estão também errados os teólogos que tentam responder as acusações dos ateus com “argumentos ainda mais sólidos” sobre a realidade divina.

A experiência com Deus é espiritual, portanto, mulheres e homens naturais não conseguem alcançar ou discernir. O crente ouve uma voz inaudível, sente-se acompanhado por uma presença imperceptível e aprende verdades inaprendíveis. Infelizmente, o ocidente iluminista, positivista, acredita poder abraçar as verdades espirituais com as mesmas ferramentas que usa para estudar química e biologia. Quando Jesus afirmou que suas ovelhas ouvem a sua voz, ele não se referia à audição física, mas a uma intuição espiritual que precisa ser desenvolvida como uma sensibilidade imaterial.

A experiência com Deus é sempre inédita. E cada encontro com Deus será original, nunca previsível. As religiões, com seus ritos, procuram domesticar o sagrado, mas Deus não se permite engaiolar por qualquer liturgia. Não existe uma rede grande o suficiente que prenda o Todo-Poderoso, que é livre para agir como e quando quer.

Em diversas ocasiões Deus manifestou sua presença com um vazio imenso. Em outras, “as abas de suas vestes enchiam o templo”. Ele sempre frustrou magos e feiticeiros que prometiam controlar seus atos. Os verdadeiros profetas sabiam que Deus não se deixa manietar por qualquer amarra.

A experiência com Deus é sempre pessoal, intransferível. A maneira como cada um entende e percebe o Senhor é única. Por isso, ele é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Ele é o Deus que se relaciona com cada pessoa com absoluto respeito à sua individualidade. O Senhor conhece as pessoas pelo nome e se manifesta com total respeito à história de cada um.

Sendo assim, a experiência com Deus requer radicalidade. Para percebê-lo é preciso um vôo tão profundo e radical como o da mariposa que morreu. Conhecer a Deus é mergulhar no mistério, mesmo que isso custe a própria existência. Os que tangenciam a flama com curiosidade nunca aprenderão sobre o divino.

Na Índia, contam que um mestre meditava à beira do rio. Um discípulo aproximou-se pedindo ajuda, pois não conseguia ter um encontro significativo com Deus em seus exercícios espirituais. O mestre tomou o jovem pela mão, levou-o até o rio e o forçou a ficar debaixo d’água, segurando-o pelo cabelo. Depois que deixou o rapaz quase três minutos sem fôlego, puxou-o de volta para que, desesperado buscasse pelo ar. O mestre então lhe ensinou: “se você buscar a Deus com a mesma intensidade como procurou o oxigênio que lhe dá vida, certamente, o achará”. A Bíblia promete que acharemos o Senhor “quando o buscarmos de todo o coração”.

Assim, quando cada um procura conhecer a Deus e se entrega com radicalidade a essa busca, descobre a razão última da vida.


Ricardo Gondim

O Amor de Deus não é Incondicional

É um equívoco dizer que o amor de Deus é incondicional, para que seja assim o amor de Deus deveria cumprir duas condições que, a meu ver, estão implícitas no termo incondicionalidade: a não necessidade de pré-requisito e a não expectativa de reciprocidade. Vejamos:

A- "Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro." I Jo 4.19 (RC)

Deus não ama incondicionalmente: Deus ama para ser amado. Deus espera que seu amor por nós desperte amor por Ele. Se Deus amasse incondicionalmente a salvação teria de ser universal.

Incondicionalidade significa não exigir nenhum pré-requisito e não esperar nenhum tipo de resposta. Não é o caso: Deus espera ser amado. Logo, antes de ser incondicional, o amor de Deus atua para criar em nós condições de amá-lo. Não é incondicional porque dos dois fatores que demarcam a incondicionalidade: a ausência de pré-requisito e o não aguardo de resposta - o amor de Deus contempla apenas o primeiro. O amor de Deus não exige pré-requisito: "Mas Deus mostrou-nos até que ponto nos ama, pois, quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós." (Rm 5.8 - SBP) O amor de Deus, entretanto, exige uma resposta: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (Jo 3.16 – RA) – Deus ama ao mundo, mas só salva àquele que responde ao seu amor.

B- "O amor de Cristo absorve-nos completamente, pois sabemos que se ele morreu por todos, então todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem já não vivam para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou." 2Co 2.14,15 (SBP)

O amor sacrificial de Cristo é suficiente para salvar a todos, mas, é eficaz aos que, conscientes desse amor, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. O amor de Cristo espera gerar conversão, para que haja salvação.

C- "Nós sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, dos que são chamados segundo o seu plano." Rm 8.28 (SBP)

Deus é soberano, mas se responsabiliza pela história daqueles que o amam; o caminho dos ímpios, porém, perecerá (Sl 1.6). Deus garante que interferirá na história para que esta seja benéfica para os que o amam, contudo, deixará que os ímpios sigam livremente o seu curso, o que terminará em perdição. E, ímpios são os que não respondem ao amor de Deus.

D- "Foi antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de deixar este mundo para ir para o Pai. E ele, que amou sempre os seus que estavam no mundo, quis dar-lhes provas desse amor até ao fim. (...) Levantou-se então da mesa, tirou a capa e pegou numa toalha que pôs à cintura. Depois deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha. (...) Se eu, que sou Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também de agora em diante devem lavar os pés uns aos outros." Jo 13. 1, 4, 5, 14 (SBP)

Mesmo o ato mais amoroso e aparentemente incondicional de Cristo tinha um propósito: provocar conversão em seus discípulos, de modo que o imitassem. Não era, portanto, uma demonstração da incondicionalidade de seu amor, mas um ato pedagógico visando um fim específico. Deus ama primeiro, porém não incondicionalmente, ele espera uma resposta.

E- "E diz também: Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer e se tem sede dá-lhe de beber. Ao fazeres isso, farás com que a cara lhe arda de vergonha." Rm 12.20 (SBP)

Mesmo o amor com que Deus manda que amemos não é incondicional, espera uma resposta. Ainda que a gente não deva parar de amar por motivo nenhum: "E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido." Gl 6.9 (RA) – a gente, também, não pode perder a esperança de alcançar a resposta desejada.

F- "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força." Dt 6.4,5

Deus espera ser amado, porque esta é a única maneira adequada de relacionar-se com Deus na beleza de sua exclusividade, de sua santidade: amá-lo acima de todas as coisas – o que significa sempre escolher a Deus, não importa quão tentadora seja a possibilidade oferecida; quem ama a Deus acima de todas as coisas só escolhe o que Deus escolheria, porque sempre escolhe a Deus.

G- "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou." Jo 14.21,24 (RA) "Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou." 1Jo 2.4-6 (RA)

Quem ama a Deus? Aquele que o obedece. O que acontece com aquele que obedece a Deus? O amor de Deus é nele aperfeiçoado, isto é, nele o amor que saiu de Deus consegue cumprir a missão para a qual saiu. Deus ama para ser obedecido! Quem não obedece a Deus como resposta ao seu amor, não só não o ama como nem o conhece de fato; logo, não pode nele permanecer, até porque nem está nele.

H- "Nem todos aqueles que me dizem: ‘Senhor, Senhor!’ entrarão no reino dos céus, mas apenas os que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus." Mt 7.21 (RA)

Os que não obedecem a Deus não serão salvos, não porque a salvação seja pelas obras, mas porque a graça de Deus, que em nós foi derramada, nos torna filhos da obediência, prontos para as boas obras e para andar de modo digno do chamado que recebemos; porque, pela graça, somos fortalecidos com poder no homem interior, podendo, assim, ser imitadores de Deus, como filhos amados, como nos ensina o apóstolo Paulo, na carta aos efésios.

Então, quem peca não é salvo? Para os que caem em pecado há uma palavra de obediência que, em sendo cumprida, demonstra que eles, ainda amam ao Senhor, embora, por um momento, o tenham desonrado: "Mas se confessarmos os nossos pecados, Deus que é fiel e justo perdoará os nossos pecados e nos purificará de todo o mal." I Jo 1.9 (SBP). Há uma ordem clara para todo o que, se dizendo filho de Deus, cai em pecado: arrepender-se. A ordem é não pecar, contudo, disse João: "Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo." I Jo 2.1 (RA). É preciso, entretanto, ter sempre em mente a palavra do apóstolo: "Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus." I Jo 3.4,8 (RA)

O amor de Deus não é incondicional, Deus ama para ser obedecido.

Tudo, na Bíblia, parece dizer que Deus não deixa de amar porque não houve resposta ao seu amor, entretanto, também não deixa de esperar que essa resposta venha. E se ela não vier, apesar de todo o amor que dispensa às suas criaturas, executará o juízo.


Ariovaldo Ramos

A Velha e a Nova Cruz

Sem fazer-se anunciar e quase despercebida uma nova cruz introduziu-se nos círculos evangélicos dos tempos modernos. Ela se parece com a velha cruz, mas é diferente; as semelhanças são superficiais; as diferenças, fundamentais.

Uma nova filosofia brotou desta nova cruz com respeito à vida cristã, e desta nova filosofia surgiu uma nova técnica evangélica – um novo tipo de reunião e uma nova espécie de pregação. Este novo evangelismo emprega a mesma linguagem que o velho, mas o seu conteúdo não é o mesmo e sua ênfase difere da anterior.

A velha cruz não fazia aliança com o mundo. Para a carne orgulhosa de Adão ela significava o fim da jornada, executando a sentença imposta pela lei do Sinai. A nova cruz não se opõe à raça humana; pelo contrário, é sua amiga íntima e, se compreendermos bem, considera-a uma fonte de divertimento e gozo inocente. Ela deixa Adão viver sem qualquer interferência. Sua motivação na vida não se modifica; ela continua vivendo para seu próprio prazer, só que agora se deleita em entoar coros e a assistir filmes religiosos em lugar de cantar canções obcenas e tomar bebidas fortes. A ênfase continua sendo o prazer, embora a diversão se situe agora num plano moral mais elevado, caso não o seja intelectualmente.

A nova cruz encoraja uma abordagem evangelística nova e por completo diferente. O evangelista não exige a renúncia da velha vida antes que a nova possa ser recebida. Ele não prega contrastes mas semelhanças. Busca a chave para o interesse do público, mostranto que o cristianismo não faz exigências desagradáveis; mas, pelo contário, oferece a mesma coisa que o mundo, somente num plano superior. O que quer que o mundo pecador esteja idolizando no momento é mostrado como sendo exatamente aquilo que o evangelho oferece, sendo que o produto religioso é melhor.

A nova cruz não mata o pecador, mas dá-lhe nova direção. Ela o faz engrenar em um modo de vida mais limpo e agradável, resguardando o seu respeito próprio. Para o arrogante ela diz: "Venha e mostre-se arrogante a favor de Cristo"; e declara ao egoísta: "Venha e vanglorie-se no Senhor". Para o que busca emoções, chama: "Venha e goze da emoção da fraternidade cristã". A mensagem de Cristo é manipulada na direção da moda corrente a fim de torná-la aceitável ao público.

A filosofia por trás disso pode ser sincera, mas na sua sinceridade não impede qe seja falsa. É falsa por ser cega, interpretando erradamente todo o significado da cruz.

A velha cruz é um símbolo da morte. Ela representa o fim repentino e violento de um ser humano. O homem, na época romana, que tomou a sua cruz e seguiu pela estrada já se despedira de seus amigos. Ele não mais voltaria. estava indo para seu fim. A cruz não fazia acordos, não modificava nem poupava nada; ela acabava completamente com o homem, de uma vez por todas. Não tentava manter bons termos com sua vítima. Golpeava-a cruel e duramente e quando terminava seu trabalho o homem já não existia.

A raça de Adão está sob sentença de morte. Não existe comutação de pena nem fuga. Deus não pode aprovar qualquer dos frutos do pecado, por mais inocentes ou belos que pareçam aos olhos humanos. Deus resgata o indivíduo, liquidando-o e depois ressucitando-o em novidade de vida.

O evangelismo que traça paralelos amigáveis entre os caminhos de Deus e os do homem é falso em relação à bíblia e cruel para a alma de seus ouvintes. A fé manifestada por Cristo não tem paralelo humano, ela divide o mundo. Ao nos aproximarmos de Cristo não elevamos nossa vida a um plano mais alto; mas a deixamos na cruz. A semente de trigo deve cair no solo e morrer.

Nós, os que pregamos o evangelho, não devemos julgar-nos agentes ou relações públicas enviados para estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. Não devemos imaginar que fomos comissionados para tornar Cristo aceitável aos homens de negócio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não somos diplomatas mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo mas um ultimato.

Deus oferece vida, embora não se trate de um aperfeiçoamento da velha vida. A vida por Ele oferecida é um resultado da morte. Ela permanece sempre do outro lado da cruz. Quem quiser possuí-la deve passar pelo castigo. É preciso que repudie a si mesmo e concorde com a justa sentença de Deus contra ele.

O que isto significa para o indivíduo, o homem condenado quer encontrar vida em Cristo Jesus? Como esta teologia pode ser traduzida em termos de vida? É muito simples, ele deve arrepender-se e crer. Deve esquecer-se de seus pecados e depois esquecer-se de si mesmo. Ele não deve encobrir nada, defender nada, nem perdoar nada. Não deve procurar fazer acordos com Deus, mas inclinar a cabeça diante do golpe do desagrado severo de Deus e reconhecer que merece a morte.

Feito isto, ele deve contemplar com sincera confiança o salvador ressurreto e receber dEle vida, novo nascimento, purificação e poder. A cruz que terminou a vida terrena de Jesus põe agora um fim no pecador; e o poder que levantou Cristo dentre os mortos agora o levanta para uma nova vida com Cristo.

Para quem quer que deseje fazer objeções a este conceito ou considerá-lo apenas como um aspecto estreito e particular da verdade, quero afirmar que Deus colocou o seu selo de aprovação sobre esta mensagem desde os dias de Paulo até hoje. Quer declarado ou não nessas exatas palavras, este foi o conteúdo de toda pregação que trouxe vida e poder ao mundo através dos séculos. Os místicos, os reformadores, os revivalistas, colocaram aí a sua ênfase, e sinais, prodígios e poderosas operações do Espírito Santo deram testemunho da operação divina.

Ousaremos nós, os herdeiros de tal legado de poder, manipular a verdade? Ousaremos nós com nossos lápis grossos apagar as linhas do desenho ou alterar o padrão que nos foi mostrado no Monte? Que Deus não permita! Vamos pregar a velha cruz e conhecermos o velho poder.


A. W. Tozer
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